Por Henrique Raposo
O fim da escravatura não foi provocado pelas revoltas dos escravos; essas revoltas eram relativamente escassas e sobretudo não eram anti-esclavagistas na sua essência. Os quilombos dos negros que fugiam das senzalas não eram utopias do futuro sem escravos, eram um regresso ao passado esclavagista das sociedade africanas de origem. Ou seja, os negros que fugiam dos brancos mantinham escravos, vendiam escravos, porque a escravatura não era para eles um pecado ou um problema, era uma rotina cultural dos reinos africanos
A revisão da história para fins ideológicos é uma constante da história, mas julgo que será difícil encontrar um tempo como o nosso tão obcecado em higienizar, extirpar ou mentir sobre a história. A escravatura é um dos alvos óbvios deste politicamente correto que está de facto a mentir e a reescrever a história através de uma novilíngua que pune e cancela quem ousa criticá-la. Na resposta, é preciso usar autores portugueses como João Pedro Marques (“Revoltas Escravas – Mistificações e Mal-Entendidos”, Guerra & Paz) e autores brasileiros como Leandro Narloch (“Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil”, Livros d’Hoje) para repor a verdade.
E a verdade factual é esta: o fim da escravatura não foi provocado pelas revoltas dos escravos; essas revoltas eram relativamente escassas e sobretudo não eram anti-esclavagistas na sua essência. Os quilombos dos negros que fugiam das senzalas não eram utopias do futuro sem escravos, eram um regresso ao passado esclavagista das sociedade africanas de origem. Ou seja, os negros que fugiam dos brancos mantinham escravos, vendiam escravos, porque a escravatura não era para eles um pecado ou um problema, era uma rotina cultural dos reinos africanos. A revolta era contra o poder branco, não contra a escravatura.
Zumbi, o maior herói negro do Brasil, tinha escravos. “Esta informação”, avisa Narloch, “parece ofender algumas pessoas hoje, ao ponto em que preferem omiti-la ou censurá-la, mas a verdade trata-se de um dado óbvio, e que na sua época não tinha nada de errado”. Repita-se: os negros, mesmo aqueles que fugiam das senzalas dos brancos, capturavam e escravizavam ou revendiam outros negros. Recorde-se aliás que - no início de todo o processo - os europeus compravam escravos negros a outros povos negros. Ou seja, tribos negras vendiam outras tribos negras aos europeus e aos árabes.
Então, quem é que começou a pressionar para o fim da escravatura? Os brancos da renovação cristã e evangélica. O movimento abolicionista é um movimento cristão e branco, sobretudo inglês e depois americano. É por isso que Narloch diz que é preciso agradecer aos ingleses pelo fim da escravatura. Esta é a verdade factual; as diferenças de interpretação e de perspectiva só podem começar após reconhecermos a verdade factual e objectiva.
EXPRESSO(Lisboa) – 12.01.2023