ten-coronel Manuel Bernardo Gondola
Se tem uma corrente filosófica, uma área da filosofia que vem ganhando cada vez mais adeptos, cada vez mais leitores e mais profícua discussão é a área da chamada filosofia africana ou a filosofia de(s)colonial ainda, que a filosofia africana e de(s)colonial não sejam sinónimos, eu já introduzo esses dois conceitos, de(s)colonial obviamente é aquilo que não vem da Colónia, algo ligado ao colonialismo ou sobretudo o pensamento europeizado, um pensamento europeu muito eurocêntrico do mundo. Mas, não é isso que eu quero aqui reflectir, o que eu quero reflectir aqui é, sobre o que é filosofia africana o que você pode entender com isso e, quais são os seus principais problemas, conteúdos e questões.
De facto, existem vários filósofos que agente pode usar para apresentar a filosofia africana como por exemplo; o camaronês Achille M’bembé , que é um filósofo bastante presente no pensamento hoje ocidental, temos também filósofos brasileiros como; Sueli Carneiro, que pensam esse movimento da negritude, mas eu vou trazer aqui um livro , o livro que já é considerado um 'clássico' nessa área que é o livro de Lewis Gordon , que se chama «Introdução a Filosofia Africana», infelizmente não tem ainda traduzido por português, mas ele apresenta em linhas gerais uma introdução que eu acho interessante do que, ele chama do pensamento africano da diáspora africana.
Nesse caso, para você entender de iniciou nós temos dois grandes problemas que nos ensina Lewis Gordon, sobre a filosofia africana e eu vou apresentar-lhes aqui.
Um dos problemas exactamente é sobre o que é africanidade e outro diz respeito ao conteúdo da filosofia africana, portanto, são esses dois pontos interessantes de começar a pensar e reflectir sobre uma filosofia Africana.
Pois bem, vou para o primeiro ponto. Quando agente fala duma filosofia africana, a primeira coisa que agente precisa pensar ou é levado a pensar é, o quê agente está chamando de filosofia africa. Será, que uma filosofia africa, por exemplo, é aquela que se faz na Africa? É isso que estamos chamando duma filosofia africa? Ou aquele por exemplo, que pertence a diáspora africana que existe em outros países como; o Brasil que tem toda uma tradição de matriz africana. Será, que pensadores da diáspora podem ser enquadrados naquilo que estamos chamando de filosofia africana? O que é que é uma filosofia africana é, uma filosofia ligada ao Continente africano, ligada a Negritude ou a ideia duma cultura africana.
Vou ser claro para você entender. Será, que por exemplo um branco sul-africano descendente do Regime do apartheid, ainda com as ideias muito ligadas ao apartheid, será que ele seria um filosofo africano? Um descendente de ingleses que tem pensamento ainda ligado ao apartheid será que ele seria um filósofo africano?
Será, que um brasileiro por exemplo da Baia…ele não poderia ser muito mais próximo, embora não esteja no Continente africano? Aqui você já tem um problema posto que é, nem tudo que nasce na Africa é digno da alcunha, é uma questão em aberto de ser chamado de filosofia africana. O que é que agente está chamando de africanidade, de facto, é um problema interessantíssimo e está tão longe de ser resolvido destarte de forma fácil.
Agora, se não é só o que nasce na África como eu disse que pode ser considerado uma filosofia africana, porquê então usar isso como régua? Há países como o Brasil que tem cultura negra africana envolvida podem ser considerados? Um branco pode fazer filosofia africana ou só negros ou pessoas vinculadas a uma cultura afro no Brasil, Estados Unidos… que teriam essa capacidade?
Note-se, que o próprio problema da africanidade é um problema posto desde o seu iniciou. Dizer obviamente o que constitui o africano, o carácter africano dessa filosofia, da filosofia africana será, que é algo geográfico que define, será algo racial, fenótipo, cultural, ou seja, só negros podem falar da filosofia africana, será que um judeu no Brasil tem menos a falar do que um negro nos Estados Unidos sobre a filosofia africana?
Enfim, eu acho que você já entendeu qual é o problema não estou aqui para dar a solução só estou jogando o problema para você pensar sobretudo, se você gosta e é afixionado a essa área, desse movimento do pensamento negro africano. Obviamente, essa é a primeira questão.
Tendo essa questão posta o Lewis Gordon nos ensina que existe uma outra peculiaridade da filosofia africana que é seguinte: ainda que agente define o que. estamos falando de filosofia africana precisa diferenciar os conteúdos dessa filosofia, porque se eles forem os mesmo da filosofia por exemplo europeia, logo não tem nenhum sentido diferenciar filosofia europeia da africana. Dizendo mesma coisa em outras palavras, se os problemas da filosofia africana forem os mesmos e as respostas muito parecidos ou similares à filosofia francesa existencialista, por exemplo, se os problemas do existencialismo forem os mesmos da filosofia africa, para quê essa separação!?
Destarte, existe uma filosofia africana se o seu conteúdo é diferente. Por exemplo, pensar quais são os problemas que de facto, caracterizam a raiz africana dos problemas como; a ideia de um lugar comum, a ideia de ser humano. De facto, falar do ser no mundo é algo básico da filosofia ocidental, é algo básico da filosofia europeia. Mas, será que esse ser no mundo é o mesmo? Se é diferente, então temos aqui uma característica, um problema, um conteúdo da filosofia africa.
Por exemplo, outro lugar bastante interessante é, o lugar da tradição e das raízes. Normalmente, a ideia de raiz, de pertencimento na Europa está muito ligada a localidade e a ancestralidade, ou seja, há ideia de cultura ligada as raízes ancestrais, há um ‘locus'.
Quando agente têm uma gama de relações oriundas da escravidão, do comércio negro de escravos que 'apaga' a ancestralidade como é que se pode colocar aqui a ideia de cultura, de raiz e de história propiamente dita? Como é que agente traça uma história da Negritude, de pertencimento se agente não tem essa ideia da possibilidade de 'resgatar' a história, porque ela foi simplesmente 'apagada'. Aqui agente tem outro problema. Entender!
Obviamente, a filosofia africana, têm muitas outras questões para além dessas, mas as duas questões, que servem para introduzir a filosofia africana são essas duas: primeiro pensar o que é ser africano, o que agente chama de filosofia africana, quem pode se auto-intitular filósofo africano, se é uma questão geográfica, se é uma questão de raça ou se é uma questão de cultura e, se é cultura o que é cultura africana. Esse é o primeiro ponto filosófico para pensar.
E o segundo é, que tipo de problemas pertencem a filosofia africana, que problemas pertencem essa área de conhecimento, mencionei aqui dois. Primeiro, ser humano negro no mundo e o segundo a questão da origem, história do lugar de pertencimento, uma vez que, a história, toda nossa ancestralidade foi 'apagada' historicamente e, como é que, agente pode falar duma ancestralidade cultural africana isso, é um problema bastante interessante de ser pensado.
Enfim, essas são duas áreas, duas questões que eu atirei baseada no livro de Lewis Gordon.
Manuel Bernardo Gondola
Maputo, [16] de Novembro 20[22]