EUREKA por Laurindos Macuácua
Cartas ao Presidente da República(126)
A partir deste mês, faltam apenas dois anos para esta governação terminar. Até aqui, são oito anos de governação, mas confesso-lhe. Presidente: desconheço o seu projecto político- e tenho quase certeza de que o Presidente também. São oito anos de discursos triunfalistas, embora não haja nada de palpável. E às vezes creio que o Presidente ao pronunciar esses discursos, fá-lo na crença genuína de estar a fazer a coisa certa. Ingenuidade política!
O que a sua governação terá legado a este Pais, Presidente? Não vejo indicação de que os problemas deixados pelo consulado de Armando Guebuza estejam em vias de desaparecer Antes pelo contrário, receio que alguns deles se exacerbam.
Por exemplo, o Presidente quando chegou ao poder, com chavões que não passam disso mesmo de que o povo era seu patrão, milhares de crianças moçambicanas estudavam ao relento. Oito anos depois, nada mudou. E nem conseguiu criar condições para que, de facto, o povo realmente fosse patrão; ficou-se pela proclamação!
Eu nunca ouvi o Presidente, nestes oito anos, admitir alguma falha na sua governação. E é aqui onde lavra no erro, talvez com medo de que o chamem de incompetente ou algo de género. Na política também se cometem erros (como a da TSU). Só que lemos que ter humildade de os reconhecer e falar sobre eles. Quando o não fazemos, as consequências costumam ser desastrosas porque a probabilidade de se persistir no erro é maior.
Não é por acaso que este Governo está à deriva há oito anos. É um navio sem comandante! Se está segurando o leme, então ele bebeu, demasiadamente!
Poderia até lhe fazer esta pergunta. Presidente: quantas vezes, querendo tomar uma decisão que diz respeito ao povo, consultou esse mesmo povo se devia agir dessa forma ou não? Nunca. Mas a estratégia deveria promover o hábito de pensar sobre como ir ao encontro dos interesses do público porque este é que é lesado pelos erros governamentais.
Este é um regime político que marimbou para o povo. O povo não passa de mera estatística. Estamos num paradigma brutal que vê as massas como uma manada de imbecis incultos que precisam da tutela da Frelimo para a sua hominização.
A pobreza e a miséria que assolam Moçambique não são, em si, um problema grave. O problema é a ausência total de discussão pública sobre estes males, sobre o que se faz, ou se deve fazer, para debelar esses males, envolvendo a sociedade e o Governo do dia.
Um sistema onde os que vivem bem o fazem à custa do Estado, está condenado ao fracasso!
E pode ter certeza de uma coisa. Presidente: a cada dia que age como tem agido, está a matar aos poucos este Moçambique. Eu não sei como é que se pode ter orgulho de se ser Presidente quando se governa milhares de pobres que não têm onde cair mortos!
DN – 27.01.2023