Por Edwin Hounnou
Os nossos políticos querem ser servidos. Isso de andar a dizer que o político tem a missão de servir a comunidade, é uma mentira. Quando descem às bases, vão de mãos vazias e regressam com bens como produtos agrícolas como sacos de milho, mapira, mandioca, batata-reno, banana e, por vezes, massa esparguete, farinha de milho, cabritos, ovelhas e bovinos. Alguns coleccionam animais que transferem para as suas zonas de origem, oferecidos pela população. A 10 deste Agosto, vimos, nas redes sociais, um peditório da Administração Distrital de Mandhlakazi, a solicitar a uma estância turística para oferecer acomodação, matabicho, almoço e jantar à comitiva do Secretário de Estado na Província de Gaza, composta de 50 pessoas. Isso é calote. É extorsão. É roubo. É intimidação aos operadores económicos. É um claro abuso de poder.
A visita de um dirigente à base é uma oportunidade para o operador económico angariar alguma renda, porém, ao invés de pagar os serviços, querem quartos, comida de graça. A deslocação dos funcionários do Estado acontece depois de receberem o PRDM - dinheiro que o funcionário do Estado recebe para custear a sua acomodação e alimentação por cada dia que estiver fora do seu local habitual de trabalho. O Secretário de Estado na Província de Gaza e os seus 41 acompanhantes receberam o seu PRDM para o alojamento e alimentação enquanto estiverem de serviço fora dos seus locais de trabalho. O pedido do administrador é uma tentativa para ficar bem perante o chefe, ser considerado bom camarada, dinâmico que os culambistas do regime tanto gostam.
Essa postura do administrador não é nova no modus operandi dos políticos da nossa terra que acham que as populações que visitam têm a obrigação de lhes oferecer alguma coisa como recompensa. Como o mau exemplo de cima, os pequenos voltam dos distritos sobrecarregados de produtos oferecidos por camponeses e outros visitados.
O administrador, governador, secretário de estado ou o Presidente da República não fazem nenhum favor para merecer prendas. Eles ganham pelo trabalho que fazem. Não precisam de nenhuma recompensa extra. Têm salários, PRMD, viaturas abastecidas de combustível por dinheiro dos nossos impostos. Qualquer tentativa de oferecer um bem, nem que seja um frango ou uma maçaroca deve ser evitado. Alguns podem dizer que se trata de um acto voluntário, mas isso nunca foi da vontade espontânea dos visitados. Há sempre um “alinhado" que começa e os demais vão na onda porque se ficam indiferentes podem ser tomados por um “não dos nossos", o que deixa muita gente com medo. É um perigo estar desalinhado e no campo é terrível não pertencer ao rebanho. Ninguém fica menos digno quando não receber nada dos visitados. Ninguém perde a sua dignidade quando não volta sobrecarregado de ofertas.
O Presidente da República não tem que andar a receber bens dos camponeses, como era há bem pouco tempo em que as viaturas da comitiva presidencial voltavam das presidências carregadas de ofertas. O mesmo acontecia ou ainda acontece com governadores. Havia governadores que ficaram com centenas de animais oferecidos pelas comunidades. Os técnicos que se opusessem à espoliação tiveram que ir para cadeia. Denunciamos este tipo de roubo num dos jornais da praça e foram soltos como delinquentes. Houve um caso que, para além da nossa pena, tivemos o apoio dos microfones da Assembleia da República que soaram bem alto para um médico veterinário fosse solto da cadeia, em Tete, detido por se opor a desmandos.
Apelamos ao Presidente da República para instruir, sem mais delongas, aos governadores e secretários de estado para abandonarem a prática de extorsão e de estender a mão aos operadores económicos. Os governadores e secretários de estado quando não tiverem dinheiro que os p independentes nas suas deslocações para evitarem sair em serviço. Como o governo central pede apoios a parceiros de cooperação para qualquer actividade nem que seja para abrir uma latrina, os governadores e secretários de estado seguem o exemplo, sobrecarregando os operadores económicos. É peditório em cascata. É a nossa maneira de ser e estar.
O Presidente Filipe Nyusi que mande parar a extorsão, por ser uma forma de corrupção! O governo não pode passar por vergonha de mendigar alojamento e alimentação aos operadores económicos, como modo de economizar o dinheiro de ajuda de custo. Chulos e caloteiros devem ser barrados!
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 31.08.2022