ten-coronel Manuel Bernardo Gondola
Uma reforma do humanismo, que ideias e ideais são necessários para uma vida em comum?
Essa é a pergunta de hoje.
Quando se fala em humanismo, o iluminismo é um marco histórico, social marco é, o movimento iluminista, que entre os seus ideais solidificou e consolidou o projecto humanista, o projecto duma humanidade, um projecto universal. Achille M’bembé, nos ensina na auto-inscrição das formas africanas, é um belíssimo texto, ele vai nos trazer uma reflexão: «tem um lado sóbrio do iluminismo, esse lado sóbrio do iluminismo é justamente de desconsiderar a África como território habitado por gente».
É, como se África, fosse um território não humano, um território de seres que estariam entre humano e inumano, pode reflectir que o iluminismo, as considerações iluministas, também não consideravam que os povos 'indígenas da América' eram humanos eram como se fossem crianças para sempre, ou seja, adultos-criança, seres que precisariam ser tutelados.
De modo que, tem um humanismo que agente precisa revisitar e, porventura mais do que ninguém seja Frantz Fanon, que nos traga 'reflexões' muito interessantes a respeito do que, pode chamar de humanismo radical em que alguns autores e comentadores têm apostado nessa expressão do humanismo radical. Porquê razão? Fanon, está procurando considerar as particularidades, mas propõe uma certa desracialização.
Fanon é um leitor de Freud, é um leitor de Hegel, é um leitor de Marx, dialogou com Sartre e ele está trazendo algumas novidades medida que ele está compreendendo que o fenómeno da colonização é um fenómeno chave para compreendermos o sistema mundo.
Nesse sentido, Fanon vai empreender uma análise que nos ajuda muito a pensar o que ele chama duma sociogénese do racismo; uma sociogénese dos fenómenos para compreender como o projecto de colonização 'impactou' o mundo como um todo. Ou seja, como que essa “aventura da Europa” em catequizar, em organizar o mundo sobre certos moldes, a partir dum certo cano epistemológico, a partir duma certa ordem de organização, sistema de organização que tem relação directa com cristianismo, com uma concepção de cristianismo, uma concepção de catequese, uma concepção de empreendimento colonial isso vai implicar no humanismo cheio de sombras, humanismo que tem sombras muito perigosas.
É evidente que, para reformar o humanismo e pensarmos em outras ideias e ideais por um projecto de humanismo, que possa tornar possível uma vida sem exploração, talvez essa seja uma das chaves. A exploração radical das forças humanas, porque o projecto de colonização e agente vê nos estudos pós-coloniais, de(s)colonial e percebe ele instrumentaliza os povos colonizados. E nesse processo de instrumentalização não resta, não sobra lugar no humanismo a não ser que, esses “não humanos” se transformem em humanos, a partir duma determinada conversão, essa determinada conversão é justamente o próprio risco, é um risco, porque ela ‘impacta' em não reconhecer a humanidade das pessoas de vários grupos.
No entanto, Fanon tem uma pista muito interessante e que tem inclusive influenciado muitas pesquisas e estudos contemporâneos é importante dizer, que Fanon, foi lido primeiramente por intelectuais anti-racistas, intelectuais que tinham ou que estavam estudando a cultura afro-americana no mundo e Fanon, passa a ser mais lido no século [XXI] no mundo académico em geral 'impactando' muitos trabalhos e muitos estudos.
Fanon, está na raiz dos estudos de(s)coloniais, estudos pós-coloniais. Fanon, está propondo, está possibilitando o que. podemos chamar de humanismo radical. Porquê humanismo radical? Fanon, está propondo uma desracialização da experiência e uma afirmação, ou seja, uma afirmação das particularidades.
O que é que está em jogo para Fanon, para pensarmos os ideais e as ideias para o humanismo?
Mais uma vez, Fanon, está nos ensinando que precisamos 'conciliar' os interesses particulares e os interesses universais. Se o humanismo cheio de sombras do iluminismo desconsiderava as particularidades e buscava uma conversão no projecto de colonização, Fanon está nos ensinado que essa 'conciliação' é inevitável e necessária, ou seja, é fundamental reconhecer a humanidade de todos, e é fundamental enfrentar e encaminhar as particularidades, as necessidades específicas de acordo com todas as conjunturas, de acordo com cada conjuntura.
Com certeza, com isso Fanon, não está pensando num sujeito humano abstracto, mas ao mesmo tempo Fanon, não está abrindo mão de um humanismo universal, isso é fantástico à medida que ele está trazendo uma nova chave de leitura.
Diria que, Frantz Fanon , para quem tem interesse em pensar, e repensar o humanismo , quem tem interesse em repensar formas de sociabilidade que sejam confortáveis , que sejam viáveis no mundo contemporâneo, eu diria que Frantz Fanon, nos «Condenados da Terra» e tantos outros trabalhos , como peças teatrais e outros trabalhos interessantíssimos , seus escritos políticos e o seu emblemático «Pele Negra, Mascaras Brancas» ,oferece chaves de leitura que são extremamente poderosas, porque a potência da particularidade ela se junta a potência do universal para que agente possa produzir e realizar o humanismo radical.
Portanto, humanismo radical de Frantz Fanon, talvez seja uma das bases para os ideais e para as ideias duma forma de convivência em que agente possa enfrentar os conflitos, e os conflitos não sejam motivo para desumanizar o[s] nosso[s] imigo[s], os nossos rivais. Talvez essa seja uma das pistas fundamentais.
Manuel Bernardo Gondola
Maputo, aos [23] de Novembro, 20[22]