Por Francisco Nota Moisés
Entre as 10 e 12 horas do dia 11 de Marco de 1968 um grupo de macondes revoltados contra a liderança da Frelimo de Eduardo Mondlane invadiram o escritório da Frelimo em Dar Es Salaam. ... Estive na urbe tanzaniana antes do governo tanzaniano me ter evacuado com outros estudantes do então Instituto Moçambicano para o campo de refugiados sob tutela do Alto Comissariado das Nações Unidas para os refugiados em Rutamba no Distrito de Lindi na Província de Mtwara no sul da Tanzânia.
Escrever curtos artigos sobre acontecimentos históricos de grande envergadura como aquele em que Joaquim Chissano perdeu o seu casaco durante o ataque à sede da Frelimo em Dar Es Salaam em 1968 significa que o autor deve sacrificar detalhes para somente de passagem mencionar tais acontecimentos. Foi a razão porque não pude fornecer detalhes sobre as razoes que fizeram com que o governo tanzaniano evacuasse os estudantes do antigo Instituto Moçambicano para o campo de refugiados de Rutamba no Distrito de Lindi na Província de Mtwara?
Porque é que o governo tanzaniano nos exilou internamente para Rutamba? Na revolta entre os militantes incluindo os estudantes e os grandes dos terroristas da Frelimo, o vice-presidente tanzaniano, o malogrado Rashid Kawawa, que era responsável dos assuntos internos, da segurança e dos assuntos dos refugiados, não gostava de Eduardo Mondlane por ter informações sobre as suas ligações com a CIA americana e das suas relações secretas com o regime salazarista. Daí que cada vez que os grandes dos terroristas da Frelimo decidiam fechar o instituto e obrigar os estudantes para irem à uma morte certa nas mãos assassinas de Samora Machel e do seu gangue de carrascos e super assassinos em Nachingwea, Rashid Kawawa anulava as ordens de Mondlane e ordenava que os estudantes permanecessem no instituto.
Rashid Kawawa matinha o padre Gwenjere em alta consideração. Era ao gabinete do vice-presidente que Gwenjere ia continuamente apresentar queixas sobre o que não ia bem na Frelimo e porque é que devia haver mudanças de liderança no movimento que os seus lideres tinham transformado numa organização terrorista.
A luta permanente entre os grandes da Frelimo e os estudantes permaneceu entre Fevereiro e Julho de 1968 com aulas suspensas. Em Julho o gabinete de Kawawa decidiu desengajar e por termo à luta continua entre os estudantes e os grandes da Frelimo. Deram também a entender aos estudantes que os tanzanianos tinham informação de que os grandes dos terroristas da Frelimo tinham planeado matar todos os estudantes.
Foi então que durante o ultimo protesto dos estudantes em frente do gabinete do vice-presidente em frente da bela Praia de Dar EsSalaam, fomos detidos e despachados para a prisão central de Dar Es Salaam onde fomos mantidos sem maltratos por três dias antes de sermos enviados para Rutamba em dois machimbombos guardados por polícia armada que falava e conversava connosco amigavelmente. Os machimbombos rumavam em direção do sul e foi por volta do meio dia do dia seguinte que abordamos o campo de Rutamba onde depois da nossa descida, o grande dos policias deu ordens aos comandantes do campo, dizendo: "esses jovens viverão no campo. Tomem conta deles. Nenhum dirigente da Frelimo deve ser admitido neste campo para prejudicá-los. Informem-nos logo que virem os dirigentes da Frelimo aqui que é para o governo do Tanzânia tomar medidas severas contra eles."
Na verdade os grandes da Frelimo evitaram chegar naquele lugar. Somente, um dia Joaquim Chisano chegou ali e obteve permissão para falar connosco. Saiu dali sem ter a reunião que desejava ter. Somente eu e um outro individuo falamos com ele em francês, que ja dominávamos desde os nossos dias no Seminário de Zobué, depois de lhe dizer que nós não conhecíamos portugueses por sermos congoleses.
Depois daquele discurso do grande da polícia, os machimbombos regressaram para Dar Es Salaam. A promessa das autoridades tanzanianas que nos tomariam de volta para o instituto depois deles resolverem os problemas na Frelimo eram falsas. Mesmo se tal acontecesse, ao longo dos anos passados muitos estudantes ja tinham fugido para o Quénia e não passavam dias sem outros fugirem. A população estudantil diminuía e a continuar daquela forma se estivéssemos ali, não haveria nenhum estudante pelo fim do ano 1968. E o Instituto Moçambicano nunca mais reabriu como escola da Frelimo. Em Agosto de 1969, eu e dois outros, fugimos de Rutamba para Nairobi, onde vivi 17 anos da minha vida, com 2 deles vividos na eMaswatini (Swazliand) entre 1983 e 1985.
Rutamba era um lugar seco e arenoso onde se produzia cassava, caju, e arroz em terrenos pantanosos em tempos chuvosos. Não era portanto um lugar onde eu iria confinar a minha vida. Era um lugar que representava um atraso na vida.