Abstrato
Em 1959, o cônsul português em Dar es Salaam recebeu um pedido por escrito para o regresso colectivo dos migrantes macondes ao norte de Moçambique. Este pedido foi então feito pessoalmente por dirigentes de associações de entreajuda ao administrador da pequena vila de Mueda, dando início a um incidente que culminaria no infame massacre de 16 de Junho de 1960. As origens daquele acontecimento foram enterradas tanto pelos portugueses vontade de negar a violência e pela narrativa heroica propagada pelo movimento de libertação nacional. Este artigo investiga os registros que a inteligência colonial reuniu em torno do aumento da subversão no distrito de Makonde. Seu objetivo é produzir uma representação mais complexa da trajetória que levou do próprio pedido à repressão violenta. Os relatórios de inteligência produzidos no calor dos acontecimentos
oferecem uma oportunidade para abrir a narrativa do evento Mueda, para vê-lo não como o ponto de partida de uma teleologia de libertação nacional, mas como um momento de incerteza e possibilidade gerada por planos provisórios de uma federação de estados independentes da África Oriental e pelas tensões raciais inerentes à transição para a independência de Tanganyikan, e influenciada em seu desdobramento pela iniciativa individual, ambição, conflitos de liderança, aventureirismo, covardia e acaso.
NOTA: Leia aqui a história contada por um participante naquele acontecimento: DESCRIÇÃO DOS ACONTECIMENTOS DE MUEDA EM 16.06.1960, POR UM DOS INTERVENIENTES, ENTÃO FUNCIONÁRIO ADMINISTRATIVO em mueda_god_1960.doc (live.com)