Por Gustavo Mavie, em Adis Abeba na Etiópia
Entre os dias 16 e 17 de Fevereiro corrente revisitei a sede da União Africana na capital etíope, e fiz uma breve mas uma profunda reflexão sobre o estado das coisas em África, tendo concluído, mais uma vez, que se tivermos em conta que ‘’independência é o PODER de decidir, fazer e dispor sobre o que antes os colonizadores não permitiam que os seus colonizados decidissem, fizessem ou desfrutassem, então é legítimo concluir que a maioria dos 55 países africanos, ainda não são genuína e muito menos verdadeiramente independentes, e entre eles se inclui Moçambique.
Sei que dói reconhecer este facto, mas é perceptível e visível mesmo a olho nu, porque a dominação económica em que quase todos os países africanos estavam sujeitos no tempo colonial e que os causava sofrimento à maioria dos seus povos africanos ainda continua a causá-los. É uma realidade inegável que ainda não somos genuína e verdadeiramente independentes. A economia dos países africanos ainda é quase toda ela dominada pelos países ou multinacionais estrangeiros.
Grosso modo, e salvo alguns poucos de entre nós, ainda não estamos a desfrutar genuinamente dos nossos recursos naturais, porque continuam sendo explorados a preço de banana pelos mesmos países ou multinacionais das nações que colonizaram África e exploravam os seus recursos naturais e emprega a força laboral das supostas ex-colónias.
África como também Moçambique ambos dispõe de grandes jazidas de recursos naturais, que fazem com que sejam considerados dos mais ricos do mundo. Quase todos os países africanos de que Moçambique está incluído, dispõem sim das maiores reservas de recursos naturais, em que se destacam o ouro, os diamantes, o gás, a prata, o urânio, o cobre, o manganês, o carvão mineral, o petróleo, a tão estratégica agora grafite em Ancuabe, na agora infernizada Cabo Delgado pelos terroristas deliberadamente tolerados pelas mesmas nações ocidentais que em um ano gastaram centenas de bilhões de dólares a ‘’ajudar’’ a luta heroica do povo da Ucrânia contra o ‘’invasor russo’’, mas que nunca nos ajudam a nós também a lutar contra aqueles diabólicos jihadistas que vão decapitando civis naquele território moçambicano!
Grafite é um metal vital para a produção agora dos carros eléctricos que estão substituindo os movidos a gasolina e diesel, para não falar dos onerosos RUBIS de Namanhumbir também Cabo Delgado que rendem centos de milhões para um punhado e não para nós moçambicanos!
Na verdade, nenhum destes recursos está a beneficiar na medida que seria justo aos seus respectivos povos. Estudos da ONG britânica OXFAM, revelaram há mais de 30 anos que as multinacionais que exploram estes recursos só deixam 1 (sim, um) dólar por cada 10 dólares que amealharam.
Uma das provas de que não deixam NADA é que mesmo a imponente sede da União Africana onde os estadistas africanos se reúnem agora nas suas cimeiras em Adis Abeba como a deste Fevereiro em que o presidente Filipe Nyusi participou entre os dias 16 e 17 do corrente mês, foi financiada e construída pelo governo chinês! Os 53 estados ‘’independentes’’ africanos não conseguiram contribuir dinheiro suficiente para construir a sede da sua própria organização. Isto é grave e embaraçoso.
É quase NADA o que deixam para nós e confirma o célebre aviso de Samora de que se não nos precavermos, ficaremos com buracos onde tínhamos ouro, diamantes e rubis! É o que está a acontecer. Estamos de facto ficando com buracos sobre onde tínhamos esses recursos sem termos ganho nada quase!
Em muitos países africanos, Moçambique incluído, ainda não há água potável para a maioria dos seus povos, ainda não há boas estradas, incluindo aqui na capital Maputo, não há electricidade para todos os seus habitantes, mas apenas para uns poucos. É por isso que uma das prioridades do actual governo de Filipe Nyusi é implantar sistemas de abastecimento de água em aldeias que nunca antes os tiveram, providenciando energia eléctrica para todos os moçambicanos. São dois projectos vitais que estão sendo implantados mas que não são à velocidade que Nyusi desejaria porque dependem muitos deles pelas ‘’doações’’ e empréstimos que são dados por algumas instituições financeiras ou países.
