Arranca hoje (31.01) o ano letivo e continuam a faltar infraestruturas. Só na província de Manica, estima-se que mais de 24 mil alunos tenham de aprender ao ar livre. "É inconcebível", dizem encarregados de educação.
O novo ano escolar está a começar em Moçambique e ainda há problemas antigos por resolver. A Direção Provincial de Educação e Desenvolvimento Humano em Manica estima que 554 turmas deverão começar o ano com aulas ao livre, porque não há salas para todos os alunos.
Para o encarregado de educação Baptista José, é "inconcebível" que os alunos sejam obrigados a aprender debaixo de uma árvore e escrevendo sobre o joelho, sobretudo na época chuvosa.
"O Governo poderia preparar as salas e garantir que as crianças possam estudar em boas escolas. Agora, em baixo da árvore não vai aprender nada, porque, em tempos de chuva, a criança não vai à escola. Em tempo de frio, a criança não vai à escola. Isso não está correto", lamenta.
Pedro Primeiro, outro encarregado de educação em Manica, frisa que os alunos saem bastante prejudicados e levanta a questão: "É assim que Moçambique pretende educar os seus jovens?".
"Muitas das vezes somos obrigados, nós como pais, a comprar bancos para fazer com que os nossos alunos se sentem", conta. "Mas sentando debaixo de uma mangueira, por exemplo, e com essa chuva, como é que eles vão aprender? Quando chove será que vão à escola?", questiona.
Em busca de apoio externo e da comunidade
O setor da Educação e Desenvolvimento Humano em Manica diz que foi constatado um défice de 249 salas de aula na província. Para resolver a situação, o governo local assegurou que, para além de mobilizar apoios nas escolas, está também a dialogar com parceiros de cooperação para reconstruir brevemente salas de aula destruídas por intempéries.
Como alternativa, o diretor provincial da Educação em Manica, Albino Chaparica, afirmou que o setor está a trabalhar com a comunidade para fabricar tijolos e construir barracas visando acolher os alunos que correm o risco de frequentar o ensino ao relento. Devido à época chuvosa em curso, que se prolonga até março, esses alunos poderão ficar sem aulas.
Segundo Albino Chaparica, o foco é o ensino primário: "Há um esforço que está sendo feito junto da comunidade que é a construção de barracas para o acolhimento dessas crianças. O que acontece muito é, no ensino primário, onde há maior avalanche de efetivo escolar é também onde temos o maior número de crianças que estudam ao relento, ao contrário do ensino secundário, onde temos minimizada a situação de infraestruturas escolares".
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DW – 31.01.2023