Por Edwin Hounnou
Os alaridos entre Armando Guebuza e Filipe estão a subir de tom que se tornam cada vez mais perceptíveis ao ouvido comum. O partido Frelimo pode correr o risco de uma eminente implosão (um processo no qual os objectos são destruídos ao colapsar sobre si mesmos. Na implosão, reduz o volume ocupado e concentra a matéria e energia), para o gaudio do povo que, há muito, pretende se livrar dos novos colonizadores.
O papel que deveria ser feito pela Oposição, está sendo feito por alas no seio do partido no poder, na sua luta pelo controle do poder. A Oposição anda distraída. Está a bocejar. Está satisfeita com as migalhas que caem da mesa do poder. Não tem tempo de olhar para os problemas do país. As divergências entre as alas da Frelimo não abrirão brechas para a Oposição assaltar o poder. É preciso lutar sem esperar pela boleia.
Esperamos pela queda do gigante de pernas de barro que, ao longo dos últimos 50 anos, vem jogando o país para a sarjeta da história e ostracismo. Esperamos que, no fim dessas desavenças internas no seio do partido Frelimo, haja um desmoronamento das partes ora em disputa para que o país possa fazer o necessário "restart" para que comece tudo de novo porque, de facto, nos enganarem, venderam-nos gato por lebre.
Os grupos em disputa não têm, nas suas agendas, o país. O que conta, para eles, é o poder através do qual promovem suas negociatas. Quanto a nós, não nos interessa apoiar um grupo ou condenar outro porque todos são tão maus quanto nefastos. Todos são responsáveis pela situação calamitosas em que o país se encontra.
A governação a que estamos sujeitos é produto de guebuzas e nyusis que perseguem, apenas, seus interesses de grupos, o dinheiro e os "vinhos" franceses no lugar de trabalharem para Moçambique. As mútuas acusações que ouvimos não nos aquecem nem arrefecem. Não nos deixam apaixonados por serem vozes de hienas que disputam os nossos recursos e jogam para a latrina o nosso futuro comum. Não saímos em socorro de nenhum deles.
"Temos o Ndambi que a Justiça não explica porquê está lá. Mas fizeram de propósito para ele não estar cá connosco". Parece um delírio à mistura com amnesia. Ndambi está na prisão por ter participado na grande roubalheira ao Estado. Isso não é novidade para ninguém. Ndambi roubou 30 milhões de dólares. Só o "paizinho" anda esquecido. A tenda da BO pecou por não ter sido o mais abrangente possível, para escolher a todos os implicados, pelo facto da falta Justiça no nosso país.
Guebuza e Nyusi conhecem-se nas sujeiras das dívidas ocultas. Moçambique e seu povo estão a passar por momentos difíceis devido a Guebuza e Nyusis. Eles comem do mesmo do prato. São da mesma escola. O povo sabe quem destrói as nossas florestas, quem deixou as nossas estradas se degradarem.
O povo sabe quem anda a "bolar" os nossos recursos. O povo não vai dançar a canção das hienas de sempre. O povo sabe quem anda a matar o ensino para que os moçambicanos continuem cegos, incapazes de pensar e reivindicar os seus direitos. Sabe quem faz faltar medicamentos nos hospitais. Sabe quem é o pai dos esquadrões da morte e quem usa o Estado para encher seus bolsos. O povo não entra em lutas que em nada lhe dizem respeito. Essa luta é de Guebuza contra Nyusi ou vice-versa. Não queremos nenhum deles à frente do nosso destino comum.
"Temos o Ndambi, que a Justiça não explica porquê está lá. Mas fizeram de propósito, para ele não estar cá connosco. A Valentina foi-nos arrancada nesta confusão que levou agora o Ndambi à prisão. (...). Se o colonialismo português não conseguiu nos calar nem vencer as nossas convicções. Não serão os nossos camaradas a consegui-lo.", disse. Guebuza não sabe que Ndambi arrecadou 30 milhões de dólares das dívidas ocultas? Já não se recorda das nove toneladas do "vinho" francês?
Este tipo de conduta tornou-se padrão entre os dirigentes da FRELIMO. Desde os tempos de Chissano que filhos de dirigentes a serem protagonistas pelas piores razões. Vimos a chamarem a Valentina Guebuza de princesa do Índico em paralelo com a Isabel dos Santos, a princesa do Atlântico. Muitos acharam aquilo como algo normal enquanto não passava de uma aberração.
Guebuza vai ser recordado pelo mal que causou ao povo moçambicano, mais do que pela sua contribuição pela libertação do país. Não aproveitou os seus mandatos presidenciais para recuperar a reputação que lhe vem fugindo desde os tempos da Operação Produção. Nyusi de santo não tem nada. Não fica atrás de Guebuza.
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 01.02.2023