O presidente-executivo da petrolífera francesa TotalEnergies considerou, na semana passada, numa conversa telefónica com vários analistas e investidores revelada pela Bloomberg, que o regresso às obras em Cabo Delgado, no norte de Moçambique, não pode ser apressado e vai depender parcialmente dos custos de exploração de gás natural.
Patrick Pouyanne, responsável da petrolífera francesa que lidera o projecto de investimento de mais de 20 mil milhões de dólares na província de Cabo Delgado, deixou assim claro, na última quinta-feira, 9 de Fevereiro, que os custos do mesmo, actualmente suspenso devido à insegurança registada, serão importantes na decisão que está a ser avaliada sobre o regresso a Moçambique.
Além dos custos do projecto, nomeadamente a renegociação de contratos com fornecedores locais e subempreiteiros, existe ainda a questão dos direitos humanos que, segundo o responsável, será também uma parte fundamental da decisão.
“Quero ter uma visão clara sobre a questão dos direitos humanos”, acrescentou Patrick Pouyanne, referindo-se ao relatório que encomendou sobre a situação de direitos humanos no norte de Moçambique.
As declarações de Pouyanne surgem cerca de uma semana depois de uma visita ao norte do País feita com o Presidente da República, Filipe Nyusi.
“Baseado numa recente visita a Moçambique, Pouyanne disse que as coisas voltaram ao normal do ponto de vista da segurança e vincou que a decisão [de regressar aos trabalhos ou suspender o investimento] é uma decisão de todos os parceiros no projecto”, escreveu a Bloomberg.
“A TotalEnergies encarregou Jean-Christophe Rufin de avaliar a situação em Cabo Delgado, produzindo um relatório até final de Fevereiro, para decidir se há condições para se retomar a construção da fábrica de liquefacção de gás natural”
Na conversa, o líder da petrolífera francesa rejeitou a ideia de que terá de haver uma escolha entre o regresso a Moçambique ou a aposta no mercado de gás natural liquefeito, afirmando que “estamos prontos e temos capacidade para financiar ambos”.
A TotalEnergies encarregou, no princípio deste mês, Jean-Christophe Rufin de avaliar a situação em Cabo Delgado, produzindo um relatório até final de Fevereiro no sentido de aferir se existem condições para se retomar a construção da fábrica de liquefacção de gás natural, a extrair da bacia do Rovuma, a 40 quilómetros da costa.
Moçambique tem três projectos de desenvolvimento aprovados para exploração das reservas de gás natural naquele local, classificadas entre as maiores do mundo. Dois desses projectos têm maior dimensão e prevêem canalizar o gás do fundo do mar para terra, arrefecendo-o numa fábrica para o exportar por via marítima em estado líquido.
Um é liderado pela TotalEnergies (consórcio da Área 1) e as obras avançaram até à suspensão por tempo indeterminado, após um ataque armado a Palma, em Março de 2021, altura em que a energética francesa declarou que só retomaria os trabalhos quando a zona fosse segura.
A província de Cabo Delgado tem sido assolada por um conflito desde 2017 que aterroriza as populações. Grupos de rebeldes armados têm pilhado e massacrado aldeias e vilas um pouco por toda a província e uma variedade de ataques foi reivindicada pelo ‘braço’ do autoproclamado Estado Islâmico naquela região.
O conflito já provocou mais de 4000 mortes (dados do The Armed Conflict Location & Event Data Project) e pelo menos um milhão de deslocados, de acordo com um balanço feito pelas autoridades moçambicanas.
Desde Julho de 2022 que uma ofensiva militar de Maputo, com apoio do Ruanda e, posteriormente, da SADC, possibilitou um clima de maior segurança na região que não era sentido há anos, e recuperou localidades que estavam controladas pelos rebeldes, como a vila de Mocímboa da Praia, que estava ocupada desde 2020.