Após revelações bombásticas no arranque da semana, em Sofala, relativamente ao branqueamento de capitais em prol do terrorismo, em Cabo Delgado, o presidente Filipe Nyusi não desarma. Nyusi não vê o terrorismo, em Cabo Delgado, obra do acaso, por se tratar de uma estratégia encontrada para suplantar as anteriores que foram sendo sucessivamente relegadas ao fracasso, tais como manifestações, sempre com a intenção de desestabilizar a Frelimo, partido que tem sido o sustentáculo dos governos em Moçambique.
Recua no tempo e fixa-se no 5 de outubro de 2017, numa madrugada marcada pela primeira invasão armada protagonizada por um grupo à vila municipal de Mocímboa da Praia. A incursão aconteceu no dia seguinte ao Dia da Paz, em homenagem a Assinatura dos Acordos Gerais de Paz, em Roma, Itália, no ano de 19- 92.
Mas Nyusi faz outra leitura, lembrando que a invasão, entretanto repelida por uma força policial especial, coincidiu com o término do Congresso da Frelimo, precisamente para contrapôr os ideais frelimistas.
No início de agosto, o presente agosto, durante o lançamento do Programa de Aceleração Económica (PAE), trampolim para estancar e minimizar o impacto do alto custo de vida dos moçambicanos, nesse dia, dizíamos, o Chefe do Estado fez referência a forças ocultas que pretendem recolonizar Moçambique, para isso recorrendo às mais variadas estratégias.
Esta quarta-feira, Nyusi quebrou parte do gelo, anotando tratar-se de indivíduos que sendo frelimistas, estão de tal modo descontentes que almejam uma nova Frelimo.
E estabelece paralelismo entre estes e o extremismo violento, em Cabo Delgado.
Há quase cinco anos, quando a violência eclodiu no norte da província, Afonso Dhlakama (Deus o tenha), disse publicamente que tratava-se de indivíduos ligados à Frelimo em confrontação, dentro do partido. Ora, Nyusi acaba de confirmar os pronunciamentos de Dhlakama feitos naquela época.
Entretanto, o Chefe do Estado vê melhorias na guerra, como controlada, com relatos animadores sobre o retorno da paz.
Numa outra análise, Filipe Nyusi, falando ontem aos militantes da Frelimo, recomenda que se separem as águas, uma vez que nem todos aqueles que “berram” podem ser considerados inimigos a abater (termo nosso), sob o risco de se perder um militante valioso.
Fala de uma estrutura partidária contínua, o que não significa rigorosamente a manutenção de indivíduos sem relevância para o partido, do ponto de vista de desempenho.
Insiste nas forças inimigas (internas) ávidas em substituir a Frelimo por uma nova Frelimo.
Nos primórdios de agosto, diante dos empresários, Filipe Nyusi fez referência específica a forças estrangeiras, as mesmas que podem estar em complot com nacionais acoplados ao partido. Uma coisa é certa, Filipe Nyusi entende que Moçambique não vai ser recolonizado.
EXPRESSO – 25.08.2022
NOTA: Não será bem assim. Note-se que todos os indivíduos que se opõem à Frelimo já lá estiveram, como Afonso Dhlakama. Mas pode-se concluir que Filipe Nyusi confirma estar o seu partido, de certa forma, em desagregação.
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE