ten-coronel Manuel Bernardo Gondola
Porquê estamos tão divididos? Porquê à medida que a civilização avança a sociedade parece fragmentar-se mais e mais?
Nós, seres humanos somos por natureza tribais e tendemos a adoptar conglomerados de ideias e circunscrever-nos a padrões pré-determinados de pensamento as chamadas ideologias que inevitavelmente geram tensões com outros grupos, nos últimos anos este tribalismo está adoptando timbres mais hostis, cruéis e vingativos ao nível 'psicológico', destarte quanto mais modernas se tornam as nossas sociedades mais divisões sociais, mais ódio ao diferente.
O que está sucedendo exactamente?
Nesta carta, vou tentar explorar as raízes 'psicológicas e filosóficas' deste fenómeno, de depois vou mostrar para você[s] como os meios de comunicação social estão fabricando uma manipulação que incendeia nossa tendência natural pela divisão ideológica e porquê o fazem, que objectivos perseguem e, por último o que podemos fazer como indivíduos para sair dessa 'psicose' colectiva e restaurar o tecido social.
Segundo Nietzsche, os seres humanos podem dividir-se em dois grandes grupos e da dicotomia moral que estes grupos representam é a base de todo esquema de pensamento ocidental.
Por um lado, estão os indivíduos que têm o que ele chamou da 'moral del amo' [moral de mestre]. Se trata de indivíduos fortes e valentes; indivíduos resilientes que amam a vida e estão profundamente conectados com ela. Tem fé e si mesmos, se encantam com a ventura, assumem riscos, são estruturados e muito disciplinados, regozijam-se pela criatividade, tem entusiasmo por crescer e desenvolver os seus dons e talentos, não tem medo de dizer o que pensam e, vivem guiados por um sentido de um propósito vital.
Para eles, “o mal é todo aquilo que debilita o indivíduo e diminui seu impulso vital” como por exemplo; o pavor, o vício pela comodidade, segurança ou a cobardia.
O outro grupo, porém, tem o que ele chamou uma 'moral de escravo'. Se trata de indivíduos débeis que se sentem intimidadas pelo mundo, tropeçam com facilidade e tem uma marcada tendência à guerra e vitimização. Como crêem que não tem o necessário para enfrentar os desafios e perigos que tem a vida se deixam amedrontar e como não se sentem capazes de obter o que querem na vida se sentem-se frustrados e caem na passividade, na preguiça e na indiferença.
Os indivíduos do primeiro grupo, não aspiram em adquirir as qualidades do segundo, mas, os indivíduos com uma 'moral de escravo' sim; estes indivíduos desejariam acima de tudo ter essa coragem, essa paixão, esse espírito aventureiro, esse não deixar-se amedrontar pelo medo e pelas lutas, essa capacidade para assumir riscos. Mas, sentem pânico pela simples ideia de deixarem de ser o quem são, é assim que se envolvem em inveja dos que tem essa coragem.
E, segundo Nietzsche, surgem no seu seio 'ressentiment'; um termo introduzido por Soren Kierkegaard, para descrever um tipo de ressentimento um pouco mais amargo, hostil e vingativo. É o 'ressentiment' , um atributo central da 'moral do escravo' que surge como reacção ao desejo frustrado de ser forte, é um estado 'psico-emocional' dirigido a si mesmo, a todos aqueles indivíduos que alcançaram o 'status' que eles não se creiam capazes de alcançar. E a razão, porque surge, tem pleno sentido 'biológico' é que, se trata de um mecanismo que nos permite justificar nossas próprias debilidades.
Na verdade, este ressentimento invade a consciência humana com o objectivo de esconder esse complexo de inferioridade que poderia levar-nos a odiarmo-nos a nós mesmos por sermos tão cobardes e tão débeis.
Para evitar este sentimentos, tão humilhantes, dolorosos e pouco adaptativos nossa 'estrutura psíquica' busca o equilíbrio redirigindo o ódio a si mesmo e a outras pessoas, que nos permita libertar nossa exaustão para alcançar algo para si, racionaliza nossa própria debilidade elevando os defeitos em segurança que tanto são frequentes à categoria de virtude e condenando os valores e as qualidades dos indivíduos aquém dirigimos nossos ressentimentos. Assim, nós somos os bons da fita e os outros não! Logo, todo o que você considerar de bom, eu direi que é mau, todo que eles venerarem, eu terei que contestar.
Uma vez adoptado este relacionamento causal, todos os 'ataques' contra os membros infames da sociedade se podem vender como intentos moralmente justificados de fazer justiça, já não são patéticas manifestações de inveja e ressentimento, se não, actos de justiça social. Logo, criasse a ilusão de um inimigo que seria a causa que se pode culpar da nossa 'incapacidade' de modo que, a frustração já não é a responsabilidade nossa se não que se deve a um mal externo.
Este tribalismo faz parte da natureza humana, tal qual, a nossa tendência à perpetuarmos nossas crenças, nossos sistemas de pensamentos e nosso sistema moral. Portanto, actualmente esta realidade 'psico-biológica' está sendo explorado por parte de agentes externos que se beneficiam capitalizando o ódio entre os grupos. Futuramente, abordarei extensamente sobres as principais 'técnicas de manipulação e controlo mental' que o poder exerce sobre as massas. Hoje, vou focar-me no ponto central que quero abordar: a glorificação de ressentimento.
