Por Edwin Hounnou
Um país que se preza não pode aceitar um presidente que, sempre que entender, vai à praça dizer o que lhe vai na alma. Há cerca de dois meses, Filipe Nyusi disse que há empresários das gasolineiras estariam a financiar o terrorismo. Agora diz que há indivíduos que se fazem políticos enquanto não passavam de recrutadores de jovens para as fileiras dos terroristas que, desde Outubro de 2017, têm vindo a assassinar e a destruir infraestruturas, em Cabo Delgado. Voltou a dizer os proprietários de parques de venda de automóveis estariam a financiar o terrorismo. Nyusi está a infundir medo em políticos e empresários, para depois pescar em água turvas.
Seja verdadeiro ou falso, isso pouco importa nem faz parte da nossa discussão, porém, o que importa mesmo é por que motivos tem que ser o Chefe de Estado, ou seja, o Comandante-Chefe, a fazer esse tipo de comunicação, aparentemente, infundada. Nyusi será o porta-voz das Forças de Defesa e Segurança para aparecer sempre a falar da movimentação ou intenções do inimigo? Por que não deixa essa tarefa para os serviços da contra-inteligência militar ou SISE (Serviço Informação e Segurança de Estado)? Nyusi quer parecer que trabalha. Está a usurpar tarefas de outras instituições.
Quando falou que gasolineiras estariam a financiar o terrorismo, muitos dos visado abandonaram o negócio e saíram do país, de maneira precipitada, com medo de serem apanhados na rede. Não sabemos se todos financiavam, na verdade, o terrorismo ou abandonaram o país por saberem que há tradição de perseguição, algumas vezes, infundada contra pessoas de bem. Nyusi ao anunciar a existência de empresários das gasolineiras que financiam o terrorismo pretendia afugentá-los, como veio a acontecer. A ser verdade, deveria incriminá-los e não pregar-lhes um susto.
Nyusi volta a fazer jogadas igual, acusando o que ele chama de indivíduos que se fazem passar por políticos, mas que não passam de recrutadores de jovens que engrossar as fileiras do terrorismo. Qual é a intenção de Nyusi ao voltar a bater na velha tecla de acusação? Quanto a nós pensamos o Presidente pretende perseguir e silenciar a Oposição com o protesto de estar a recrutar jovens para o terrorismo. Lembremo-nos de que isso pode concorrer para que a Oposição se sinta intimidada e não trabalhe para não ser confundida. A segunda hipótese é de que Nyusi tem uma forte veia para acabar com Estado de Direito e Democrático e, no seu lugar, impor um Estado de terror.
Não custar concluir que é isso que Nyusi vem perseguindo. Basta nos recordamos o recurso aos esquadrões da morte que raptavam e matavam membros da Oposição, com destaque para dirigentes da Renamo. O país tem instituições de justiça implantadas em toda a extensão do território nacional, não havendo, razão que justifique o recurso aos assassinatos para ter o caminho aberto para as supostas vitórias retumbantes e asfixiantes, como gostam de proclamar os frelimistas ferrenhos.
O jogo democrático pressupõe liberdade do pensamento diferente sem passarmos a ser inimigos uns dos outros como resultante de pensamento diferente. Isso é fundamental em democracia para o fortalecimento e consolidação da democracia. Em Moçambique, depois de 48 anos de Independência nacional e 30 anos depois da introdução do sistema multipartidário, ainda nos classificamos amigo ou inimigo dependendo se pensa como nós ou diferente de nós e nos matamos. A mão estranha que perturba a paz somos nós mesmos que expulsamos os colonialistas e ainda não temos a coragem de expulsar o colonialismo.
Nyusi tem que aprender a conviver com aqueles que não gostam de si, com a Oposição ao seu governo e, por isso, deixar de inventar fantasia, de intimidar os outros porque a careca está ficando descoberta e as suas invencionices já não meter medo a ninguém. Deveria ser respeitado por ser o presidente de todos os moçambicanos e não como um depositário de perigosas informações capazes de tramar ou de queimar os outros. Nyusi está habituado a falar de qualquer maneira. As pessoas esperam ouvir a voz do seu presidente anunciando boa nova e não de qualquer coisa.
Nyusi está a vulgarizar-se. Nem que queria aparecer para agilizar e o muito badalado terceiro mandato, não precisa se jogar ao matope como tem vindo a fazer. Importa ainda saber se Nyusi tem assessores à altura ou tem apenas milicianos que lhe gritam ao ouvido: "Hossana, Hossy yanga, tu és o sol que nunca desce", à maneira norte-coreana.
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 28.12.2022