Por Lázaro Mabunda
O conflito entre o antigo estadista, Armando Guebuza, e o actual Chefe do Estado, Filipe Nyusi, atingiu níveis em que não há possível reconciliação nem retorno ao ambiente anterior à abertura do processo das dívidas ocultas.
O que enerva Guebuza não é eventualmente a detenção do seu filho, porque ele sabe muito bem o que ele fez para estar detido, mas a imparcialidade da justiça neste processo, dado que o Presidente Nyusi, à data dos factos, era o ministro da Defesa e coordenador do Comando Conjunto, entidade que operacionalizou e viabilizou a contratação das dívidas ocultas. Foi ele que assinou os documentos. No entanto, a justiça tão pouco o beliscou nem sequer fingiu ou simulou um processo. Acredito que este é o ponto central que deixa Armando Guebuza bastante revoltado. A própria justiça fez questão de procurar ilibar Armando Guebuza deste processo, sem sequer efectuar a mais pequena simulação de investigação com vista a apurar o seu nível de envolvimento. Não procurou investigar os conteúdos dos vinhos trazidos de avioneta de Abu Dabhi, Emirados Árabes Unidos, um país em que o álcool é proibido, é pecado, seja a produção assim como o consumo. Logo, era um importante investigar: como um país que proíbe álcool enche avioneta de vinho para ele e a mesma avioneta vai aterrar na base da força aérea?
A justiça mostrou, desta vez, a sua face oculta. Mostrou claramente que a lei é para os pequenos e o princípio constitucional de que “todos os cidadãos são iguais perante a lei” é mesmo um princípio para o inglês vez e o americano aplaudir.
Tem ou não razão Guebuza perante este cenário? Tem. A justiça mostrou-se tímida e cobarde perante ele e ao actual Presidente, mas mostrou dentes ao Dambi, ao meu amigo Nhangumele e companhia. Talvez se a justiça tivesse sido imparcial, independente e firme, este conflito não existisse.
Lembre-se que Guebuza insurgira contra a Procuradoria, acusando-a de estar a ser usado como instrumento político para perseguir a sua família. Ele conhece como ninguém como se usa a justiça como instrumento político de perseguição das famílias.
A verdade é que o conflito entre Guebuza e Nyusi atingiu um nível em que é irreconciliável e com consequências imprevisíveis. O fim deste conflito não será uma negociação, será a vitória de um sobre o outro.
O simpósio “Armando Emílio Guebuza, uma história de auto-estima”, alusivo ao seu 80º aniversário serviu de um teste à sua popularidade. O resultado foi o que se viu: Guebuza continua vivo com apoiantes de luxo. Continua um líder e com discurso forte, contundente, firme e inspirador. As apresentações feitas sobre a vida e obra dele foram arrepiantes no bom sentido. Guebuza foi endeusado e descrito como um líder. O evento terminou com uma ovação a ele e sua esposa, Maria da Luz Guebuza. E depois uma declaração de guerra pública contra os camaradas, bastante contundente:
“Temos o Ndambi que a Justiça não explica por que está lá. Mas fizeram de propósito, para ele não estar connosco. A Valentina foi-nos arrancada nesta confusão que levou agora o Ndambi à prisão. Mas aguentamos. Somos fortes. Se o colonialismo português não conseguiu calar-nos, vencer as nossas convicções, não são os nossos camaradas que vão conseguir isso”.
Não há mediador possível que possa levar os dois à mesa de paz. A tentativa de Celso Correia criar um corredor para uma aproximação entre eles só piorou a relação. Celso Correia foi um produto empresarial e político de Armando Guebuza, e Armando Guebuza sente que Celso Correia apunhalou-o pelas costas e deu-o as costas, sobretudo no encontro que teve com a Maria Inês Moiane. Aliás, Guebuza está revoltado porque Nyusi e Celso Correia foram produtos políticos dele. Foi Guebuza que endossou Nyusi para o cargo de Ministro da Defesa e posteriormente teria apostado como candidato do partido para o suceder. Ambos lhe deram as costas.
A solução Chissano para a reconciliação é possível? Acredito que Chissano tenha tentado mediar, mas a inflexibilidade de Guebuza pode ter barrado qualquer possibilidade.