Segundo Aristóteles, «a indignação é sentir ira ao ver a prosperidade e bem-estar de quem sentimos que não lhe merece». Entre a inveja é sentir quando vemos a felicidade de outra[s] pessoa[s]. E, de alguma forma todos estamos de acordo que a indignação é algo justificado, mas a inveja e o ressentimento não! Entre a indignação, a catalogamos como algo normal, sabemos que a inveja é pérfida.
Não há nada independentemente da sua 'inclinação ideológica' que te faça um invejoso e, isto é consensual por parte de todos os grupos, porque se trata de algo transcendental que permeia os princípios éticos humanos, tal como Aristóteles e Nietzsche anteciparam. Se você é o bom, aqueles que não são como você, são maus.
Porque, quem não cré o que tu crés, não defende o que defendes, não pensa o que tu pensas, e não actua como tu actuas, não é um indivíduo distinto a ti, é um indivíduo crue; esta já tem carta-branca para odiar o[s] distinto[s]; algo que não crê em sua ideologia política ou o que não vê conflito racial em cada esquina…
Agora, tem justificações morais para teu ódio, porque não está dirigindo a opressores que merecem isso e muito mais. O teu ódio é fruto da sua bondade, tua preocupação pela igualdade, tua defesa pelos direitos humanos e teu impulso por salvar o mundo. O
poder de seus lacaios que conhece perfeitamente as ecologias de Santimon e como usá-la para manipular as massas sem nem focar ai,
Eles, desfiguraram os valores tradicionais; as ideias do bem e do mal que mantinham a nossa coesão e geravam consensos a cerca de certos comportamentos indesejáveis de forma que, agora já podemos despedaçar o distinto, pois sentimos que nós guiamo-nos pela nossa bondade e nobreza.
Hora, esta degradação moral regenera [n] uma divisão social que entrega de bandeja o poder a oligarquia governante, porque não é uma forma mais eficaz de instaurar autocracia que divide a população em 'multi-tu', de pequenos grupos e fomenta que a única resposta possível entre estas tribos é a hostilidade.
Há teses, que te querem 'inocular', entre os que defendem a guerra tribal, e descartes por completo a ideia de que, melhorar como indivíduo aumentará teu bem-estar. Desiste de qualquer intento ou você melhora e danos todo o poder a nós governantes para que possamos lutar pela tua nobre causa. Nietzsche dizia que: «se nossa sociedade continuar avançando no caminho traçado pelos demagogos, que usam a retórica do rancor, chegaremos a um ponto em que, as pessoas ficarão tão ressentidas com os outros que mesmo aqueles que conseguiram ser felizes começarão a questionar se têm direito de ser feliz em um mundo onde tudo ao seu redor é miséria, conflito e imoralismo.»
Que podemos fazer para escaparmos dessa manipulação, [d]esta[s] 'psicose[s]' fabricada[s] e restaurar o tecido social? A resposta está no indivíduo; em mim que estou escrevendo esta carta, e em ti que está lendo. A tendência social é sempre um reflexo das impulsões individuais; as resoluções de conflitos sociais requerem resolução de conflito no interior de cada indivíduo. Em seu livro «Beyond Order», Jordan B.Peterson, disse o seguinte: «você é rancoroso por causa do absolutamente desconhecido e seus horrores, porque a natureza conspira contra você, porque você é vítima do aspecto negativo da cultura e por causa do mal que está em você e nas outras pessoas. Isso é motivo suficiente. Não justifica seu rancor, mas não há dúvida de que torna compreensível a emoção.
A própria natureza está empenhada em deixá-lo triste de um milhão de maneiras, cada uma mais horrível. Depois, há o elemento tirânico da estrutura social que o moldou, batendo em você para que você se encaixe onde não pertence. Você poderia ter sido muitas coisas. Mas o dever da existência diminuiu e reduziu você. E os outros têm que viver com você, e isso é tão fácil para nós. Você deixa as coisas para depois, é preguiçoso, mente e faz coisas estúpidas contra si mesmo e contra os outros. Claro que você se sente uma vítima, com tudo que é conjurado contra você: o caos, a força bruta da natureza, a tirania da cultura e o mal de sua própria natureza. A esperança é que, você se comporte de uma maneira que a balança se incline a seu favor. É tudo o que temos; e é muito melhor do que nada. Se você enfrentar o sofrimento e o mal com honestidade e coragem, você se tornará mais forte, sua família se tornará mais forte e o mundo se tornará um lugar melhor. A alternativa é o rancor, que contagia tudo». Que podes fazer para que esta balança se incline a teu favor? Pequenas melhoras e pequenas renúncias; não vai ser agradável e possivelmente será humilhante, porque não quererás ver uma verdade tão dolorosa. De repente, o inimigo já não está fora, essa brutal honestidade com que nos olhamos nos permite ver, que o inimigo é a maldade que habita nos nossos corações, o eterno adversário da humanidade que nos mente, nos divide…um bem supremo que não podemos compreender. O peso da existência é real para todos; todos fomos feridos, 'decepcionados', sofremos ao ponto de que, já não temos mais esperança, “nem queremos esta merda” caímos num niilismo a ponto de sentirmos que é melhor não nos iludirmos com nada para não termos que passar por um inferno de vermos um outro sonho mais distante, além disso, nosso cinismo nos terá levado a deixarmo-nos corromper pela inveja e ódio entre nos, julgarmos a ser moralmente superiores. Talvez haja uma saída para esse engano, talvez, somente talvez, se olharmos para dentro de nós seja um bom começo. .
Manuel Bernardo Gondola
Em Maputo, aos [07] de Agosto, 20[22]