Por: Venâncio Mondlane (VM7)
Quando iniciei leituras não obrigatórias, de livros comprados nas livrarias informais e ambulantes das ruas de Maputo, em meu coração, começou a arder, como uma panela de pressão, a forte convicção de que o exercício intelectual é a fonte de liberdade e não de cativeiro, de levantar vôo com as asas do conhecimento e não para poisar numa gaiola da ignorância. Em fim, a leitura genuína, era o vigor necessário para a ovelha saltar do tapete rolante que conduz a guilhotina.
As ideias que resultaram nos grandes movimentos nacionalistas africanos são a imagem mais clara do fruto da intelectualidade. Não creio que arrisco muito, em propor que o movimento dos neurónios, a ginástica do cérebro, por meio dos livros, é um sinónimo do instinto humano em busca da liberdade, assim como um bebé o faz no útero da mãe quando toca o sino do nono (9º) mês.
Em Moçambique, foi nas associações culturais e académicas onde surgiram os primeiros debates e conversas furtivas para a luta de libertação nacional. Porém, hoje as unidades de cultura, os centros de pesquisa - salvo excepções muito honrosas - são viveiros para reprodução do (boí)smo intelectual. Até a associação dos escritores Moçambicanos, que seria o cume da efervescência do pensamento crítico, se tornou um dos maiores palcos de passarela da fidelidade partidária.
Em rigor, o exercício intelectual, inevitavelmente, conduz a um sentimento de inconformismo com as ideias dominantes duma época. É uma actividade mais próxima das qualidades de um elástico do que duma pedra. Muito justamente pode ser associada a rebeldia no campo das ideias. Para o espírito intelectual, nada é definitivo, todo ponto de chegada é o ponto de referência para uma nova partida, rumo a um renovado e infindável destino.
Quando alguém que se dedica ao exercício intelectual, diz que está conformado com certas ideiais, quando se torna indiferente a uma situação caótica do seu povo, logo, a chama do inconformismo, marca de água da intelectualidade, se extinguiu. A fogueira se apagou. As cinzas e a morte dominam. O suicídio chegou!!!
No nosso país, está prosperando uma nova profissão, mais concretamente, uma nova habilidade: a encenação intelectual. Muitos se esfolam, desgastam solas, renovam centenas de uniformes, do primário ao universitário, se tornam fregueses de algumas bibliotecas, no percurso adquirem diplomas e se apresentam na arena como "formados". Na altura em que a sociedade espera que estes engrossem a legião dos inconformados para pensar criticamente na utopia duma sociedade melhor, pelo contrário, se retraem, buscam qualquer meio de comunicação social para se apresentar como defensores oficiosos do actual estado de coisas. Buscam, acima de tudo, a barrigação económica do seu diploma e não o questionamento crítico do nível de vida a que o seu povo está sujeito. O suicídio chegou!!!!
É desta forma que os ditos "académicos" perfilam nos produtos digitais transmitidos nos rectángulos com luz que chegam as nossas casas com a designação de debates políticos. O seu objectivo, é se exporem como carne bovina numa feira, como prostitutas na calçada, fazendo votos que um membro do Governo ou do Partido se seduza por ele e o convide para o coito.
O país investiu, rectifico, os nossos impostos, o povo, investiu para que se formassem os pouquíssimos Phd que temos, como Ragendra, Utui, Chilundo,...etc....etc...mas todos eles lançaram a toalha ao chão, lançaram as togas ao caixote de lixo e vestiram uma camisete com um logotipo vermelho encimado por uma estrela comunista.
Estes académicos, ao invés de serem a esperança intelectual da nação, convertidos foram para os algozes do pensamento livre.
Alguns desses "formados" com mais habilidade de repolhilhação dos seus cérebros, como Vaz, Arnaldo, Suazi, Mavie....não raramente são enviados, como cães raivosos para ir a TV, Rádio, Jornais e, muito recentemente, às redes sociais, para destilar ódio venenoso contra qualquer um que ousar questionar o "merecedor do terceiro mandato".
Estive num fórum de debate onde Eduardo Chiziane se apresentava como um estudioso de direito, mas no mesmo dia o vejo na TV pública falando como um comissário político do partido no poder. Não tardou que o amigo de kagamé, de Museveni, de Obiang, o promovesse para um dos Conselhos da Magistratura das mordomias.
Olhando para o caso de Chiziane, solidifica-se a minha convicção que, em termos de produção intelectual, estamos descendo lentamente em direcção aos últimos portões do inferno, onde, à chegada, para entrar, nos é exigido o cartão vermelho. A doença é tão grave que os que mais tempo passam na universidade, que chamam para si títulos da academia, que torram miolos reproduzindo as fichas de estudo herdadas dos seus professores.....o seu sonho maior não é ser como Aristóteles que "estimava Platão, mas estimava ainda mais a verdade".....pelo contrário, o sonho de uma vida inteira destes filhos de Moz, o seu paraíso antecipado, é fazer parte de uma unidade anti-académica: a burocracia estatal. (VM7)
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