Devido à sua relevância destaco aqui este comentário colocado em https://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2019/09/g%C3%A9nese-da-oposi%C3%A7%C3%A3o-%C3%A0-frente-de-liberta%C3%A7%C3%A3o-de-mo%C3%A7ambique-frelimo-1960-1994-caso-do-coremo-por-calisto.html
said:
Comentário ao artigo académico de Calisto dos Remédios Baquete: “Génese da oposição à Frente de Libertação de Moçambique FRELIMO – (1960-1994): Caso do COREMO” As novas tecnologias e as redes sociais são muitas vezes usadas e abusadas para disseminar falsas notícias, calúnias e difamações. Apesar disso, devo reconhecer que graças às redes sociais nunca antes o famoso ditado popular – “mais depressa se apanha um mentiroso do que um coxo” – se revelou tão verdadeiro. Nos dias de hoje, a partir de um telemóvel, podemos facilmente tomar conhecimento da falsidade de certas notícias, detectar meias verdades e descobrir plágios manhosos, disfarçados de ideias originais. É bastante desagradável tomar conhecimento de difamações injustas, calúnias e declarações ridículas, veiculadas em textos supostamente académicos, disponíveis em espaços reservados à divulgação de investigação científica e competindo pela mesma atenção que deve ser dispensada a trabalhos que passaram pelo crivo da avaliação de pares ou outros tipos de revisão criteriosa, antes de serem publicados. Recentemente tomei conhecimento de referências difamatórias à minha pessoa e meus familiares já falecidos, num texto/artigo supostamente académico. Refiro-me ao texto partilhado neste site internacional (https://www.academia.edu/), intitulado: “Génese da oposição à Frente de Libertação de Moçambique FRELIMO - (1960-1994): Caso do COREMO”, da autoria de Calisto dos Remédios Baquete. Além da versão em pdf (com 80 páginas), duas outras versões menores em Word aparecem neste mesmo site, sem se perceber a razão, dado que são praticamente iguais no conteúdo e tema. Nas três versões do texto o autor adverte que é um “Trabalho em curso” e que o mesmo é supervisionado pelo Professor “Douctor”(sic.) Joel das Neves Tembe da Faculdade de Ciências Sociais, Departamento de História. Não sou académica, nem tenho qualquer pretensão de usar esta oportunidade para me fazer passar por académica amadora, mas reservo-me o direito de comentar o trabalho do Sr. Calisto Baquete, por me ter difamado. Nas décadas passadas, motivos não me faltaram para vir a público questionar ou denunciar inúmeras falsidades sobre a génese da Renamo e seus principais protagonistas. Sempre acreditei que perante exercícios intelectuais difamatórios e maledicentes o melhor era dar tempo ao tempo. A verdade é que muitas das falsidades oficiais e oficiosas veiculadas pelo partido político que mais tem investido em distorcer e ocultar o seu passado, ao longo do tempo não suportam o confronto com a realidade e cada vez mais tropeçam no ridículo das suas narrativas. Todavia, hoje abro uma excepção na minha postura pública, pensando nos novos investigadores da história de Moçambique, na esperança que encontrem neste comentário pistas para esclarecerem algumas das falsas narrativas que foram obrigados a estudar, durante a sua formação escolar. Espero que este comentário contribua para a melhoria do sentido analítico e crítico nos trabalhos investigativos que surgirem sobre o tema investigado. “... uma senhora com o nome Ivete teria ludibriado a Cruz vermelha internacional” Indo directa ao assunto que me toca pessoalmente. Na página 64, secção “5.1.4. MNR – RENAMO versos COREMO regeneração”, na nota de roda pé nº 83, a qual é repetida no final do texto, na “Lista de documentos” (nº 79, pág. 78), pode-se ler o seguinte: “Da parte moçambicana que participou activamente para a fundação da MNR, fizeram parte, a família Fernandes (Evo Fernandes e Ivete83 Fernandes), Jorge Jardim, Alvaro Corte Real, Orlando Cristina, Lucinda Feijão e mais tarde o Artur Vilanculos antigo membro da FRELIMO depois COREMO como interlocutor da CIA nos Estados Unidos depois para RENAMO, em 