ten-coronel Manuel Bernardo Gondola
Pois bem, a primeira coisa que vem a mente é, porque decolonial e não descolonial ou pós-colonial. Eu vou falar disso na segunda parte desta carta, porque primeiro precisamos entender de onde vem isso, porque que essa construção de pensamento é importante. Se agente está a falando de decolonial, obviamente estamo-nos referindo a uma outra 'estrutura' de pensamento a colonial logo, só é possível decolonizar, porque existe uma colonização.
Você sabe, que nós fomos uma colónia, mas o facto de termos sido colónia não faz com que nossa forma de pensar, viver, sentir e existir tenha deixado de ser colónia junto com a independência de Moçambique em 19[75], por isso, que nós temos que fazer a 'construção' de um pensamento de(s)colonial.
Mas, o que é que é o pensamento colonial? O pensamento colonial surge na Europa, a partir do século [XV], como uma forma de 'construir' o pensamento que coloca a Europa como 'centro' do mundo. Ou seja, dentro duma escala de referência, duma hierarquia de valores a Europa está no top e, todas as outras formas de pensar, de sentir, de existir, de produzir arte são inferiores à da Europa, o que transforma o mundo todo em uma busca constante desse aproximar daquilo que a Europa já conquistou.
Já que, terminar de ser colónia, deixar de ser colónia não nos faz necessariamente de(s)colonias é necessário que agente tente, ou, que agente faça o esforço de pensar outras maneiras de existir no mundo, de pensar o mundo, de sentir o mundo que não necessariamente a europeia, porque afinal a gente não é Europa, nós estamos aqui em Moçambique e. agente tem que dar esse passo para que, nossa própria forma de pensar, de sentir, de conhecer exita.
Portanto, o pensamento de(s)colonial é um pensamento que coloca a Europa numa 'horizontalidade' com outras formas de pensar, de sentir, de viver e de conhecer. Ou seja, dar espaço para outras formas de existirem e coloca elas dentro duma mesma categoria na escala de valores, onde ela não é o melhor para aquilo aonde agente deve caminhar, o lugar nosso destino necessário, mais, mas uma entre outras várias formas de pensar e de viver no mundo.
Segundo, vou tentar responder como é que é compreendido o termo descolonial e o termo decolonial dentro das pesquisas tradicionais e contemporâneas.
Em português a gente encontra nos textos tradicionalmente o termo 'descolonial 'é possível encontra-lo desde o final da década de [50] do século passado juntamente com as discussões pós colonias africanas. No entanto, a pesquisadora Catherine Walah, que é professora da Univerdadede de Antenna Simão Boliva, em Quitre Equador e, parte do grupo modernidade e colonialidade que vem desde 19[98], pensando a questão colonial na América-latina, ela faz uma proposta:
«excluir o "s" é escolha minha. Não é promover o anglicismo. Pelo contrário, pretende estabelecer uma distinção com o significado em espanhol de "des” e o que pode ser entendido como um simples desmontar, desfazer ou reverter do colonial. Ou seja, passar de um momento colonial para um momento não colonial, como se fosse possível que seus padrões e traços deixem de existir».
Pois bem, porquê aderir ao decolnial da Catherine Walah. na verdade, o termo decolnial não é só da Catherine Walah, ele vem sendo utilizado pelo grupo modernidade, colonalidade que é o grupo latino-americano que desde 19[98], vem problematizando, discutindo o legado colonial na América-Latina e, outras possibilidades de pensar, que saem da lógica eurocêntrica. E como eles adoptaram o decolonial, pensadores africanos, brasileiros começaram a adoptar, e eu mesmo comecei a adoptar o decolonial, mas depois fiz pesquisas e comecei a problematizar esse uso e, ao problematizar esse uso cheguei a um estudo contemporâneo do uso da partícula "des” em português.
Por exemplo, os pesquisadores Camila de Boa e Pablo Nunes Ribeiro, chegam na seguinte conclusão. Eles consideram que em português o uso da partícula "des" como negação é uso antigo, que na verdade, a partícula "des “aponta para o sentido de reversão duma trajectória e não duma negação duma trajectória. Destarte, depois de ter entrado em contacto com essa pesquisa eu resolvi adoptar em português o descolonial dentro do uso corrente do português brasileiro, porque é mais corrente manter a gramática do português descolonial, porque o termo descolonial não teria haver com a negação proposta pela Catherine Walah.
Por isso, eu prefiro adoptar o termo descolonar com o "s ". e eu convido a todas e todos a utilizar o desconial ao invés do decolonial respeitando o uso comum da língua portuguesa e descolonizando os nossos próprios usos de termos teóricos.
correcto!
Manuel Bernardo Gondola
Maputo, [09] de Novembro 20[22]