Abstrato
O terrorismo islâmico tem sido uma séria ameaça para a África Oriental e Austral desde a década de 1990. Muitos destes países africanos desenvolveram diferentes formas de luta contra o terrorismo islâmico, desde uma intervenção militar a políticas sociais, de forma a melhorar as condições socioeconómicas gerais da sociedade como um todo. Em Moçambique não foi adoptada nenhuma medida específica para fazer face à difusão do terrorismo, deixando que formas radicalizadas de islamismo se alastrassem sobretudo em Cabo Delgado, província do Norte fronteiriça com a Tanzânia. Investigação destinada a abordar o terrorismo islâmico em Cabo Delgado de acordo com a estratégia de prevenção e gestão de riscos do Estado moçambicano. Este estudo demonstra que durante o segundo mandato de Guebuza como Chefe de Estado, Moçambique teve de enfrentar três diferentes ameaças potenciais. No entanto, o governo moçambicano identificou duas destas ameaças como prioritárias (nomeadamente a pirataria somali no Canal de Moçambique e a ação da Renamo), negligenciando possíveis ataques terroristas islâmicos na província de Cabo Delgado. Este estudo demonstra - usando testemunhas privilegiadas, bem como fontes abertas disponíveis na esfera pública - que esta escolha foi típica de um Estado frágil e autoritário. Em primeiro lugar, não se baseava numa análise de risco objectiva, mas sim em interesses políticos e patrimoniais da elite política e, em segundo lugar, a sociedade civil local não podia opor qualquer resistência. Esta escolha permitiu que grupos radicais islâmicos crescessem sem perturbações em Cabo Delgado, até perpetrar violentos ataques a partir de outubro de 2017, que o governo moçambicano parece incapaz de contrariar até hoje.