Mesmo os pouquíssimos hospitais que existem são tão maus e desprovidos de médicos competentes e de medicamentos de qualidade que os seus próprios dirigentes governamentais não vão neles quando eles próprios e seus familiares estão doentes. Optam sempre pelas clínicas privadas, e quando as doenças de que padecem são de uma certa gravidade ou exigem especialistas, vão aos outros países estrangeiros.
Contudo, cada país africano se supõe independente e soberano, mas na verdade ainda são economicamente dependentes e estão de facto sob o jugo do colonialismo. É por isso que o Papa Francisco disse na última visita que fez há pouco ainda este ano à RD do Congo, que há um novo colonialismo económico em África’’. Ora, o colonialismo sempre teve a ver com pilhagem dos recursos naturais e no uso de mão-de-obra dos colonizados sem pagar nada ou pagando o mínimo para que o escravizado continue a trabalhar para o seu colonizador ou patrão. E tudo isto continua sendo feito pelas multinacionais europeias e outras nações – pilhar as riquezas africanas e pagar salários de fome aos trabalhadores locais.
Por isso esta denúncia do Papa Francisco é a mais pura verdade e é imperioso que os africanos da presente geração tomem plena consciência disso, e comecem a lutar com a mesma bravura, tenacidade e entrega com que os seus avós e pais lutaram contra a colonização política e económica em que estiveram durante séculos antes que eles também fiquem séculos sob ‘’este colonialismo económico’’.
É imperioso que os povos da presente geração e as que se seguirão à nossa lutem heroicamente contra este reduto do colonialismo, para que os imensuráveis recursos naturais com que a maioria dos países africanos dispõe sejam de facto seus recursos e sejam de facto para o seu benefício.
Até agora, tais recursos só estão apenas nos seus países, mas não são para eles, porque estão sendo explorados a preço de banana pelos seus antigos colonizadores políticos ou pelo punhado de multinacionais de outras nações ocidentais de que se destacam a EXXON, MOBIL, TEXACO, TOTAL ENERGIES e muitas outras recentemente criadas ou que estão emergindo noutras partes do mundo como Ásia mas nunca na própria África!
É que se não se decidirem lutar e passar a ser verdadeiros donos desses recursos que rendem agora centenas de bilhões de dólares para tais países estrangeiros que os exploram através das suas multinacionais. Dados de há 33 anos contidos no célebre livro CAPITALIST NIGGER escrito pelo super-intelectual nigeriano Chika Onyeani, revelava que só no ano de 1998, a multinacional norte-americanas EXXON amassou US$ 100 biliões de dólares, enquanto a Móbil acumulou USD 47 biliões, a TEXACO USD32 biliões e a Chevron USD27 biliões. Chika diz que dados de peritos indicam que se a Nigéria fosse ela própria a explorar o seu petróleo, já nessa altura estaria a ganhar USD 100 biliões por ano!
Agora que estas multinacionais se aproveitam da guerra Rússia-Ucrânia para vender o petróleo a preços de ouro, estão a amassar muitos mais biliões. Mesmo Biden já se queixou quando vou os elevadíssimos lucros que as multinacionais do seu país estão a acumular.
Chika lamenta que os países africanos não estejam a investir na formação dos seus próprios técnicos para que sejam os próprios africanos a descobrir e explorar os seus recursos e não sejam os dos estrangeiros brancos. O que é mais grave é que mesmo para reparar as refinarias que existem em África tem que se mandar vir estrangeiros caucasianos. Não só não sabemos construir nada de vulto, como temos de depender de estrangeiros para reparar o que outros constroem para nós.
Por isso se os povos africanos continuarem na estúpida e ridícula pretensão de que estão independentes quando de facto não estão, porque não é possível ser independente quando ainda depende totalmente dos seus antigos colonizadores em tudo que queres ter e fazer.
É que mesmo para construirmos uma estrada ou para repará-la - como agora que estamos de mão estendida para nos darem dinheiro para podermos reparar a nossa Única Estrada Nacional Número 1, que liga o Sul e o Norte do nosso País - continuamos a depender da ‘’ajuda’’ dos ditos parceiros, mais muito mais das potências ocidentais que exploram quase de borla os nossos recursos.
