Uma segurança que tarda a chegar
Os ataques atribuídos a grupos armados inspirados no extremismo islâmico não param. Nos últimos dias, ataques foram relatados em algumas aldeias dos distritos de Palma, Mocímboa da Praia, Muidumbe e Nangade, todos na zona norte, e Macomia, na região centro de Cabo Delgado, foram atacadas.
Não são só aldeias a sofrer ataques de grupos armados, mas também posições das Forças de Defesa e Segurança, o que demonstra o regresso de alguma ousadia na acção dos grupos atacantes que, ao longo de todo o segundo semestre de 2021, não se registava.
Relatos a que o mediaFAX teve acesso apontam para ataques às aldeias de Mandela [duas vezes nos últimos dias], no distrito de Muidumbe; Litandacua e Nguida, em Macomia; Nhica do Rovuma, em Palma; Litingina, em Nangade, e ainda numa zona próxima à sede distrital de Mocímboa da Praia. Em Nangade e Mocímboa da Praia, os ataques foram contra posições das Forças de Defesa e Segurança e de forças conjuntas [Moçambique/Ruanda].
Nas restantes aldeias, os ataques incidiram sobre a população civil, tendo os insurgentes conseguido dispersar as pessoas, havendo também registo de fatalidades. Outras ainda foram capturadas e levadas para locais incertos, além da destruição de casas e pilhagem de mantimentos que a população tinha conseguido colher da machamba.
Na aldeia Mandela, em Muidumbe, a população que tentava reconstruir as suas vidas foi obrigada a voltar a pegar no que conseguiu e fugir em direcção às aldeias vizinhas, a exemplo de Homba e Nanhala. Outras fugiram até alcançar a sede distrital de Mueda.
No distrito de Macomia, fala-se de corpos que foram encontrados no dia 18 na aldeia Nguida, suspeitando-se que as pessoas tenham sido mortas por bandos terroristas que continuam a circular na zona.
Há ainda o relato de uma mulher ter sido raptada na aldeia Litandacua, exactamente nesta segunda-feira. Já em Nhica do Rovuma, distrito de Palma, um ataque resultou na destruição de dezenas de habitações da população, depois de esta ter fugido quando se apercebeu da aproximação de terroristas, enquanto na localidade de Salaue, distrito de Ancuabe, um corpo foi encontrado a cerca de 400 metros do posto policial de Sumaré.
Com os grupos atacantes a adoptarem a estratégia de ataque para rapidamente regressarem aos seus esconderijos, a força conjunta, composta pelas Forças de Defesa e Segurança de Moçambique, do Ruanda e da Missão Militar da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral continuam a enfrentar dificuldades para consolidar e garantir uma efectiva segurança às regiões “libertadas”.
As dificuldades de consolidar os níveis de segurança parecem ser uma das principais razões que continuam a fazer com que as autoridades governamentais mantenham hesitação na permissão de regresso a diversas aldeias das três regiões de Cabo Delgado.
De acordo com dados existentes, o número de fatalidades reportadas em resultado de violência organizada está em cerca de 4.188, das quais 1.818 são civis.
MEDIA FAX – 24.08.2022