– Carlos Cardoso (1997) (*)
“Guebuza foi um dos ministros mais incompetentes a passar pela governação da Frelimo. Onde tocou, estragou.” – Carlos Cardoso
Carlos Cardoso (1997) (*)
Fez ontem, 22 de Novembro de 2011, 11 anos que Carlos Cardoso foi barbaramente assassinado por um bando de vis cidadãos. Uns executaram e outros mandaram. Uns foram julgados e condenados, outros a ‘justiça divina’ encarregou-se de o fazer. Outros haverá ainda que esconderão nas suas memórias o peso da sua cumplicidade.
Mas apesar de roubado prematuramente do nosso convívio Carlos Cardoso “reencarna” todos os anos, quanto mais não seja para nos recordarmos das suas profecias. Leia que vale a pena:
“Via Ripua, mais uma vez passamos a conhecer assuntos intestinais do partido Frelimo, discutidos, em surdina lá dentro.
Desta vez, é a sucessão de Chissano. Ripua quer Guebuza.
Já o tinha proposto Primeiro-Ministro. Na nossa opinião Guebuza não. O nosso parecer assenta em dois factores:
1. As pessoas têm medo de Guebuza.
2. Ele foi, talvez por uma razão de causa e efeito o primeiro factor, um dos ministros mais incompetentes a passar pela governação da Frelimo.
Onde tocou, estragou.
Vamos à questão do medo.
É verdade que Chissano tem gerido a presidência com grau de hesitação, por vezes prejudicial para o país. Mas com ele na presidência desde 1986, Moçambique foi praticando níveis de liberdade de expressão. E hoje está bem evidente quanto melhorou na governação a pauta aduaneira por exemplo, fruto do uso crescente dessa liberdade.
Via debate, o país foi encurtando o caminho para consensos e assim se arranjaram algumas soluções.
Moçambique precisa, pois, de um presidente, cuja personalidade, ainda que menos hesitante do que a de Chissano seja pelo menos tão aberta ao diálogo como a dele. Guebuza tem sido o contrário disso. As pessoas calam-se por causa dele. Não tem nem um décimo da postura de Chissano no tocante a aceitação de crítica contra ele.
A governação do país ficaria seriamente prejudicada com um presidente inspirador de-temor-e revolta-entre os cidadãos.
Em segundo, mas não menos importante, lugar, a questão da incompetência. Armando Guebuza tem sido mau gestor da coisa pública.
Como Governador de Sofala pôs em perigo o relacionamento com Portugal.
Como ministro do Interior, adoptou para a operação produção, um método que anulou qualquer hipótese para a concretização das intenções que lhe deram vida (pese as responsabilidades do presidente Samora Machel numa conceptualização apressada do programa).
E nos transportes Guebuza cruzou os braços perante o alastramento impetuoso do roubo e da corrupção, levando entre outros males, a uma quebra terrível do tráfego via porto de Maputo e ao desmoronamento quase irreversível da LAM.
No partido Frelimo há outros sucessores possíveis para Chissano, apesar de nenhum deles, depois da morte de Samora Machel, ter defendido o país, contra a pilhagem desenfreada das nossas riquezas, tem no seu CV muitos mais méritos do que Guebuza para o cargo do PR.
Por outras palavras, a transição pós-Chissano pode ser pacífica. Mas, a escolha final é a dos eleitores. Pelo menos enquanto Guebuza não for PR.
(in «Metical» de 15 de Julho de 1997)
(*) Publicação a título póstumo. O autor foi assassinado a 22 de Novembro de 2000 (Canal de Moçambique)
Canal de Moçambique – 23.11.2011