Por Edwin Hounnou
As seitas religiosas, no nosso país, crescem na mesma proporção da fome, miséria e da ignorância. A propagação das mais variadas seitas religiosas encontra terreno fértil nas comunidades fustigadas pela pobreza e com pouco conhecimento sobre os que encontram mergulhadas e ausência de indicar como encontrar caminhos e soluções servem de condimentos para o surgimento de muitas seitas religiosas. Essas seitas religiosas trazem consigo a pobreza material, a vulnerabilidade espiritual e deixam as pessoas numa ilusão. Não é o laicismo do estado não toleram mentira. A liberdade religiosa não pressupõe abusar a inocência dos seus seguidores.
Nos nossos bairros e povoados há mais igrejas que centros de alfabetização de adultos onde se ensina a pedir que Deus faça algum milagre para emprego, de cura, sorte, ser promovido no serviço. Ensinam a roar pela chuva e boa colheita nas machambas. Ensinam como roar para termos um prato de xima, matapa. As comunidades são ensinadas, sempre que se dirigirem a Deus, a pedir algum milagre, mostrando que são incapazes de tudo, incluindo o de produzir alimentos para si.
Ninguém pede forças para produzir alimentos para manter a família longe da fome e da miséria. Ninguém pede a Deus para lhe dar inteligência a fim de ser um bom professor, bom enfermeiro, bom medico, bom engenheiro, um honesto alfandegário. Ninguém pede para ser um cauteloso motorista de machimbombo de modo a evitar acidentes. Ninguém roga a Deus para que os poucos fundos que existem sejam aplicados no que é necessário e evitar que sejam roubados por gatunos de colarinho branco.
Ninguém pede a Deus para lhe dar a coragem ao povo a fim de lutar contra a corrupção. Todos pedem para que tenham um marido e/ou esposa, uma boas casas e boas viaturas sem que tenham feito algum esforço para o merecer. Todos choram e gritam pela dádiva, para que Deus lhes dê comida e vida boa. As nova seitas religiosas, que surgem por todos os cantos como cogumelos em tem tempo de chuva, nos ensinam a pedir tudo. Elas são uma das portas por onde entra a pobreza que nos dominam.
Essas seitas incitam aos seus seguidores a darem tudo como casas, viaturas, alegando que "quem não dá, nada receberá". Conhecemos pessoas que deram tudo, incluindo apartamentos, viaturas com a promessa de que receberão a dobrar, mas acabaram nas calçadas das ruas. Outros furtaram dinheiro e bens às suas famílias para ofertarem à igreja e acabaram na penúria. Ensinam aos seus seguidores a roubar o pouco que as famílias têm para oferecerem, tornando seus pastores e apóstolos podres de dinheiro.
Que Deus ensinam essas seitas? Outras viraram um ring de boxer onde, domingo a domingo, se assistem sessões de pugilato entre as facções rivais, ainda chamam a isso de Igreja. É uma blásfemea contra tudo que seja boa coisa que se deve ensinar para que tenhamos uma sociedade solidária. Nessas seitas, o dízimo está acima de qualquer outra coisa. O pastor que "desconseguir" atingir a meta estabelecida, pode correr o risco de perder "emprego", esses seitas vivem de burla e ilusionismo.
É inaceitável que haja pastores a enganarem impiedosamente as pessoas. Ainda se toleram pastor que aldrabam seus seguidores com supostas visões. Alguns dizem, em voz alta, que receberam, nas suas casas, visita de Paulo, - o ferveroso apostólo de Cristo - e batem palmas. É incrível que haja "apóstolos" a dizerem que estiveram no "paraíso" com Abrão, o patriarca. Desafiam que o podem descrever, que viram o brilho das suas sandálias. A plateia bate palmas e os supostos acompanhantes ao "paraíso" saltitam, para animar a peça teatral. Nada acontece com os que brincam com o sentimento das pessoas. A falta de seriedade é generalizada. A mentira anda na ponta da língua. Esta é uma das razões que explica o estado do raquítismo político e de subdesenvimento económico em que nos encontramos.
Há governos africanos que fecharam várias centenas de igrejas de seitas religiosas por falta de clareza no seus objectivos e por criarem confusão nas pessoas. Os fracassados, desempregados e outros paralisitas procuram refugiar-se em seitas religiosas para se arranjarem na vida aldrabando os menos atentos. O Estado não pode continuar a assistir sereno a extorsão e o embrutecimento das populações.
O governo nada faz para impedir a proliferação de igrejinhas que mais se confundem com ópio do povo do que com uma coisa qualquer que estimule os seus seguidores. Para se ter sua igreja, basta ter uma garagem ou quintal vedado de espinhosa. Chama vizinhos e amigos e começa a incomodar o quarteirão com gritaria. Nao custa nada.
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 02.11.2022