1982 Fanuel Guidion Mahluza, ex-militante da FRELIMO nos anos 60 e do COREMO, trabalhou como assessor das relações exterior da RENAMO. (OLIVEIRA, 2006:31-40)” (pág. 64). Apesar do autor atribuir a informação contida no parágrafo anterior apenas a uma fonte, o livro de Oliveira (2006: 31-40), as páginas mencionadas não corroboram tal atribuição. Das duas uma: ou a referência à “família Fernandes (Evo Fernandes e Ivete Fernandes), Jorge Jardim e Álvaro Corte Real” baseia-se numa outra passagem do mesmo livro, ou foi tirada de fontes que o autor optou por não especificar. Mas a parte mais surpreendente surge na nota de rodapé 83, para a qual o leitor é remetido: “83 A Ivete Fernandes – de acordo com o relatório da PID/DGS PT-PIDE-D-001-4126-4_m0043, de 24.5.71 uma senhora com o nome Ivete teria ludibriado a Cruz vermelha internacional, para transferir dinheiro de resgate dos portugueses capturados pela COREMO. Tendo se refugiado mais tarde na França”. Não percebo porque é que, entre os vários nomes mencionados, o autor opta por destacar unicamente o nome Ivete, através de uma nota de rodapé mais venenosa do que esclarecedora. Por que razão o Sr. Calisto Baquete achou por bem confundir a minha pessoa Ivete Corte Real Fernandes que, à data do referido relatório da PIDE/DGS de 24.5.1971 era uma adolescente de 16 anos de idade, com uma Senhora que identifica nas versões menores deste artigo como “Ivette Joana Tshilenge (ou Joana Simião), presidente da Associação da Juventude Feminina Africana na Europa”. Sinceramente, não entendo como é que um candidato a investigador académico, por mais inexperiente que seja, é capaz de criar tamanha confusão entre pessoas tão distintas, com idades, percursos pessoais e laços familiares tão diferentes. Se foi um erro involuntário, sem qualquer intenção de desinformar ou confundir os leitores, de modo algum essa boa intenção é mais desculpável e aceitável. Pelo contrário! Este exemplo difamatório deve servir de aviso ao leitor que odeia ser induzido em erro. Estamos perante um suposto candidato a académico, ou aprendiz de investigador de história, que parece apostado em elaborar textos baseados num remix de frases e ideias de diferentes fontes, convenientemente coladas e articuladas num formato de trabalho académico. Um remix que denuncia um outro defeito lamentável, evidenciado na forma descuidada, tosca e irresponsável, bem como na má interpretação do que lê e preguiça mental em fazer cruzamento das fontes bibliográficas. O exemplo que acabo de mencionar, para além de ser uma grosseira difamação e ofensa, à minha pessoas e meus familiares já falecidos (meu pai e meu marido, ambos mencionados), ofende também a Senhora com quem me confunde, a qual já não está em posição de se defender. No mínimo, antes de exibir a alegação que a referida senhora “teria ludibriado a Cruz Vermelha Internacional...”, como de uma novidade se tratasse, o autor devia ter feito algum esforço de verificação, através de cruzamento com outras fontes bibliográficas. Sobre alguns erros primários no texto Lendo o texto do Sr. Baquete, vários são os erros e as frases sem sentido que nem ao aluno mais distraído e cábula de uma escola secundária deve ser permitido; muito menos a um candidato a investigador académico, especializado em História. Deixo de lado os erros ortográficos e frases incorrectas ou incompreensíveis, algo que o supervisor deveria ter tido o cuidado de evitar antes de aprovação da divulgação pública do texto. Limito-me a mencionar vários nomes de personalidades sobejamente conhecidas, escritos erradamente, como ilustração da forma descuidada e leviana como o texto foi elaborado. Quem é Viera? (pág. 14). Malhusa (pág. 38) e Malhuza (pág. 45) referem-se à mesma pessoa ou pessoas diferentes? Quem foi Zalazar - “...um dos principais homem de confiança do Zalazar...” (pág. 57). Quem foi Bollord? (pág. 65). Alusão a um MNR fictício e que nunca existiu O texto está repleto de afirmações cuja origem e fundamento não foram