Mandaram carta a dizer a ministra para não “abrir” a igreja e pedem cassação da licença
Grupo de Matlombe exige desassociação da OAC sede na África do Sul
Chegam a acusar a liderança suprema da igreja de financiar terrorismo
Se dependesse do agora emérito Apóstolo Jaime César Matlombe, o Governo, através do Ministério da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos, não teria levantado a 23 de Dezembro passado a suspensão dos cultos na Igreja Velha Apostólica em Moçambique, que vigorava desde 18 de Outubro último. Um documento datado de 16 de Dezembro, dirigido à ministra Helena Kida, interceptado pelo Evidências, revela o esforço da ala Matlombe de tentar influenciar, sete dias antes, a decisão da dirigente, dando a entender que a situação tumultuosa continua. Mas mesmo com a exposição assinada pelo ex-secretário-geral , Nicolau Mabunda sobre a mesa, o ministério reabriu a igreja e no dia 27 notificou as partes para se pronunciarem, dentro de cinco dias, sobre o conteúdo da missiva.
No passado dia 23 de Dezembro, o Ministério da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos decidiu levantar a suspensão das actividades daquela congregação religiosa para permitir que os crentes pudessem passar as festas do Natal e do final do Ano num ambiente de união, uma decisão que foi acolhida com bastante agrado pela congregação e a actividade religiosa retomou num ambiente de festa e cordialidade.
O que não se sabia é que a decisão da Ministra Kida não é do agrado da ala de Jaime Matlombe, que, dias antes do levantamento da suspensão, tentou persuadir o Governo a não “abrir” a igreja, alegadamente porque a situação conflituosa ainda não foi completamente resolvida.
A referida exposição é datada de 16 de Dezembro, curiosamente cinco dias depois da ordenação de novos apóstolos para a reconfigurada província apostólica de Moçambique, numa cerimónia bastante concorrida na África do Sul, onde se localiza a sede e a liderança da igreja a nível mundial.
Numa altura em que os membros têm lançado mensagens de a união e reconsciliação, sem apresentar evidências concretas, Mabunda, que era secretário-geral na era Matlombe, diz que a situação na igreja está pior do que antes da suspensão das actividades e adverte que pode resvalar em violência. Aliás, chega a insinuar que alguns membros da igreja sejam terroristas.
“A situação actual mostra-se mais exacerbada e propensa para resvalar em violência mais grave do que aquela que ditou a suspensão das actividades da Igreja Velha Apostólica em Moçambique. A situação é de total imprevisibilidade e, as aparentes actividades internas para a radicalização dos jovens, aliado ao histórico que ditou a eclosão dos actos terroristas em Cabo Delgado, deve chamar atenção à necessidade de contenção da situação prevalecente na Igreja Velha Apostólica em Moçambique”, apelou.
Prosseguindo, Mabunda apelou a ministra para não levantar a suspensão das actividades da Igreja Velha Apostólica em Moçambique, o que parece não ter sido atendido pois seis dias depois da exposição dar entrada a ministra Helena Kida decidiu levantar a punição o que permitiu que os crentes voltassem aos cultos num ambiente cordial, não tendo sido reportado, até o momento nenhum incidente.
“Concluímos referindo que há um enorme receio de que o levantamento da suspensão e o regresso aos cultos, possa ser muito mais problemático e, em face do actual cenário, aliado ao facto de maior parte de crentes da mesma seita não reconhecer como Apóstolos, os membros ordenados no dia 11 de Dezembro de 2022, em Nelspruit”, refere.
Ala Matlombe quer cassação da licença da igreja e independência da África do Sul
Mais do que o alerta às autoridades, a missiva da ala Matlombe à ministra Helena Kida deixa a transparecer o que pode ser entendido como a preparação de um golpe palaciano na Igreja Velha Apostólica. É que, a carta termina pedindo a revogação da licença da igreja em Moçambique e a declaração da sua independência da África do Sul.
“A única e última medida que se mostra ajustada e justificada fosse a seguinte: 1. Cassação Definitiva da licença para o exercício das actividades da Igreja Velha Apostólica em Moçambique até que existam condições para o efeito; 2. Em caso de consenso, uma das condições para a reabertura ou registo deve ser a desassociação da igreja da África do Sul (OAC) pelo facto de existir fortes indícios no envolvimento do financiamento ao terrorismo e ainda pelo facto de ser predominante o racismo e apartheid, factores proibidos pelas organizações internacionais em todo Mundo”, lê-se na nota que escancara o nível de ganância de alguns líderes religiosos.
Mas pelo meio há acusações graves que podem transformar um caso de disputa de dízimo em caso de polícia. O secretário-geral de Matlombe acusa a liderança suprema da igreja na África do Sul de falta de idoneidade e de estar envolvida na venda de armas de fogo, com nome do Presidente da República, Filipe Nyusi à mistura.
“Por fim, não se conhece o nível, muito menos o papel e grau de envolvimento da componente, principalmente da OAC, sediada na RSA, nos eventos que afectam a Igreja Velha Apostólica em Moçambique porque, numa ocasião anterior foi denunciada, no decurso de um evento do Apostolado da Igreja da Província da Africa e Médio Oriente, uma tentativa de uma componente estrangeira para que, através dos responsáveis da igreja Velha Apostólica em Moçambique pudesse ser explorado um mecanismos por meio do qual se pudesse vender armamento ao Governo de Moçambique, num negócio em que todas as partes envolvidas sairiam a ganhar entretanto, a denúncia publicamente feita, alem de frustrar as expectativas, gerou um ambiente de mau estar nas pessoas que, aparentemente, ligada à igreja, pretenderam lograr esse propósito. A situação acima referida, foi partilhada a Sua Excelência Filipe Jacinto Nyusi, Presidente da República de Moçambique pelo Apóstolo Jaime César Madombe, em 2016”, lê-se.