EUREKA por Laurindos Macuácua
Cartas ao Presidente da República (121)
Hoje, Presidente, quero lhe falar de um ex-chefe do polémico Comando Conjunto, organismo que, aparentemente, engendrou o calote que veio a vulgarizar o nome de Moçambique nos quatro cantos do mundo.
O que me leva a lhe falar deste chefe intocável, é o facto de estar em curso, na cadeia da BO, a leitura da sentença do caso das dívidas ocultas que, inequivocamente, vai condenar os restantes membros daquele Comando.
Mas um (o chefe) escapou… Doeu ter que ver o Mutota, ao longo de mais de seis meses que durou o julgamento, sentado naquela tenda gigante e vestido a “rigor”: calças e camisa e máscara, tudo cor de laranja.
E cada vez que era perguntado sobre o calote, as suas respostas remetiam, insistentemente, ao seu chefe; o chefe do Comando Conjunto. Mas esse chefe não esteve lá na tenda.
Não acha, Presidente, que se o rigor no cumprimento das leis fosse aplicado a todos e se o sistema judicial moçambicano funcionasse com critérios ideais de eficiência e justiça, o tal chefe do Comando Conjunto também estaria hoje na cadeia?
Porque da maneira como as coisas correm, é como se Moçambique não dispusesse de leis que demandam lisura e competência na gestão do Estado! Dá pena ver homens adultos: Gregório Leão, Nhangumele, Mutota, Renato Mautusse e outros ali naquela tenda, remoer tristeza e arrependimento. Tristeza por estarem longe das respectivas famílias. A mulher a ser cobiçada pelo vizinho.
O nigeriano do contentor a exigir o dinheiro dos produtos que foram levantar com promessa de pagar no fim do mês, mas a TSU fez das suas. Arrependimento por se terem metido numa aventura tão cheia de espinhos como o que se vai revelando agora.
O chefe? Esse escapou! Deve ser muito esperto o chefe. Não acha, Presidente?
A minha avó sempre dizia: meu neto, a esperteza, quando é muita, come o dono! Ela não pode estar enganada!
Veja, Presidente, que dos membros do Comando Conjunto, o tal chefe é o único declarante ouvido em sede de instrução cujas declarações não foram confirmadas em audiência. Não é batota isso?!
E eu qualifico de vergonhosa a atitude desse chefe. Fez (ou faz)de Moçambique uma republiqueta.
Ele, o tal chefe, ao não assumir a sua parcela de culpa, ao deixar o Mutota agrilhoado sozinho, mostrou aos moçambicanos e ao mundo que Moçambique não tem instituições de justiça confiáveis. Com a sua atitude, o chefe ratificou que não tem nenhum limite. Se chegar à conclusão de que avacalhar o País perante tudo e todos pode render-lhe algum benefício, ele o faz sem pestanejar.
Não há razão pública, ou consideração sobre a imagem do País, capaz de detê-lo. Não há nem sequer resquício de vergonha pessoal. Definitivamente, esse chefe odeia Moçambique e os moçambicanos. Não tem o menor apreço pelo País.
DN – 02.12.2022