Por Edwin Hounnou
Martin Luther King Jr, (1929-1968) activistivista norte-americano dos direitos civis, lutou contra a discriminação racial e tornou-se um dos mais importantes líderes dos movimentos pelos direitos dos negros norte-americanos, tendo sido, por isso, assassinado. Martin Luther King Jr disse uma frase de valor universal inquestionável segundo a qual o que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons.
Tem sido sob o silêncio cúmplice dos decentes que alguns dos maiores crimes acabam sendo perpetrados na sociedade. Quando os bons ficam em silêncio, toleram a prática de coisas nefastas, como assassinatos políticos e intolerância étnica, racial e de toda a ordem, os corruptos, os autoritários se consolidam e prosperam. O barulho dos maus compara-se à voz do burro - não chega aos céus, por essa razão, deve ser motivo de grandes preocupações do nosso lado, porém, o silêncio dos bons, daqueles que deveriam chamar a atenção à sociedade moçambicana deixa-nos preocupados por deixarem o mal cada vez mais enraízado. Os autoritários não têm medo dos maus, mas da voz dos bons.
Os bons que deveriam ser o farol que ilumina o caminho do povo também têm seus problemas intrínsecos. Não falam para repreender o que vai na sua organização ou na sociedade, em geral porque temem perder os seus pequenos privilégios tais como assegurar a proporção no emprego, patentes e a consequente remuneração monetária, villages e outros privilégios que auferem por estarem próximo do grande chefe grande. Os decentes por temerem represálias preferem o silêncio e, assim, os autoritários e pequenos ditadores crescem até se tornarem um perigo para o povo e para a paz.
Quando o povo despertar do sono pode ser que seja tarde demais, terão colocado atrás das grades muita gente e alterados a constituição do país para acomodarem os seus interesses. O silêncio dos bons prejudica, de forma grave, a nação. O silêncio dos bons é sinal de mau presságio social. Os autoritários e pequenos ditadores, somente, triunfam quando os decentes se calam e deixam os maus gritarem como puderem. Nós sentimos a dor na pele devido ao nosso posicionamento político em relação ao regime.
Para o triunfo de um regime autoritário e dos ditadores não precisa de muita coisa. Preciso, isso sim, do silêncio dos bons e decentes. Quando o regime prende e os prisioneiros desaparecem das cadeias e nós nos mantemos calados; as eleições acontecem no meio de intimidações e prisões arbitrárias; a polícia ajuda o partido no poder e como resultado disso temos uma sociedade subdesenvolvida. O nosso atraso não resultado da conjuntura económica internacional mas o que os bons deixam fazer. O colonialismo não justifica a situação por que passamos. A incompetência e a ganância são os grandes motivos da nossa pobreza. Aceitamos que politizem a administração pública no lugar da competência e do saber fazer. Fechamos os olhos à corrupção e ao nepotismo. A ausência de políticas públicas é o câncer que nos corrói.
Assistimos como as coisas acontecem na Frelimo. Alguns batem palmas e dizem que a unanimidade significa coesão. Um partido que reclama possuir cerca de três milhões de membros e todos pensam da mesma maneira, é de dividir e preocupante. A ausência de debate no seio da Frelimo é um sinal de que estamos no fim da linha. O mais grave ainda é como reprimem vozes que demandam explicações, como vimos no último congresso com um membro seu que quis saber se Filipe Nyusi queria ou não avançar para um terceiro mandato. A Comissão Política, agindo como um grupo de matioha faminta, mordeu a quem colocou à mesa a apreensão de milhões de moçambicanos. A Frelimo já não tem motivo para se orgulhar por ter perdido o que há de mais sagrado - a democracia, a tolerância e o debate de ideias como gente civilizada.
Duvidamos se a Frelimo ainda tenha alguma causa para defender. Defende o dinheiro e a espoliação, de bens públicos. A divisão dos fundos das dívidas ocultas, dos fundos do carvão mineral, do gás de Temane e da bacia do Rovuma. Está unida, sim, nas areias pesadas de Chibuto e Moma e nos corredores de desenvolvimento e na explicação do grafite de Balama. Não vemos a Frelimo unida na luta contra a corrupção e saque. A Frelimo está idosa e envelhecida. Já não tem ideias sobre o país. Fugiu do ring da luta. Desistiu de lutar por Moçambique. Ficou a bajulação ao grande líder, sol que nunca desce. Ficou o clientelismo.
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 19.10.2022