Por Edwin Hounnou
Azagaia era um jovem que, com a sua voz, apelar ao povo para lutar pelos seus direitos, uma vida digna e a não aceitar à resignação. Isso só seria possível se o povo fosse o dono do seu próprio destino. O povo ouviu e acatou o clamor tão certeiro quanto profundo, por isso, vimos, em Maputo, polícias armados com gás lacrimogêneo, com carros blindados e cães espalhados pelas ruas cidade, para esmagarem, rasgaram em pedaços a carne de todo que não se submetesse às ordens ou transpusesse a linha de demarcação entre quem governa e os que queriam dar um adeus ao amigo e líder.
O movimento popular à volta da morte de Azagaia, falecido a 09 de Março de 2023, mostrou, de forma clara e evidente, que o povo, quando motivado e mobilizado, está acima de qualquer partido. Maputo há muito que não via um movimento tão desusado de tal modo que as autoridades governamentais soltaram à rua parte das unidades que as forças policiais munidas de carros de assalto e com cães prontos a fazerem vida negra a quem resistisse. Foi um dia muito feio e de luta intensa. Nunca algo igual tinha sido visto, no país, a seguir à independência.
A demarcação entre quem deseja mudanças profundas de quem pretende que a actual situação de caos, desigualdades sociais cada vez mais profundas permaneçam,foi clara. Azagaia era um excelente mobilizador de massas. Um exímio arrastador de massas, sem precisar de oferecer t-shirts, camisetas, sumos, capulanas e outras quinquilharias a ninguém, como fazem partidos abastados da nossa praça política. Azagaia para chamar o povo à luta, não é preciso distribuir-lhe rebuçado, leite e mel. A sua voz e o conteúdo das suas músicas eram tudo quanto o povo precisava para sonhar. Para se tornar grande e visível aos olhos de todos, Azagaia não precisou esmagar ninguém nem humilhar o outro.
A missão de levantar o país é de todos, por isso, Azagaia nos convidava à luta e sempre dizia que "Povo no Poder" era o "PIN" último do futuro por que Moçambique teria que passar, se quisesse ser onde todos pudesse se sentir dono do seu destino. Povo no Poder não era apenas um slogan ou uma simples palavra de ordem, mas um sério convite a uma luta tirânica contra um regime corrupto, totalitário e apodrecido. Para o povo aderir a uma causa, precisa, como ficou demonstrado, de um líder, de um guia. Azagaia era uma voz contundente capaz de conduzir o povo a libertar-se do jugo em que se encontra submetido pelos libertadores.
Azagaia era um jovem de coragem que, em vida, enfrentou o regime, denunciando as suas práticas. Atacou a corrupção como sendo um mal que destrói a sociedade e dizia que anda mal não pelos momentos a que ficou durante a noite colonial mas devido, fundamentalmente, à má administração em que se encontra desde que ascendemos à independência. O que nos deixa de barriga não é o colonialismo, porém, as más políticas seguidas até hoje. Sim, o país deixou de produzir para viver de importações mesmo daquilo que bem poderíamos produzir no nosso país.
As importações e os peditórios, que se multiplicam cada vez, servem de fonte de enriquecimento de algumas elites do partido no poder. No nosso país, já não há competência. A palavra competência ou a sua referência foi substituída pelo termo camarada, compadre, amigo ou "é nosso" e como resultado disso, navegamos, hoje, num mar de confusão e anarquia. Fecharam o caminho do nosso futuro comum. Estamos sem futuro nem horizonte, assim, Azagaia apelava para Povo no Poder, como o único caminho de salvação. A diferença entre o povo, que luta pela liberdade, e os mutantes que sempre torraram o nosso país, foi evidente.
Desde a Praça da Independência, na Cidade de Maputo até ao cemitério, foi um trajecto de confrontações entre a polícia e o povo que cantava e dançava, para imortalizar a memória de quem fez da música um instrumento de combate para o povo se libertar das garras dos novos colonos.
Um povo determinado não teme ataques, carros de assalto nem de cães treinados para matar. Homens como Azagaia não aparecem todos os dias. Azagaia é um fenómeno raro que aparece de tempos em tempos. Enquanto uns cantam, com o rabo dobrado entre as pernas, debaixo da mesa do poder, Azagaia cantava Povo no Poder.
Obrigado, Azagaia, por teres acordado o povo do sono. Na verdade, um povo sem poder é um povo escravizado. Azagaia, mesmo já morto, ainda continua a perturbar os trafulhas do regime que a polícia bater no povo! Azagaia, tu és o eterno herói dos oprimidos!
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 22.03.2023