Em um momento em que as atenções da mídia mundial estão voltadas para os episódios da guerra na Ucrânia, outros conflitos importantes acontecem neste momento sem a mesma cobertura internacional; as chamadas 'guerras esquecidas' que pouco se ouvem falar ou despertam pouco interesse dos meios de comunicação no mundo, apesar de trovoarem crimes contra humanidade quotidianamente.
E, hoje, vou contar um pouco para você[s] as duas guerras do Congo-Zaire, que também são conhecidas como a grande guerra africana ou então como a guerra mundial africana, isso pela quantidade de países envolvidos e pela quantidade de mortos que são estimados entre [3] / [5] milhões de pessoas, tanto mortas directas, quanto indirectamente. Directas pelo conflito em si e indirectamente por questões como; falta de comida, falta de acesso a saúde, falta de medicamentos e a falta de condições de higiene. Lembrando, que nesse conflito, também decorreram diversos actos de genocídio com pessoas, com populações civis, sendo dizimadas por grupos militares e paramilitares.
A causa dessa guerra está ligada ao processo de independências dos países africanos como foram estipulados, como foram formados os grupos de poder após e independências e as questões raciais dos conflitos entre as etnias Tutsi e Hutú. Como elemento não mandatório, mas com alguma influência nesse xadrez político da África, podemos incluir a questão da guerra fria e o rescaldo da guerra fria na década de 19[90] e, também questões referentes à economia.
Os principais beligerantes dessa guerra foram o Congo-Zaire, sendo que todos os conflitos armados ocorreram dentro do Congo-Zaire, Ruanda e Uganda havendo outros países com participação menor como; Angola, Burundi, Chade, Zimbabwe e…entre outros países. Para compreendermos como esse conflito surgiu precisamos falar um pouco sobre o processo histórico dos três principais países envolvidos na guerra: O Congo-Zaire, Ruanda e Uganda.
O Congo-Zaire, teve a sua independência em 19[60], e chegou ao poder como Primeiro-ministro Patrice Lumumba, que acabou sendo assassinado. Em 19[65]. Móbutú deu um golpe militar e chegou ao poder se tornando um ditador e teve uma das mais longas presidências africanas de mais de [30] anos. Móbutú, foi um dos ditadores mais 'possessivos' do século [XX], ele instalou uma verdadeira cleptocracia no Congo-Zaire.
O Congo-Zaire, é uma nação muito rica na área de mineração, como na mineração de cobre, diamantes, tântalo, sendo que o tântalo é um componente muito importante para o equipamento de alta tecnologia, mas a população do país não via o retorno dessa riqueza, enquanto boa parte da população vivia nas infra -condições humanas, o Móbutú vivia uma vida de 'lordes'. Móbutú, construi diversos mancões, ele tinha um aeroporto particular que no qual podia desembarcar aviões de grande porte, ou seja, era uma verdadeira cleptocracia, o grupo em torno de Móbutú conseguiu 'pilhar' toda nação e renegar a população congo-zairota a miséria e sofrimento.
Um ponto importante na Constituição do Congo-Zaire é uma região chamada banyamulengué. Em banyamulengué, há uma grande maioria da população Tutsi que são refugiados que vieram de Ruanda, atravessaram a fronteira e se instalaram nessa área e por serem uma minoria étnica sofreram muita repressão, perseguição e vão ser um elemento fundamental quando ocorre a guerra do Congo-Zaire.
Uma figura, também muito importante para todo o desenrolar da guerra é a do Laurent Kabilá. O Laurent Kabilá, surgiu como uma figura de oposição a Móbutú na década de 19[60], ele era um guerrilheiro ligado a pensamento de esquerda [marxista]; Kabilá chegou a ter contacto com Che Guevara, quando Che Guevara foi ao Congo-Zaire para tentar levantar uma guerrilha de esquerda e o Kabilá se manteve durante muito tempo envolvido com guerrilha, com grupos paramilitares e quando chegou o momento da guerra ele acabou se tornando uma figura muito importante.
E, como podemos ver, a questão da guerra fria se vê presente no Congo-Zaire, com Laurent Kabila ligado a uma figura como Che Guevara, da mesma forma o Móbutú foi bastante apoiado pelos países ocidentais. Logo, a divisão ideológica indicava o Capitalismo e o Socialismo ou o Comunismo. Na guerra fria, também teve o seu rescaldo pela África, por exemplo, um país como Angola, teve bastante apoio por parte da União Soviética, portanto eliminar a possível expansão de regimes socialistas pela África fez com que uma figura como Móbutú ganhasse apoio pelos países do ocidente.