suportados por quaisquer referências às fontes de onde foram tiradas. Como os exemplos são diversos, limito-me a chamar a atenção para algumas alusões à origem de um MNR e da Renamo sem a devida fundamentação bibliográfica. Na página 65 o autor afirma: “A partir dos meados dos anos 80, precisamente em Março de 1986, a Renamo era um típico movimento de guerrilha com uma importante capacidade militar e apoio de antigos colonos portugueses famílias como Corte Real, Bollord, Jardim entre outros com capital na Rodesia, Kenya, Estados Unidos, Inglaterra e a Africa do Sul no regime do Apartheid.” Onde foi buscar esta narrativa sobre apoio de “famílias como Corte Real, Bollord, Jardim entre outros...”? Quem é que disse ao autor que em Março de 1986 Jardim ainda era vivo? Isto revela uma falta de cuidado investigativo e desconhecimento mínimo sobre a logística de um movimento de guerrilha, ao achar que uma guerra civil “com uma importante capacidade militar” pode ser assegurada por algumas pessoas e famílias. De onde copiou a seguinte afirmação que considera tão óbvio para dispensável a indicação da fonte? “O Movimento Nacional de Resistência (MNR), foi criado pela tripla aliança constituída por Rodésia e Pretória e Portugal nos princípios da década 70, tendo-se firmado em 1977, com sede em Salisbúria. Como o nome diz, o objectivo era resistir ao processo de descolonização em Moçambique como forma de garantir a continuidade da comunidade branca na África Austral” (Pág. 63). O texto está cheio deste tipo de afirmações e declarações, copiadas de autores não revelados, escritas provavelmente de forma ligeiramente diferente, mas sem citar as fontes. Apesar de não ser académica e investigadora, tenho suficiente cultura literária para saber que afirmações como as anteriormente mencionadas, baseiam em frases de diferentes autores, sem mencionar as suas obras, configurando assim uma tipologia de plágio primário. Outras frases veiculam uma cacofonia e obscuridade de ideias, como por exemplo o seguinte parágrafo: “... Por outro lado, as forças reacionárias portuguesas (comandadas por Jorge Jardim e Orlando Cristina assim como Evo Fernades) impelidas pelo bureau político de Lisboa que permitiu e concedeu a assinatura dos acordos de Lusaka em 07 de setembro de 1974 que garantia a transição formal e definitiva do poder para a Frelimo, o que veio a culminar com a proclamação da independência nacional a 25 de junho de 1975, fundaram a MNR” (Pág. 63). Em jeito de conclusão Para conhecimento do Sr. Calisto Baquete, esclareço que tanto o Engº. Jorge Pereira Jardim como o Sr. Álvaro Corte Real, meu Pai, nunca foram membros da RNM - Resistência Nacional Moçambicana que traduzido para inglês lê-se MNR – Mozambican National Resistance. A RNM foi criada em Novembro de 1976, tendo começado a guerra civil em Março de 1977 com o objectivo de trazer a democracia e liberdade para benefício de todos os moçambicanos e não apenas dos revolucionários extremistas. Não é verdade que a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) tenha surgido da fusão, como afirma o autor “...do COREMO, FICO, GUMO, FRECOMO e PCN em oposição à FRELIMO” (Pág. 9). Um aspirante a pesquisador da história política ou social de um País que não se dá ao cuidado de cruzar as fontes bibliográficas que usa e interpretar aquilo que lê com sentido crítico, deveria ser colocado numa lista classificada de potenciais propagadores de uma espécie de novo “coronavírus”, muito pernicioso para a sanidade mental pública. Para terminar, advirto que não espero, nem desejo qualquer contacto pessoal ou aproximação, visando justificar o erro e difamações em que a minha pessoa é envolvida. Mais importante do que justificações pessoais, o que espero do Sr. Calisto Baquete é que reveja o que escreveu, ponha a mão na consciência, se é que a tem, tratando de limpar as absurdidades aqui apontadas. Ivette Corte Real Fernandes 04.05.2020
PS: Esta senhora é a viúva do Dr. Evo Fernandes, assassinado em Cascais há anos atrás.