ten-coronel Manuel Bernardo Gondola
Uma das grandes perguntas que se faz nas relações internacionais é, o que leva a guerra? Na verdade, a disciplina das relações internacionais foi criada com esse objectivo de encontrar a paz e para você encontrar a paz, você precisa descobrir o que causa a guerra e aí existem muitas teorias e eu quero falar de algumas delas principalmente no que, nós estamos assistindo o que está acontecendo segundo os dados do Instituto de Pesquisa de Estocolmo para a Paz.
Eles disseram que 20[19] nós tivemos o maior gasto em armamento no mundo. Ou seja, o orçamento de defesa dos países cresceu e se gastou o total [1,9] trilhão de dólares, isso +- equivalente [2,2%] do PIB do mundo inteiro. Tem muita gente que diz; mais armas, mais guerras, será que isso é verdade?
Existe uma realidade ou teoria que se chama Dilema da Segurança, e ele explica que, «como nós vivemos num mundo anárquico», ou seja, sem Governos, sem Constituição, sem regras, sem polícia cada um faz o que quer, aí os Estados eles são confiados eles têm que cuidar de si mesmos não tem ninguém que vai vir salvá-los, todos precisam se proteger, todos precisam estar preparados para uma guerra.
E aí uma iniciativa do Estado A, por exemplo, Moçambique vai se armar para defesa não porque queira ir para guerra, mas ele se arma em precaução para se defender, esse movimento de armamento de Moçambique vai suscitar um sinal amarelo na Tanzânia e, a Tanzânia vai olhar e se perguntar porquê que Moçambique está querendo se armar. Será que Moçambique quer me atacar?
Repare, o movimento inicial de defesa pode parecer para o outro como movimento de ataque e o que é que a Tanzânia faz de imediatamente. Começasse se armar também e Moçambique desconfiado se pergunta. Porquê que a Tanzânia está se armando agora! será que ela está vendo que eu estava-me defendendo mais e ela quer tirar vantagem e continuar mais forte? E aí, isso provoca muita desconfiança e cria o que se chama de corrida armamentista, que supostamente leva até uma guerra. Mas, isso não é o único factor, não é a única forma de ver o mundo e as relações internacionais. Na verdade, se nós olharmos só para esse factor não é nem a questão do armamento que causa a guerra é muito mais a questão da anarquia da agente viver num ambiente sem ordem, sem leis, sem regra, sem polícia, sem ordenamento mundial, que faz os Estados terem que se defender e se proteger por conta própria, as armas nesse caso só são as ferramentas de proteção, mas não são as causas da desconfiança; a causa da desconfiança é a falta da ordem.
Um outro pensamento comum, sobre a ideia das armas e a violência ou o número de mortes é que, quanto mais sofisticado o armamento mais pessoas vão morrer nos conflitos, isso também não é necessariamente verdade. Claro as armas mais destrutivas são capazes de matar mais pessoas mais rápidas, mas as armas mais destrutivas do mundo não são usadas com tanta frequência, inclusive a existência delas é que em muitos momentos ou até ao momento nos trouxe a paz.
A guerra fria 19[47] /19[91] foi exactamente isso, o arsenal nuclear que são as armas mais destrutivas do mundo, impediu que os Estados Unidos [EU] e a União Soviética entrassem num choque de destruição total. Portanto, o facto, de você ter uma arma mais destrutiva serviu como um ’freio’ para a guerra. Por um outro lado, podemos ver conflitos aonde não existiu armas sofisticadas, alguns dos genocídios que aconteceram no século passado, no seculo [XX] foram feitos só cometidos simplesmente com catanas e machados esse é o caso de Ruanda , entre os Hutu e Tutsi, você não tinha grandes armamentos , grandes aviões simplesmente eles saíram com catanas e machados… exterminando e morreram [800000] pessoas nesse genocídio .
Por isso, cuidado com a ideia de que, necessariamente mais armamento vai levar o mundo para uma guerra, a história não mostra sempre isso, inclusive existem vários factores para explicar as causas da guerra e, Tucídides.[460] a.C. - [400] a.C. que foi o primeiro historiador que escreveu sobre a guerra do Peloponeso, já nos disse que nações entram em guerra por três motivos: medo, honra e interesses e é dentro de interesses que podemos até incluir os interesses económicos. Mas, percebe que medo é um factor para guerra, honra também e os interesses não necessariamente eu ter ou não mais armas.
Tem uma outra visão sobre a guerra que diz que; «quando optimista você está maior são as chances de você entrar em confronto». Como seria isso! Eu estou optimista de que, eu tenho força e capacidade suficiente para dominar e vencer o meu inimigo, então, as chances de eu decidir entrar em guerra são maiores e, obviamente que o oposto serve para conter a guerra e trazer a paz. Quanto mais pessimista uma nação, a elite ou os governantes, os militares enfim… a sociedade achar que ela tem menos chances de ser vitoriosa, maiores vão ser as cautelas e menos disposto eles vão estar a entrar em guerra.
Outras visões que nos ajudam a entender sobre os conflitos é a ideia por exemplo, da democracia. Uma das grandes teorias das relações internacionais é que democracias não entram em guerra com outra democracia e é nesse caso nós simplesmente olharíamos para as duas grandes potencias ou rivais EU e Rússia. EU é uma democracia, Rússia não é uma democracia a chance de termos uma guerra é mais alta; se ambas fossem uma democracia às chances seriam menores.
