Resumo
Maputo – capital moçambicana – expandiu-se de forma vertiginosa em meio ao processo de independência tardia (1975). Sua população multiplicou cerca de doze vezes durante as décadas de 1950 à 2020, atingindo mais de 1,1 milhão de habitantes. Centro político, comercial e financeiro do país, o tecido urbano da capital é palco de complexos processos de crescimento econômico e segregação espacial desencadeados nas últimas décadas. A região central, nomeada localmente de “cidade de cimento”, concentra infraestruturas modernas e amplamente diversificadas. Praças e parques, condomínios de luxo cercados de modernos escritórios, hotéis de padrão internacional, shoppings e um conjunto de obras faraônicas – erguidas a cifras bilionárias – dão o tom paisagístico de um progresso induzido e concentrado em favor de uma pequena elite. Todavia, para além deste “reduto”, cerca de 92% da população habita a parcela periférica de Maputo, popularmente designada como “cidade de caniço”. Estes, por sua vez, encontram-se alocados em habitações muito precarizadas, produzidas de maneira informal pelos próprios moradores e, em muito, submetidos à ausência completa de infraestruturas e serviços públicos. Questões que contribuem diretamente para que Moçambique possua o nono pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do planeta. Desta forma, o presente artigo – elaborado a partir de trabalhos de campo, discussões interdisciplinares e diálogos empreendidos no âmbito de projeto científico internacional entre universidades do Brasil e de Moçambique – busca apresentar e interpretar o conjunto de nexos urbanos que fazem de Maputo uma cidade fragmentada e complexa, repleta de contínuas transformações socioterritoriais em que emergem múltiplos embates vinculados à segregação, gentrificação, especulação imobiliária, dentre outros.
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