O QUE NOS "DÃO" OU EMPRESTAM É UMA PEQUENA PARTE DO QUE AMEALHARAM COM A VENDA DOS NOSSOS VÁRIOS RECURSOS NATURAIS
Na verdade, o que nos ‘’dão’’ para repararmos ou construirmos as nossas infra-estruturas que precisamos, é uma pequeníssima milésima parte dos centos de biliões de dólares que eles amealharam com a venda dos nossos recursos naturais que exploram quase gratuitamente, muitas vezes usando a nossa própria mão-de-obra que também exploram quase gratuitamente, porque os ‘’salários’’ que nos pagam são quase esmolas.
Ainda ontem sábado dia 25 ouviu um moçambicano que trabalha no BIM queixar-se da discriminação a que eles são vítimas por serem negros. Dizia ele que durante uma conversa sobre o racismo e o nepotismo que imperam em Moçambique e em toda África que faz com que tenhamos chefes incompetentes, que muitos dos seus chefes brancos no BIM não dariam sequer para ser bons guardas ou mesmo chefes de limpeza, mas ganham salários que são 10 ou mesmo 20 vezes mais que os que são pagãos aos negros tão-somente por serem caucasianos.
O mesmo acontece com outros negros que trabalham noutras actividades socioeconómicas moçambicanas. Aos negros paga-se muito pouco enquanto aos não negros se paga muito bem. Quem tentar negar isto é negar a existência do Sol ou mesmo do vento. Não deixarão de se ver ou de se fazer sentir pelos seus efeitos. E os efeitos do COLONIALISMO ECONÓMICO se revela pelos baixíssimos salários que os patrões nos pagam, pelos baixíssimos impostos que as multinacionais nos pagam pelos nossos recursos que pilham e que nem conseguimos construir hospitais e escolas como deve ser, que não nos permitem ter boas estradas.
O que agrava tudo, ou melhor, a causa da nossa pobreza é que a maioria das lideranças africanas contentam-se com as migalhas que as multinacionais atiram para eles e que os fazem esquecer que as nossas independências só serão genuínas e verdadeiras quando passarmos a ser os donos dos imensuráveis recursos que estão na superfície, subsolo nas águas dos nossos países. São as más lideranças que proliferam em muitos países africanos, que fazem com que apesar da África seja o mais rico de todos os continentes, continue sendo considerado o continente mais pobre pelas Nações Unidas. Mas África não é pobre! Ela é muito rica e tem tanta riqueza que dá para que os mais de 1 bilião e 900 milhões de africanos vivem à Grande e à Francesa, como vivem quase todos os seus políticos no Poder agora.
África está sendo condenada à pobreza, porque os seus recursos estão sendo ainda pilhados pelas antigas potências coloniais e outras nações são poderosas agora porque educaram os seus povos e dominam a tal técnica e ciência que Samora dizia que são as que tornam um povo dono dos seus recursos de facto. É urgente e imperioso que os povos africanos despertem e lutem tal como lutaram contra a dominação política colonial contra esta nova fórmula de colonialismo.
Sei que não será fácil essa luta, porque muitos dos que deviam liderar esse combate, não se empenham nela, porque não sentem o sofrimento causado pela pobreza que se abate sobre a maioria dos seus compatriotas, como sentiam também a brutalidade da colonização colonial os líderes da luta contra o colonialismo, porque tais políticos no Poder agora se contentam eles próprios como as suas famílias com essas migalhas que lhes são atirados debaixo da grande mesa festiva em que desfrutam os donos das mais de 800 multinacionais que são os verdadeiros donos dos recursos naturais dos países africanos. O que prova que recebem tais migalhas é que em muitos países africanos há mais Mercedes Benz 's outros carrões de grande cilindrada como os PAJEROS Japoneses do que na própria Alemanha e no Japão onde são fabricados.
Um estudo recente apurou que mais de 75% dos Pajeros são vendidos na África e uma boa parte deles, pelos governantes corruptos africanos. Na verdade, estes gastam muito mais dinheiro em bens de luxo do que a construir boas escolas e universidades, bons hospitais e bons equipamentos médicos. É por isso mesmo que quando caem doentes vão às clínicas privadas ou são levados em aviões alugados para serem tratados nos hospitais doutros países.