Por Edwin Hounnou
Para Nyusi o mais importante é aparecer, ser visto e recordado pelas "largas massas populares" para que seja lembrado quando chegar o momento de deixar o poder como líder insubstituível e o construtor das inúmeras vitórias do país. As "largas massas populares" vão implorar ao Filipe Nyusi que tenha mais um mandato de cinco anos. Todos os ditadores tocam a mesma música para se permanecerem no poder e se Filipe Nyusi agir assim, não estaria a descobrir a roda. É o modus operandi das democracias de fachada que dizem que o cumprimento dos limites constitucionais seja uma loucura dos ocidentais.
Para quem não conhece Moçambique pode achar que o Presidente Filipe Nyusi não tenha uma ocupação concreta, ou, no mínimo, um reformado que decidiu dar cabo das suas poupanças que conseguiu amealhar enquanto trabalhava, em intermináveis passeios pelo país fora, indo de distrito em distrito para inaugurar tudo e mais alguma coisa. Neste andar sem fim, Nyusi acaba usurpando as funções de governador de província, administrador distrital e de presidente de município. Nyusi vai em todas as inaugurações que acontecem, no país, independentemente do seu tamanho e envergadura política, social e económica.
Como ensina o lema segundo o qual não se substitui uma equipa, aparentemente ganhadora, logo, Nyusi não poderá ser substituído. Daí, passaremos a ter, também, o "nosso" pequeno Kamuzu Banda, do Malawi, entre 1964-1994, Paul Kagamé, do Ruanda, desde 2000, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, da Guiné Equatorial, desde 1982, Yowere Musseveni, do Uganda, desde 1986, e Paul Biya, dos Camarões que está no poder desde 1982. Todos esses ditadores, alguns já bastante velhos e trôpelos, estão no poder pela aparente vontade das largas massas.
Gostaríamos que estivéssemos errados nesta nossa acepção, porém, todos os factos dão essa grande perigosidade de que Filipe Nyusi não vai largar o poder quando tocar o apito do fim do seu mandato. Temos experiência, por isso, sabemos ler os tempos. O mesmo aconteceu com o seu antecessor, Armando Guebuza, foi marcando passos até ao último dia. A lucidez de alguns do interior do seu partido não lhe permitiram que continuasse no poleiro nem por mais um segundo.
Hoje, esses gurus parece que andam mais ocupados com outras coisas mais interessantes para si do que com o país e seu povo. Vimos como o seu membro do Comité Central, Castigo Langa, que tentou levantar a questão do terceiro mandato, foi humilhado pela Comissão Política, de comportamento quase canino e não recebeu o explícito de ninguém e até a sua presença foi interdita na sala das sessões. Filipe Nyusi está em estágio avançado de preparação para impor o terceiro mandato. A recente compra e distribuição de viaturas de luxo pelos seus "súbditos", ou seja, primeiros-secretários provinciais e membros do secretariado-geral, é disso um sinal inequívoco da compra de legalidade.
Somando as passeatas à compra de legalidade, fica um grande recado do qual não custa assim tanto concluir da intenção de que vai mesmo ao encontro do terceiro mandato. Essa intenção deve ser abortada, de forma enérgica, por todas as forças vivas da sociedade moçambicana. Nós que já conhecemos os malefícios da ditadura, devemos tudo fazer para que esse sonho não seja realizado. Nada pode justificar um hipotético terceiro mandato seja para quem for.
Nos países modernos e democráticos, o Presidente da República é o garante da lei e da estabilidade política. Não perverte a constituição para fazer valer interesses de grupo. O Presidente da República não anda a cortar fitas de inaugurações de edifícios de justiça pelos distrito nem de agências bancárias. Ele delega essas funções a seus colaboradores e fica a conceber as grandes linhas do desenvolvimento socioeconómico do país. Não é isso que vemos no nosso Presidente Nyusi que mais se aproxima ao tal “sol que nunca desce".
Para nos apercebermos desse cambalacho, basta escutar o que os seus acólitos dizem e escrevem. Estamos perdidos tanto como povo assim como país. Deixamos de ser prioridade. Deixamos de ser pessoas concretas que aspiram o futuro e passamos a ser simples algarismos numéricos para dados estatísticos que embelezam os discursos dos chefes. Deixamos de sonhar com o amanhã. Somos um povo que quer o país desenvolvido e a sair do raquitismo económico, político, cultural e social. É obrigação do povo libertar-se dos novos colonizadores.
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 22.02.2023