Por Tomás Vieira Mário
É uma nova expressão, na liturgia política da Pátria Amada. Ela emerge na sequência da arruaça policial do dia 18. E rapidamente ela se vai propagando como fogo em savana seca.
Ouvimo-la na célebre comunicação do Vice-Comandante Geral da Policia e repetida nos dias seguintes por outros dignitários políticos, mas não só.
A expressão ganhou mais fogo no estrondoso discurso do Secretário Geral da Associação dos Combatentes, Fernando Faustino, proferido na abertura da reunião do Comité Central da Frelimo, esta Sexta-feira.
Afinal o que essa expressão quer dizer? Ela quer dizer que, à "boleia" das publicamente anunciadas intenções da marcha (homenagear o rapper Azagaia) existiriam outras agendas: políticas!
A "prova" apresentada é a participação de figuras políticas nas marchas, incluindo conhecidos deputados da oposição.
Ora, a marcha em homenagem ao Azagaia é antes de mais uma manifestação de identificação com a sua obra musical; com a mensagem profunda das letras das suas musicas: de expressa crítica politica e social. Não é obviamente, uma mera homenagem à pessoa do homem, o Edson da Luz!
E então onde está a fronteira com a política?
Por isso esta expressão tem evidentemente duas intenções que importa decifrar: antes de mais, um óbvio esforço de tirar legimidade à marcha; desqualifica-la e, daí criar "justificação" para a arruaça policial.
Mais perturbador ainda: o objetivo é criar a narrativa de "manipulação" (dos jovens), estratégia adequada para evitar abordar as causas de fundo que levam os jovens à rua!
Foi sempre assim na história política nacional: nós negamos que tenhamos problemas profundos para abordar: qualquer sinal de mal estar na nossa sociedade tem as suas causas antecipadamente identificadas: são os infiltrados; é a mão externa; são os sabotadores". E em 2023 acrescentamos um novo culpado: os aproveitadores!
Mas que estranha democracia seria essa, em que os deputados, os ministros, ou idis... perdem os seus direitos de cidadania, devido aos seus cargos políticos!
Salvo melhor entendimento, pareceu-me ser nesse sentido que Mia Couto também caminhou, num texto publicado nas redes sociais recentemente - no que tem, obviamente, o meu desacordo.
Pelo contrário: "aproveitamento político" é quando a Policia provoca arruaça violenta, em violação da Constituição e de uma série de leis ordinárias, alegando pretender neutralizar tentativas de golpe de Estado, cujos suspeitos ela não identifica nem encaminha à Procuradoria Geral da República, para os devidos procedimentos criminais.