EUREKA por Laurindos Macuácua
Cartas ao Presidente da República (117)
Há já algum tempo que tenho constatado, com desagrado, que vivemos num sítio onde mais vale iludir e investir muito tempo em ilusões, do que de facto em criar pela acção política um modelo de sociedade mais justo, onde se permita às pessoas conseguirem realizar-se, usando os seus sonhos e ambições para serem mais felizes.
Ora essa constante forma de iludir as massas tornou-se ao longo dos anos uma arma em política, que faz perigar bastante a qualidade da democracia e mete a nossa liberdade num canto obscuro, porque no fundo é mais fácil parecer que se faz, do que fazer de facto.
É assim que o desgoverno da Frelimo nos trouxe a ilusão da TSU que, a meu ver, talvez ainda venha a gerar a revolução que tanto escasseia neste País.
O aviso vai soando: a Frelimo tem que ter cuidado ao vender ilusões. Pode ter que entregá-las em algum momento!
Há um cortejo de infelizes por causa da TSU, nomeadamente professores, médicos, polícias, militares.
No lugar de melhorar as condições salariais destes, a TSU veio piorar. O mais engraçado é que isto não afecta aos políticos, os que ganham a vida vendendo ilusões.
Quer dizer, ser técnico neste País equivale a nada. Neste sítio não adianta ir à escola, especializar-se, porque o que conta é ser um charlatão.
E nem é preciso ser dos bons. Basta dar graxa ao chefe para lhe nomear a um cargo qualquer e amanhã, se for homem, já pode começar a multiplicar o número de amantes. Se for mulher, terá que se contentar com o próprio chefe.
Em algum momento tem que se comer a cacana sem reclamar… A Frelimo tornou-se uma praga que destrói o que há de bom e belo ao seu redor. Tal um vírus que volta todos os anos provocando grandes surtos, assim também são as suas sucessivas tentativas de explorar as piores fraquezas dos moçambicanos.
Tudo, evidentemente, revestido de promessas de vida melhor para o povo, enquanto não é mais que venda de ilusões.
E a tempestade perfeita vai se formando no horizonte de Moçambique e tudo que o Governo faz é continuar vendendo ilusões. E cada uma delas se desfaz ao menor contacto com a realidade, mas ele persiste!
E o Governo vai requisitando mais andaimes para solidificarem a construção de uma República que permite que alguns enganem muitos, sem consequências para os primeiros. A política não pode ser a arte de ilusões, tem de ser a arte do serviço público, sob o perigo dos extremos se agigantarem contra este barco desgovernado que se chama Moçambique.
Temos de saber preservar a nossa “República”, porque neste mundo de mágicos e ilusionistas nada é garantido e na maioria dos casos as ilusões dão em problemas enormes e de difícil resolução.
DN – 28.10.2022