De novo, sinais de grande preocupação!
Muitos distritos de Cabo Delgado, com particular destaque para as regiões centro e norte da província, têm estado, nos últimos tempos, a registar um considerável aumento de movimentação de homens armados ligados ao extremismo islâmico, contrastando com o cenário de retorno gradual da segurança, que marcou a entrada em cena de tropas estrangeiras em apoio às Forças de Defesa e Segurança de Moçambique (FDS).
Tal como temos estado a relatar nas últimas edições deste diário, a semana passada também foi marcada por diversos ataques terroristas. Muidumbe e Nangade, na região norte, foram os distritos mais visados entre quinta e sexta-feira, com relatos de decapitados, raptados, desaparecidos, bens roubados, casas incendia[1]das e a população sobrevivente em debandada, deixando, mais uma vez, tudo para trás.
No concreto, os atacantes entraram nas aldeias Namakule e nas zonas baixas de Lipétua, no distrito de Muidumbe. Estas incursões e outros eventos relacionados à insurgência resultaram na fuga da população também das aldeias de Muambula [antiga sede distrital].
As pessoas em fuga sobressaíram nas aldeias Miteda e Matambalale, mas outras conseguiram alcançar a sede distrital de Mueda, distrito que acolhe o quartel que comanda o Teatro Operacional Norte.
Até ao fecho da presente edição, falava-se somente de “população morta”, mas sem números precisos. Ao mesmo tempo, relata-se casas incendiadas e confrontação havida contra os grupos atacantes. Na acção reactiva, helicópteros foram vistos sobrevoando as áreas atacadas, em apoio às Forças de Defesa e Segurança e forças amigas.
A entrada de insurgentes pelas aldeias aconteceu por volta das 12 horas da quinta-feira, segundo relatos de uma fonte local. Já em Nangade, um distrito que nunca conseguiu consolidar sinais de segurança, mesmo com forte presença de soldados da Missão Militar da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral em Moçambique (SAMIM), os terroristas voltaram a atacar em regiões bastante próximas da sede distrital.
Diz-se terem entrado no Centro de Produção de Ntamba Lagoa, assim como as aldeias Miungu 1 e 2, a sensivelmente 4 quilómetros da sede distrital. O relato sugere um elevado número de elementos que compunham o bando invasor. Cerca de 30, segundo fonte local.
A reacção, considerada bastante tardia das FDS e aliados, não deu nem para “incomodar” o bando atacante. Diz- -se que houve reacção somente para ficar registado ter havido e não com intenção de “ajustar as contas”.
Aliás, informação recebida aponta que os elementos das FDS que se deslocaram para as regiões atacadas, acabaram disparando e ferindo uma mulher que tentava levar mandioca seca para o sustento da família. Depois de atirar contra a mulher e, aparentemente, pensando que a mulher tinha morrido, os militares foram embora. Entretanto, apenas ferida, a mulher conseguiu ligar para o marido e acabou sendo socorrida. Depois de passar da unidade da chamada força local, foi transportada para o hospital.
Com a falta de resposta efectiva contra os atacantes, relata-se que depois de matar, incendiar casas e raptar populares, os terroristas saíram carregados de produtos do roubo e da pilhagem. Muitos produtos alimentares e não só foram levados para os esconderijos do grupo, aparentemente localizados nas matas de Nkonga, Chitama, Namiune e Quinto Congresso.
Antes dos ataques da quinta e sexta-feira, algumas aldeias de Meluco, Mocímboa da Praia, Macomia e Palma tinham, igualmente, sido atacadas por bandos armados que parece estarem a conseguir reagrupar-se e redistribuírem-se por várias aldeias da província, tornando cada vez mais desafiante o processo de consolidação da segurança e pacificação da província.
MEDIA FAX – 29.08.2022