Por Edwin Hounnou
Em nome de Portugal, António Costa, primeiro-ministro, em visita ao nosso país, entre 1 e 2 de Setembro, pediu desculpas ao povo moçambicano pelo massacre que o exército colonial cometeu contra a população de WIRIAMU, uma povoação de Tete, a 16 de Dezembro de 1972. O pedido de desculpas é um sinal de grandeza de espírito e de cultura de estado. Costa classificou o massacre como um acto indesculpável que desonra a história de Portugal. Disse ainda que as relações entre amigos são feitas, assim, de gentileza de quem é vítima e faz por não recordar, mas também por quem tem o dever de nunca deixar esquecer aquilo que praticou e perante a história se deve penitenciar.
Os povos precisam de compreensão, respeito e mútuos. O que faz os povos se orgulharem um do outro é a amizade. Costa e Filipe Nyusi demonstraram que é possível entre antigos colonizadores e colonizados se situarem viverem sem ressentimentos do seu passado comum. A história pode servir de ponte entre povos que, no passado, se digladiavam. A guerra não era contra o povo português, mas sim contra o regime colonial-fascista, assim aos guerrilheiros se ensinava amplamente.
Muitos moçambicanos foram vítimas do regime da Frelimo, amador de um banditismo radical que trucidou a todos quanto fosse confundido como se tivesse alguma opinião diferente ao pensamento oficial. Várias centenas de moçambicanos foram presos e deportados para Niassa pelo facto de terem sido surpreendidos sem documentos de identificação ou tomados como desempregados. Alguns deles desapareceram para sempre. Ninguém sabe se não foram devorados ou morreram de causas naturais.
Centenas de mulheres e raparigas foram recolhidas das cidades porque os agentes do regime de terror as tomaram como vadias e prostitutas. Ninguém mais se lembrou de as trazer ao convívio de seus parentes. Muitos outros por outras razões foram recolhidos para as grandes matas do nosso vasto país e, para sempre, desapareceram. Os autores dessas atrocidades ainda pensam que foram eleitos por Deus para serem senhores do povo que desgraçaram e ainda roubam desde à independência. Ao mais pequeno gesto de insatisfação, eles soltam a sua polícia para dilacerarem a quem se mostrar relutante. Nunca nos pediram desculpas. Aos mais atrevidos mandam cortar lenha/fuzilamento.
A várias dezenas de moçambicanos entrincheirados na mesma causa de libertação da nacional, pelo facto de terem uma visão diferente de como o país deveria ser conduzido, encontraram a morte da forma mais demoníaca – presos, torturados e, por fim, jogados em covas com lenha regada com gasolina e ao som de canções revolucionárias incendiados. Muitos desapareceram e nunca mais foram vistos. Outros foram presos, torturados, metidos em sacos de ráfia com pedregulhos dentro e jogados para o fundo mar, para que não restem vestígios do crime. Os que fizeram isso se cruzam connosco pelos quatro cantos do país.
Os parentes das vítimas não podem protestar porque lhes perguntam se, também, desejam fugir como fizeram os seus familiares. Nunca, até hoje, se ouviu um pedido de desculpas de arrependimento por mortes injustas e assassinatos macabros que fizeram contra nossos pais e irmãos. Centenas de famílias moçambicanas cobriram-se de luto por mortes criminosas que esses bandidos cometeram.
Procuramos, apenas, saber o motivo da prisão e desaparecimento dos nossos parentes, como foi do nosso caso, e a resposta que recebemos foi prisão, tortura psicológica e ameaça de morte, caso voltássemos a incomodá-los. Para a normalização das relações entre nós os moçambicanos, é chegado o momento, por gentileza dos parentes das vítimas e fazer por não recordar, mas também por quem tem o dever de nunca deixar esquecer o que praticou o crime que, perante a história, se deve penitenciar.
Os parentes das vítimas dos excessos da Frelimo exigem que o regime lhes peça desculpas e se redima do que andou a fazer, antes que sejam perseguidos quando a Frelimo deixar o poder. A História gira como uma roda dentada, sempre volta ao ponto de partida. A gente vai, antes que seja tarde demais, encontrar-se frente-a-frente com os assassinos dos nossos parentes.
Para, no fruto, evitar retaliações, que peçam desculpas. Até o Papa Francisco pediu desculpas, em nome da Igreja, pelos crimes cometidos ao longo da História. A Frelimo continua arrogante, com nariz levantado. julgam que os têm as mãos cheias de sangue, continuarão a ser defendidos pelo regime.
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 21.09.2022