ten-coronel Manuel Bernardo Gondola
Neste artigo, vou tentar discutir um tema muito delicado e espinhoso se, na guerra há espaço para ética e moral ou como se costuma dizer numa guerra vale de tudo.
E, para começar o que é a guerra? No princípio ou primeiro momento várias respostas vêm em nossas mentes, mas por incrível que pareça o conhecimento que temos sobre o que é a guerra é extremamente limitado e variado, por esta razão, vou começar pela origem da palavra, ou seja, etimologia.
O escritor, padre e médico francês, François Rabelais afirmou ironicamente, que estava a ponto de acreditar, que a guerra seja, assim ela chamada bela, simplesmente pelo facto de que, é na guerra que se destacam todas as espécies de fausto e beleza.
Destarte, os empregos linguísticos/semânticos actuais de guerra relacionam essa palavra com [3] diferentes etimologias: o termo grego Polemos (πολεμική), do qual o estudioso francês, Gaston Bouthoul, fez derivar a Ciência das Guerras; a Polemologia.
O termo italiano, Bellum do qual a língua italiana tirou o conceito de bellicocita ou belicosidade com seus correlatos; bellicoso, bélico e beligerante e, o termo alemão Werra do qual se originaram tantas formas neolatinas; guerra italiana e guerre francesa, quanto inglesa o war lembrado, que para aumentar a confusão o alemão moderno recorrera, depois por outro lado a forma Krieg.
Destarte, quanto ao pensamento, as definições e as conclusões sobre a mesma, também não existem consensos chegando aos filósofos e o que melhor tratou de definir esse assunto foi o Michael Montaigne. Ele afirmou; «quanto a guerra que é a maior e mais pomposa das acções humanas eu gostaria de saber, se queremos usá-la para provar alguma prerrogativa nossa ou ao contrário para testemunhar nossa debilidade e imperfeição».
Outros filósofos reflectiram de formas diferentes sobre a guerra. Por exemplo, o grego Platão afirmava, que era uma inutilidade; o moralista francês La Bruyére, definiu a guerra como inevitável, o também francês Misty, a considerava divina; o alemão Hegel a via como uma necessidade histórica; para o Nietzsche filósofo nascido no reino da Prússia actual Alemanha era bela, e para o francês Voltaire, «era uma manifestação de estupidez, pois nada envolve tantos os seres humanos de maneira tão íntima e completa. Ela mobiliza todos os recursos, económicos, espirituais, industrial, científico, ideológico e religioso. Nada exige tanto dos seres humanos; a morte, a dor, as feridas e os sofrimentos. Nada causa destruição de todas as espécies e bens; dos grandes monumentos, às bibliotecas, das fábricas, as casas sem conceder nenhuma distinção entre civis e combatentes, entre jovens e velhos, entre homens e mulheres, entre crianças e doentes».
Um melhor exemplo, a segunda guerra-mundial, que é vista ainda hoje como o conflito mais 'repugnante e imoral', da história da humanidade. Seguindo uma ideologia doentia baseada em conceitos científicos deturpados os alemães avançaram pela Europa, subjugando, destruindo e escravizando povos inteiros. Os japoneses, seguindo conceitos raciais, semelhantes aos dos alemães, escravizaram vastas regiões na China e na Correia, levando a morte a milhões de civis; os americanos e britânicos, seguindo à risca o ditado; 'guerra é guerra' destruíram centros populacionais inteiros na Europa e na Ásia, partindo do princípio, de que, se os civis fossem mortos não haveria mão-de-obra para manter o esforço de guerra do inimigo, destarte cidades como Dresden e Tóquio foram completamente varridas do mapa.
A seguir, os soviéticos no seu ímpeto vingativo mataram e enterraram em valas comuns vinte [20] mil Oficiais polacos. Escravizaram, mataram e violaram centenas de milhares de civis e deportaram para Sibéria povos inteiros. Repare! Cada um deles tinha uma justificativa perfeitamente aceitável para esses actos [cruéis] ao menos para eles próprios. Isso significa, que na guerra não há espaço para moralidade e para ética.
De facto, quando debatemos a moralidade e a ética na guerra surgem prontamente [2] campos opostos: um deles formados pelos pacifistas, um grupo de pessoas para o qual nada pode justificar uma guerra; com outro campo sendo formado por pessoas com padrões um pouco mais relaxados geralmente permeados com uma boa dose de nacionalismo, que defendem peremptoriamente, que qualquer guerra é justificável desde que, acolha os interesses duma nação e, esse é o campo que governa o mundo desde que a história começou a ser escrita.
Assim, na segunda-guerra mundial, bombardear Hiroxima era justificável, pois acolhia os interesses dos Estados Unidos naquela época, que era basicamente o de vencer a guerra; para um alemão na segunda-guerra mundial usar os ucranianos e polacos como uma mão-de-obra escrava era justificável, pois para eles aqueles povos eram inferiores e só teriam uma utilidade como escravos; para o russo em 19[45] estupraruma mulher alemã ou deportar para Sibéria povos inteiros era justificável, porque atendia os interesses da União Soviética naquela época, que era se vingar do ataque alemão e eliminar qualquer oposição política no Leste europeu.
No médio oriente, por exemplo, quando árabes laçam roquetes de morteiros e foguetes contra o Israel, a partir do pátio dumas escolas e de hospitais é um acto justificável para eles, dado que, acolhe os seus interesses que é espalhar o terror entre os israelitas e forçar uma negociação territorial mais logrativo. E quando Israel, bombardeia posições iranianas na Síria e se esconde em seguida atrás de aviões civis, também é um acto justificável para, pois estão lutando pela sua própria sobrevivência.
Portanto, respondendo à pergunta que acima atirei, não há uma moralidade universal na guerra, uma vez que, qualquer acto por mais 'irracional' que seja pode ser justificado desde que, traduza os interesses de quem o praticou. Ou seja, o que é imoral para uns é perfeitamente moral para outros.
Por exemplo, se você e a sua família estão sendo atacados, moralmente você tem o direito e obrigação de fazer tudo que estiver ao seu alcance para proteger asi, também a sua família, o que pode e inclui se aplicarmos essa ideia num contexto de nações, atacar também a família do agressor que está atacando a sua família.
Numa guerra, isso não é imoral ou antiético, já que, é tudo uma questão de sobrevivência. Não há moralidade na guerra, mas há moral e ética nas pessoas, como viu, tudo tem uma justificativa e, ela só varia conforme no lado, no qual, você está entrincheirado o que me leva a uma outra verdade absoluta: no mundo não há 'honestos e bandidos' com todos os países se regendo por leis e regras baseadas nos seus próprios interesses.
Portanto, as guerras no mundo longe das cenas dos filmes; são sujas e imorais, cabe a nós pensarmos se essa prática vale ou não apena.
Manuel Bernardo Gondola
Maputo, aos [18] de Janeiro 20[23)