O orvalho da desgraça
As acácias dançam a vontade das ondas do mar
Nesse vaivém que relembra
os ventos das monções
Onde as marés desobedientes
desconhecem os limites
Que em crescendo vão empurrando
Os solitários mangais de Zalala.
A natureza sombria,
O luxo das acácias mórbidas de Brandão
Que nas noites de pirilampos me assustam
Na redescoberta das beldades do amor
Esse despertar poético sem rima
Evocando a morte que nunca morre
Esses versos eróticos me instalando
Nas margens dos Bons-sinais,
Esse Icídua descontinuado
Esse Manhaua que de bairro ficou só o nome
Esse FAE que de mercado
apenas sobrevivem os escombros,
Porquê o Índico se tornou hostil,
Devastou a risonha esperança matinal
De um crepúsculo promitente?
Trémulo
É o amanhecer desta paixão atormentada
Esse amor que amo em ti prostrado
Oh, Quelimane!
Quando retornarás dessa viagem hipnotizada
Com lágrimas do Freddy
Esses soluços pela tua presença ausente
Em noites ao relento dormitadas
Sobre o rocio das madrugadas efémeras!
João Niove,
Maputo, 29 de Março de 2023