Durante a última década, o islão se tornou muito visível publicamente e muito importante politicamente em Moçambique. Diversas mesquitas foram construídas nas cidades e no campo e o presidente da República, de confissão católica, passou a usar indumentárias muçulmanas quando de sua visita a regiões de predominância muçulmana e até mesmo em seu próprio aniversário. Por sua vez, os partidos políticos passaram a manifestar um interesse crescente por essa religião e, mutatis mutandis, os muçulmanos se tornaram atores importantes nas questões nacionais. Todavia, não foi sempre assim; muito pelo contrário. Ainda que numerosos, os muçulmanos foram na verdade marginalizados, quando não combatidos pelo poder colonial português, tendo sido censurados e até mesmo reprimidos pelo novo partido “marxista” após a independência nacional. Em outras palavras, os anos 1980-1990 assistiram a uma viragem na posição do islão na sociedade moçambicana. Isto
suscita uma série de questões. Primeiramente, qual é a natureza exata desta reviravolta? Quando ela se deu e como ela aconteceu? Pois, quais são as suas causas? Seria o fruto de fatores internos ou externos ao país? Seria o resultado de mudanças no seio do islão ou dentro do próprio poder político? Enfim, qual a situação político-religiosa no país hoje, após a viragem? Partindo deste cenário como base, o que é possível prever ou imaginar para o futuro? Estas são algumas das questões que inspiraram este artigo e às quais pretendemos oferecer uma resposta.
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