Já o Uganda, teve a sua independência no ano de 19[62] em 19[71], o Idi Amin Dada, chega ao poder através de um golpe de Estado. Lembrando, que o Idi Amin é outra dessas figuras ditatórias muito 'estranhas' que surge através de violência com ideias que são no mínimo 'estranhas' e 'esquisitas' como por exemplo, criar o fundo ugandês para salvar a Inglaterra ou então se autodeclarar o novo Rei da Escócia. O Idi Amin, ficou [8] anos no poder e foi derrubado no ano de 19[79]. Na queda do Idi Amin Dada, uma figura que foi relevante e que seria relevante, também na grande guerra africana foi a de Yoweri Museveni. Museveni, foi uma figura uma liderança guerrilheira e paramilitar que participou da movimentação para derrubar o Idi Amin Dada. Quando o Idi Amin, caiu quem chegou ao poder no Uganda foi Milton Obote e que permaneceu no poder até 19[86]. O Museveni, continuo a sua guerrilha e se tornou oponente de Obote, que em 19[86] ele conseguiu derrubar o Governo de Obote e por essa via tornou- se Presidente de Uganda.
Entre as tropas do Museveni, haviam diversas pessoas de origem Tutsi de Ruanda, foram pessoas que eram refugiadas da perseguição desse país que foram para o Uganda e acabaram se envolvendo com esses grupos militares; uma dessas figuras é Paul kagamé, uma figura também extremamente relevante para os factos agora em discussão.
Paul kagamé, tornou-se uma figura muito próxima ao Museveni, quando este chegou a Presidência do Uganda, e esses grupos Tutsi que formavam esse grupo militar de Museveni formaram uma nova organização que era Frente Patriótica do Ruanda, que era liderada por kagamé.
Já o Ruanda, obteve a sua independência em 19[62], é um país muito marcado por conflitos étnicos entre os grupos Tutsi e Hutú. Os Tutsi são uma memória numérica, mas compõe a 'elite' do país; já os Hutú compõem a grande maioria numérica, mas são aqueles que pertencem as camadas mais baixas do Ruanda. Logo, o choque entre esses dois grupos era algo muito presente na história do país, tanto que, houve refugiados que foram para o Uganda e muitos deles integraram as Forças de Museveni, enquanto outros que foram para o Congo-Zaire ocupando a região de Banyamulengué.
Em 19[73], chega ao poder em Ruanda, Juvenal Habyarimana. Habyarimana era Hutú, e durante o seu período de Governo ele acabou favorecendo justamente os grupos Hutú no país. Habyarimana é aquele tipo de figura que vai se 'sustentando' no poder através de diversas eleições no mínimo discutíveis, por exemplo, ele chegou a obter [98%] dos votos. Mas…enfim, ele ficou muito tempo no poder e, o seu Governo acabou apenas quando ele morreu em 19[93], a sua morte foi devido a um acidente aéreo, o avião onde ele estava caiu e muitos afirmam que o avião havia sido abatido por um grupo Tutsi.
A morte de um presidente Hutú inflamou o ódio dos Hutú, clamando que havia um inimigo Tutsi que havia cometido um homicídio e, foi justamente esse inflamar, essa morte dessa liderança que veio a dar origem a um dos maiores genocídios da segunda metade do século [XX] que foi o genocídio do Ruanda.
Em 19[94], diversos grupos Hutú começaram a matar a população Tutsi de Ruanda e isso se tornou num dos maiores dramas humanitários da década de 19[90], há apontamentos, de que, o número de mortes sobre o genocídio foi de [500] / [800] mil pessoas e é aí que surge Frente Patriótica do Ruanda, que havia sido formada no Uganda e liderada pelo Paul Kagamé. Essa Frente mais conhecida pela sigla FPR, havia tentado no começo dos anos [90] uma invasão para derrubar o Governo de Ruanda. Quando o presidente de Ruanda morreu no acidente aéreo, começou o genocídio, esses grupos invadiram o Ruanda para conter a matança e também para tomar o poder. Com a invasão da FPR no Ruanda, os grupos Hutú acabaram sendo derrotados e se reiteraram para o Congo-Zaire e o novo Presidente passou a ser o Pasteur Bizimungu, que era de etnia Hutú e o Paul kagamé se tornou o seu vice-presidente.
Há muitos relatos, de que, na verdade quem mandava de facto no país seria o Paul kagamé. Portanto, temos uma nova realidade após o genocídio de Ruanda, muitos grupos Hutú, grupos paramilitares atravessaram a fronteira para o Congo-Zaire, o Governo do Ruanda começou a questionar a Móbutú, sobre o porquê estar a dar guarida para grupos paramilitares adversários. Ou seja, havia um inimigo em potencial para Ruanda, que estava instalado dentro do Congo-Zaire, e o Móbutú acabou dando o apoio e… isso acabou causado uma racha diplomática muito forte que começou a levantar a ideia de um ataque militar contra o Congo-zaire e é aí que a figura de Laurent Kabilá, acaba retornando se tornando muito importante. Porquê? Porque ele já era uma guerrilha interna contra o Móbutú há décadas.
Junto a essas questões das milícias Hutú, dentro do Congo-Zaire, Ruanda então começou a levantar a ideia de ter um ataque armado com isso contou com o apoio de Uganda, Laurent kabilá juntou-se a esses grupos e formaram a Aliança pela Libertação do Congo e essa Aliança atacou fortemente o Congo-Zaire no ano de 19[96], dando iniciou a primeira guerra do Congo-Zaire
(Cont.)