Introdução
A presença chinesa em Moçambique não constitui um fenómeno recente. Tal como em diversas localidades africanas, da África do Sul (Park 2008: 9-31), Maurícias, Madagáscar ou Reunião, a partir de inais do século XIX, emigrantes chineses instalaram-se na cidade de Lourenço Marques, actual Maputo (Medeiros 2007). A construção de edifícios públicos e casas particulares, do porto marítimo, caminho-de-ferro e outros empreendimentos coloniais carecia de uma mão-deobra minimamente qualificada e de baixo custo. Foi neste contexto que os coolies2 chineses constituíram uma alternativa bem mais económica, comparativamente com a dispendiosa mão-de-obra europeia. Tanto nestas como noutras tarefas, os chineses distinguiram-se pelos seus conhecimentos, competências e qualidade, gerando uma forte concorrência com os trabalhadores europeus. A comunidade chinesa estava concentrada na cidade da Beira e Lourenço Marques e, tal como as comunidades de descendência indiana e paquistanesa, os chineses foram marginalizados pela população branca laurentina.3
Dos ‘chinas’ dizia-se que eram fechados, servis e pouco higiénicos e, no início do século XX, a imprensa representava-os como ‘agricultores imundos, que punham em permanente risco a salubridade pública’ (Zamparoni 2000: 200). A partir da década de 1930, comerciantes chineses estabeleceram-se na cidade de cimento dos colonos e, mais tarde, nas décadas de 1950 e 1960, instalaram pequenas indústrias de confecções. Saídos das escolas portuguesas, os mais novos passaram a trabalhar nas instituições públicas e privadas (Medeiros 2007). Na sequência da independência de Moçambique em 1975, uma grande parte dos sino-moçambicanos emigrou para Portugal, Brasil ou África do Sul.4