EUREKA por Laurindos Macuácua
Cartas ao Presidente da República(122)
Presidente: hoje quero lhe faiar de mim. É desabafo. Certa vez, quando eu era pequeno, o meu pai perguntou-me o que é que eu queria ser quando fosse adulto. Respondi-lhe com convicção: quero ser ministro. E não tardou a sovinha escolar: não. filho. Ministro não. Escolha outra coisa. Tu mereces melhor que isso.
E não sou nenhum ministro. Ou melhor: segui o conselho do meu pai. E. por não ter encontrado a minha vocação, perdi-me entre o jornalismo e tentativa frustrada de ser um escritor. Mas isto não é para mim. Pensar dói. É um processo doloroso. É como estar numa prisão de máxima segurança, numa cela solitária: todos os dias são sombrios. O pão negro da cela, a magra porção de caldo que servem, ser rudemente tratado, brutalizado por carcereiros. Dói. Dói muito!!
E esta semana operou-se-me uma destas revoluções que as grandes crises produzem no ser humano: descobri a minha vocação. Eureka! Depois de tanto tempo experimentando isto e aquilo!? Definitivamente nasci para isto: quero ser ladrão!
Foi na quarta-feira. 7, que descobri, finalmente, o que se me destina. De resto- sem querer me gabar-, eu nasci para grandes voos. Aqui é fácil um individuo ser Presidente da República, super-mintstro como o Celso Correia, mas ser ladrão?! Não é fácil. É para os eleitos. Tem que ter sangue azul ou, então, costas quentes, cunhas. É uma nobre profissão, por isso que não c para muitos. Se os outros tèm os seus paraísos fiscais, nós temos um paraíso para ladrões. Até podemos exportá-los. Ganhar uma pipa de massa. Veja o caso de Manuel Chang. por exemplo, está lá a dormir, a “coçar” há quase quatro anos na sua cela de Modderbee. Tem tudo pago. É como se estivesse num spa, até os advogados é a PGR que paga, com dinheiros públicos.
É esse tipo de ladrão que quero ser! Ladrão-excelência ou excelência -ladrão. Tanto-faz. O importante são as máquinas, mansões, mulheres...
Na quarta-feira, quando o juiz lia a sentença ali na tenda gigante da BO. o António Carlos do Rosário quando lhe disseram: "Vai o réu condenado a 12 anos de prisão", libertou um sorriso. Era de contentamento. E invejei -lhe a fortuna. Roubar tantos milhões e ter uma pena tão insignificante. Que ser humano não quereria estar no lugar de Ndambi?
Que ser humano não gostaria de estar no lugar do tal New man? Roubar e ter toda a máquina da PGR para lhe defender.
Ser ministro ou Presidente da República cansa. Seguir determinados protocolos. Ter guarda-costas a sondarem-nos os movimentos. A espreitarem-nos pelo buraco da fechadura como é que fazemos amor com a nossa esposa. Se somos bons na cama ou não. Ter criados que conhecem as nossas fragilidades no manejo de talhares. Fofocarem às nossas costas, na cozinha!
Definitivamente não é para mim!
Eu quero ser ladrão. Só que me faltam costas quentes. Fui à sede do partido Freiimo tentar meter o meu C V. mas não auguro grandes coisas. O indivíduo que recebeu o documento até disse: "Se não conheces alguém aqui, o teu processo vai ser atirado para uma gaveta empoeirada. São muitos que estão na fila". Senti a espinha gelar.
E agora estou aqui, diante de si. Presidente: peço orientação. A quem devo entregar o C.V?
DN – 09.12.2022