O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, está novamente nos Emirados Árabes Unidos. É a segunda vez em menos de três meses. Analista desconfia de tantas visitas, com uma agenda que seria "para um ministro".
O Presidente de Moçambique, Filipe Jacinto Nyusi, está desde domingo nos Emirados Árabes Unidos. De acordo com um comunicado da Presidência de Moçambique, a visita resulta de um convite do seu homólogo, o Sheikh Mohammed Bin Zayed Al Nahyan, e visa reforçar os laços bilaterais.
É a segunda vez que Filipe Nyusi vai aos Emirados Árabes Unidos em menos de três meses e, segundo especula o jornal "Carta de Moçambique", Filipe Nyusi poderá estar a usar estas deslocações para negociar, secretamente, uma solução extrajudicial com os executivos da Privinvest, uma das empresas citadas no escândalo das "dívidas ocultas".
O Presidente moçambicano foi notificado, em 2021, num processo sobre o escândalo que decorre na Justiça britânica. A Privinvest, com sede em Abu Dhabi, acusou Filipe Nyusi de beneficiar de pagamentos, incluindo para financiar a campanha às eleições presidenciais, e alegou que Nyusi teve um papel fundamental nos projetos da empresa em Moçambique.
Em entrevista à DW, o especialista em relações internacionais Mohamed Yassine estranha estas idas de Nyusi aos Emirados Árabes Unidos, inclusive para participar na "Semana da Sustentabilidade", um evento internacional de negócios. Até porque Nyusi não esteve presente em eventos de maior relevo, como por exemplo a tomada de posse de Moçambique como membro não-permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
DW África: Como avalia esta deslocação do Presidente Filipe Nyusi aos Emirados Árabes Unidos?
Mohamed Yassine (MY): Algumas das questões que são colocadas como o motivo da sua ida cabem muito bem a um ministro. Poderiam também ser para o primeiro-ministro, mas não para a figura do Presidente.
DW África: Nyusi referiu na sua página no Facebook que foi em busca de financiamento para a reabilitação da Estrada Nacional 1. É normal o Presidente moçambicano envolver-se diretamente na busca por financiamento?
MY: [Nyusi] está corroído de verdade. Porque no passado, o Presidente da República apareceu a dizer que já havia garantias do Banco Mundial para financiar a Estrada Nacional Número 1. E havia também uma outra possibilidade, que era o financiamento por parte do Exim Bank chinês.
DW África: O Presidente está convidado para participar na "Semana da Sustentabilidade". O que lhe parece?
MY: Na sua última visita [em outubro] também havia um propósito. Mas, recentemente, Moçambique assumiu o seu lugar como membro não-permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas e o Presidente da República não esteve lá, e isso é muito mais importante que esta [visita]. Ou seja, os critérios de seleção de eventos importantes para a participação do Presidente da República estão a ficar banalizados. E se já esteve [antes] nos Emirados Árabes Unidos, não haveria necessidade de mudar a sua agenda política para voltar lá. Por outro lado, quando há uma certa suspeição em relação a um certo passado ligado a um certo país, o Presidente em exercício deveria, na medida do possível, evitar [passar para fora a imagem de] que provavelmente ainda há uma ligação com o país.
DW África: Há rumores de que eventualmente o Presidente poderá estar a negociar com o grupo Privinvest em torno da notificação feita pelo Tribunal Superior de Londres, no âmbito das "dívidas ocultas". Acredita nisso?
MY: O que temos aqui agora como problema é que, enquanto se dizia que o processo era complicado porque envolvia o nome do Presidente da República, fica claro também que o julgamento final [em Moçambique] se tornou complicado porque várias pessoas não estiveram como arguidas. Uma dessas pessoas é o atual Presidente da República. Agora, se Moçambique vai fazer um acordo com a Privinvest, o acordo poderá ser no sentido da Privinvest retirar a queixa de Londres, na qual demanda a presença do Presidente Nyusi.
DW – 18.01.2023