A recente insurgência violenta na província costeira de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, apanhou de surpresa o governo e o público em geral. A revolta começou em outubro de 2017, quando alguns jovens muçulmanos tomaram de assalto várias prisões na cidade de Mocímboa da Praia. A situação sofreu uma reviravolta sinistra, em 2018, com os agressores realizando mais de trezentos ataques a aldeias e o Estado Islâmico no Iraque e na Síria (EIIS, aqui referido como simplesmente EI) reivindicando a autoria dos ataques e postando um vídeo dos insurgentes fazendo um juramento de lealdade à Abu Bakr al-Baghdadi, o líder do EI, em 2019.1
O primeiro estudo acadêmico que se fez sugeriu que a insurgência fora conduzida por jovens ligados ao Al-Shabaab da Somália, Quênia e Tanzânia, bem como às redes criminosas que controlam o contrabando de pedras preciosas, drogas, madeira e a caça ilegal.2
Alguns jornalistas e analistas de segurança traçaram a origem da insurgência até a pobreza endêmica e a percepção de marginalização socioeconômica e política do Norte, enquanto outros afirmavam que as políticas neoliberais e a indústria extrativista levaram a juventude a se revoltar.3
E ainda havia os que tentaram localizar a inspiração ideológica da insurgência nos movimentos jihadistas globais como Al-Qaeda, EI e as Forças Democráticas Aliadas (Allied Democratic Forces, ADF) de Uganda e República Democrática do Congo.