Muitos associam a guerra com crises económicas, outros dizem não a economia está indo bem porque alguém vai querer entrar em guerra vai perder dinheiro. Nós temos que lembrar, que o século mais destrutivo ou mortífero da história da humanidade foi o século [XX], com duas guerras mundiais e até a metade do século, nós tínhamos um crescimento económico, um patrão de vida muito substancial e tivemos os dois maiores conflitos da história da humanidade.
Então, não necessariamente estar bem economicamente impede a guerra, da mesma forma que assistimos no caminhar para segunda guerra mundial, uma crise económica muito severa; desemprego muito grande na Alemanha, mas só o desemprego e a crise económica não leva os países a guerra. você tinha outros países sofrendo de desemprego e crises económicas e nem assim eles decidiram entrar em guerra, você precisava duma combinação de coisas naquele contexto da segunda guerra mundial e no contexto alemão, que era o nascimento duma ideologia radical como o nazismo e agressiva. Quer dizer, só o desemprego não é suficiente, só a crise não é suficiente, percebe nós tínhamos que naquele caso ter uma ideologia que também conduzisse todos a guerra.
Essa ideia dos factores económicos uma forma de observar, e olhar para ela e a questão do comércio, mas comércio leva a guerra ou menos comércio leva a guerra. Nos últimos anos nós estamos assistindo que o comércio internacional têm criado mais ’atrito’ entre as grandes potências [EU e China], ou seja, supostamente aquilo que cria ganhos mútuos ou o que muitos chamam de interdependência económica, então os dois ganham dinheiro juntos, porquê que eles vão querer entrar em guerra?
Não é o que está acontecendo, está criando uma situação de mais tensão, de mais animosidade entre EU e China.
Mas, por outro lado, existe a tese menos comércio. cada um é mais autónomo, menos a perder quando os dois entrarem em guerra, então você pode acabar indo para o conflito simplesmente, porque você não tem mais laços económicos com aquele país. Bom, como vocês podem ver, existem vários factos que explicam a existência de guerras e nem todos eles são muito claros, porque você têm ’episódios’ que contradizem um aos outros; às vezes você ser uma democracia pode te levar a guerra e as vezes não ser uma democracia pode te levar a guerra; às vezes com armamentos muito rudimentares você pode ir para guerra, outros armamentos sofisticados podem impedir a guerra.
Então, as coisas não são tão claras é muito difícil você explicar a todas as causas e origens precisas duma guerra. Você precisa olhar para muitas variáveis juntas para entender o que pode levar a guerra. É importante ’desmistificar’ uma outra ideia que é muito comum aí, que as pessoas falam, «que háaa…não… a guerra só existe porque alguém está ganhando e que os interesses são económicos».
De facto, as pessoas tendem a pensar assim, porque tudo que é económico, é tangível ou é contável, é matemático. você vai se matar pelo o quê, alguma coisa está ganhando. Então, você tem que conseguir quantificar as accões humanas, mas as pessoas fazem muito mais coisas, por questões intangíveis, de valores, de ideias, de moral, de honra, de coragem, de ideal, do que, simplesmente por puro dinheiro.
Ou seja, as armas, o armamento não é a razão pelo qual os países entram em guerra, existem os interesses podem existir interesses da indústria local bélica, mas mesmo destarte para eles movimentarem toda uma sociedade, toda uma situação contextualizada de inventos internacionais simultâneos e vários factores como eu atirei acima para você[s] vai muito alem duma simples explicação de que o que causa uma guerra é o dinheiro ou as armas.
A forma de vocês testarem isso, e é o que me preocupa nesse tipo de raciocínio que ele é reducionista e materialista ao extremo, eu pergunto para você, tudo que você faz na sua vida é determinado por uma questão material, ou, pelo dinheiro? Você só pensa no emprego por dinheiro? Você só pensa nos seus relacionamentos por dinheiro? Nas suas amizades claro que não!
Então, achar que o único motivador, por traz de um conflito é o dinheiro é muito raso, existem muitos outros factores maiores inclusive o grande pensador e estrategista militar prussiano Carl von Clausewitz afirma que, «a guerra é a continuação da política por outros meios». Quer dizer, nós estamos aqui fazendo política e aí nós estamos discutindo, debatendo, a discussão vai crescendo ficando quente, calorosa de repente você me atira um copo de água na minha cara, eu te atiro para o chão e agente estasse matando. Porquê estamo-nos mantando? Pela mesma razão inicial que estávamos divergindo, por política. Logo, a política é baseada em valores, é baseada em ideias, em visões de mundo e inclusive religiões.
Por isso, nós podemos ter guerras por religiões, por ideologias, e por várias outras coisas, que vão muito além da questão económica e do número de armas que um dos lados possui. Claro que as armas podem ter um efeito de percepção, mas é importante lembrar, que você não construiu um Exército com armamento do dia para noite, você precisa estar preparado para dissuadir os seus inimigos, para se defender e as armas têm essa utilidade do ponto de vista da estratégia de segurança nacional de um país.
Manuel Bernardo Gondola
Maputo, aos [25] de Setembro 20[22]