Por Edwin Hounnou
Os trabalhadores da TMcel estão a receber os seus salários de sete meses em em atraso. A alegria deve ter coberto seus corações e tornado leves seus passos. Temos amigos na TMcel que andavam trôpegos e envergonhados por falta de salários. O salário a receber ao fim de cada mês deve ser como algo sagrado. Ninguém tem o direito de atrapalhar que o salário chegue, a tempo e hora, ao trabalhador.
O salário é sagrado para todos, para ricos e pobres. Para quem trabalha para uma outra entidade, pública ou privada, não pergunta sobre a proveniência do dinheiro que recebe. Como a patronato consegue dinheiro, é uma questão que não da telefonia móvel. O que tem acontecido para descalabro? O que faz levar as empresas públicas, de modo geral, à falência e despedimento da força laboral?
A má gestão e o saque de fundos têm concorrido para que as empresas públicas tenham um mau desempenho económico e estejam quase todas sob a linha vermelha, o que termina em fechar as portas com despedimento dos trabalhadores.
No país, é muito raro ver uma empresa pública economicamente rentável, por razões de todos conhecidas. As elites político-económicas tomam as empresas públicas como seu saco azul fossem para financiar actividades partidárias, tais como campanhas eleitorais. Com tal tipo de gestão, nenhuma empresa pode ser rentável. A outra doença que se abate sobre as empresas públicas é o excesso de trabalhadores improdutivos.
Estão pejadas de camaradas do partido, tias e tias, sobrinhas e sobrinhos, compadres e comadres, afilhados e afilhadas, vizinhos e vizinhas, amigos e amigas que nada fazem. Uma tarefa que deveria ser executada por um trabalhador acaba sendo feita por cinco ou por mais, para além da ausência de critérios de boa gestão.
O esbanjar dos recursos financeiros anda na ordem do dia com passeios tanto por dentro do país assim como internacionais. Os seus quadros passeiam por seminários, workshops, trocas de experiência, etc., como consequência, não restam fundos para salários nem para a reposição do stock da matéria-prima e outros insumos para manter a empresa a funcionar com a normalidade necessária. Não podemos fingir que tudo esteja bem.
A empresa pública não tem, à partida, uma certidão de morte certa. O que mata as empresas públicas é o tipo de gestão que se lhes impõe. É a má qualidade dos seus gestores. Não há nenhum feiticeiro para além dos seus gestores. Um gestor ganancioso, incompetente e subserviente aos recados políticos escangalha a empresa pública. A mão política feito tem sido um cancro que afunda as empresas públicas.
Acompanhamos através de plataformas de comunicação social sobre a necessidade de privatizar as empresas públicas. Achamos que a privatização não deve ser tomada como solução última. A escolha por concurso público ou mesmo internacional pode ser uma saída airosa. Renomadas empresas de outros países experimentaram esse caminho e deram-se bem. Porquê não podemos, também, experimentar?
A privatização não pode ser tomada como a única saída para o problema da insolvência das empresas públicas. O falso nacionalismo que alguns nutrem não ajuda a resolver nada. Se não houver quadros nacionais à altura, importemo-los de fora. Para tal, temos que nos despir do nacionalismo infundado. Não tenhamos vergonha nem medo de importar competência ou de pagar bem a quem nos possa tirar do buraco.
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 21.12.2022