Por Edwin Hounnou
É verdade que Filipe Nyusi esteja a preparar o seu almejado terceiro mandato presidencial com qual sempre sonhou. Tudo quanto Nyusi esteja a fazer visa impressionar para ser confirmado pelos seus camaradas como o candidato ao terceiro mandato. Todas as vezes que aparece a inaugurar um balcão bancário, um edifício de um tribunal de distrito, um fontanário de água, corta fita de inúmeras inaugurações, de um troço de estrada, etc., é, apenas, para ficar presente na memória do povo.
Muitas vezes, Nyusi ocupa-se por coisas que o ministro, governador, o administrador ou um edil poderia fazer. Ele deseja ser conhecido pelo povo como o presidente “corta-fitas". Nós não sabemos qual é o real papel do presidente Nyusi. Está em quase tudo. Está sempre a viajar de um lado para outro como fosse um desocupado, sem tarefa e um desorientado. Quando Filipe Nyusi tem tempo para pensar nas grandes linhas de desenvolvimento socioeconómico do país? – Não tem tempo. Não consta da sua pauta de trabalho. O tempo de que dispõe é só para organizar a sua vida e a dos seus amigos.
Em qualquer país do mundo, o presidente da república e o seu governo têm a missão de pensar e traçar as políticas de desenvolvimento económico, política e social do país e não para andarem a fazer negócios privados usando o estado como capa, tal como se faz no nosso país onde se contrai dívidas em benefício privado. Não é por mero acaso que estamos ficando cada vez atrasados. Não é por falta de recursos, muito menos ainda por falta de sorte. Estamos atrasados por falta de políticas de desenvolvimento. É por falta de empenho do governo (dos diversos governos da Frelimo). Eles não têm prioridade de nada. A prioridade são eles. O resto é palha.
O actual governo não se envergonha do que anda a fazer, embora reconheçamos raras excepções de empenho de equipas governamentais, de procura de soluções para resolver os problemas do respectivo sector, porém, o resto é mesmo o resto. Viramos um país de pedintes. Passamos a depender da caridade dos outros, da boa vontade da comunidade internacional. Nenhum país se desenvolve com base em política de mão estendida. Pedimos quando chove e pedimos quando não. Para pequenos e grandes projectos andamos a pedir apoios. Somos um país de eternos pedintes.
Até para repôr a cobertura das escolas que voou com o ciclone IDAI esperamos pela doação dos outros. O governo sempre alega falta de fundos para reparar as latrinas destruídas, as estradas esburacadas. Não há dinheiro para o básico. Sabemos mais promover encontro para peditórios que encontrarmos soluções utilizando a nossa inteligência e recursos disponíveis.
Os poucos fundos de que dispomos são gastos em futilidades como passeios, jantares e em compra de viaturas de luxo para os constructors do terceiro mandato. O Presidente Filipe Nyusi acabou de adquirir 17 viaturas de luxo, sendo 11 Toyota Land Cruiser Prado VX, num valor global de 155.1 milhões de meticais, para distribuí-los pelos primeiros-secretários provinciais e membros do secretariado-geral. Esses virão, em peso, reclamar pelo terceiro mandato para o seu "deus" continuar por mais cinco anos, em uníssono com a OJM (Organização da Moçambicana), tramando, desse modo, o país e seu povo.
Feitas as contas, com o dinheiro gasto na compra dessas viaturas, o salário mínimo bem poderia passar dos actuais 8.750,00 meticais para 17.700,00 meticais, ou ainda, poderia adquirir 51 autocarros de transporte de passageiros que poderiam minimizar o grave problema de transporte de passageiros no Grande Maputo (Cidade de Maputo e Matola). Esse gesto demonstra que a Frelimo não tem políticas públicas que tirem o país do buraco em que se encontra. Para Frelimo, o país começa e termina no seu umbigo. Nyusi é tal como considerava Luís XIV, 1643-1715, rei da França: "L'Etat c'est moi" - O Estado sou eu/A Lei sou eu. Entre nós, a Lei é a Frelimo. A prioridade são eles.
A riqueza nacional, seja do solo, do subsolo, dos rios, lagos, do mar, carvão mineral, gás natural, rubis, grafite, ouro, madeiras, etc., servem para engordar as suas contas bancárias e das suas famílias. Quem trava o desenvolvimento do país não é o colonialismo nem é imperialismo. Quem submete o povo à escravatura com a Bandeira e o Bilhete de Identidade nacionais é a Frelimo através dos seus sucessivos governos.
Comam e desfrutem do sangue do povo, até que, um dia, a gente acorde do sono!
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 23.11.2022