Quando cheguei aqui pela primeira vez em 2004, podia conduzir com os meus amigos Moçambicanos o dia inteiro e, se tivéssemos sorte, talvez avistássemos um macaco-cão, ou um facocero ou algo assim.
Sr. Greg Carr, o que é o Parque para si?
(CARR) Basta vir sentar-se durante um pôr-do-sol à beira do lago, no centro deste parque nacional, quer dizer, o tempo pára. E podemos ver cem cores amareladas e cem cores alaranjadas, e então vem o crepúsculo, e logo um bando de aves passa sobre a água. E tem um hipopótamo ali, fazendo barulho, e tem uma impala ali. E sabem? É como, “Bem, eu poderia estar aqui há cem mil anos e poderia ter-se passado o mesmo.”
Quando cheguei aqui pela primeira vez em 2004, podia conduzir com os meus amigos moçambicanos o dia inteiro e, se tivéssemos sorte, talvez avistássemos um macaco-cão, ou um facocero ou algo assim. Agora nós conduzimos por aí e é um oceano de vida selvagem. Viramos numa esquina, tem uma manada de elefantes, percebem? Vamos na outra direção, há alguns filhotes de leão. Dez mil inhacosos e digo para mim mesmo: “Sabes uma coisa? A natureza pode recuperar-se.”
Qual foi o seu primeiro passo neste processo de restauração do Parque?
(CARR) Bem, como primeiro passo, tivemos de remover mais de 20.000 armadilhas e ratoeiras de arame que ficaram neste parque, sobras da guerra. Livrámo-nos de todas. Porque, quando aqui cheguei, acho que tínhamos cinco ou seis leões, talvez.
(CARR) Em quatrocentos mil hectares. E os leões que tínhamos, a maioria deles tinha três pernas porque haviam pisado uma armadilha ou algo assim e, em segundo lugar, algumas das espécies simplesmente desapareceram completamente. Então iniciámos um processo: primeiro trazer os herbívoros. Então, trouxemos 200 búfalos. Trouxemos 200 bois-cavalos. Trouxemos algumas zebras. E então, quando tivemos herbívoros suficientes, quisemos trazer os carnívoros de volta. Então, reintroduzimos os leopardos. Reintroduzimos as hienas. Os leões, sozinhos, os seus números simplesmente cresceram exponencialmente. Então, de cinco ou seis leões quando começámos, agora temos provavelmente 200.
E como correu este processo durante esses anos todos?
(CARR) Nunca imaginei que corresse tão bem ou tão depressa. Em 2018, fizemos um levantamento aéreo, sabe, então contando só os grandes animais // contámos 100.000 grandes animais a partir do ar.
As pessoas não tinham nada. Quero dizer, eles não tinham roupas. Usavam trapos ou tinham feito roupas com casca de árvore. Eles estavam a comer insectos e a tentar apanhar ratos. E, sabe, foi quando percebi, bem, este parque nacional vai ter que ajudar as pessoas.
(CARR) Agora trabalhamos em 89 escolas primárias, que são todas as escolas que circundam este parque nacional. Estamos a treinar 600 professores neste momento. Agora pense em como é difícil criar um sistema escolar quando não se tem professores que saibam ler e escrever por causa de gerações de guerra. Agora, algo em que realmente nos concentrámos, como primeiro passo, foram as raparigas realmente vulneráveis. Agora, muitas vezes o que acontece nas famílias pobres daqui uma menina faz 13 ou 14 anos e a família diz: “Bem, está na hora dela casar.” Pode até não ser o que eles realmente querem, mas eles acham que não há outra escolha. E é isso que acontece e ela casa-se com um agricultor e pronto. Então, começámos algo chamado Clubes de Raparigas.
Fala-nos das pessoas que vivem ao redor do Parque?
(CARR) Esta terra pertence a estas pessoas. Elas estão aqui desde sempre. São os seus animais, é a sua terra, são as suas árvores, é a sua herança cultural e espiritual, certo? É uma ideia que veio do meu herói, Nelson Mandela. E a ideia era criar um parque de direitos humanos, sabe. O que é que isso significa? Um parque que se preocupa com as pessoas, um parque que pertence às pessoas. Então, em vez de um parque virar as costas para as pessoas, é um parque que se abre para as pessoas e diz: “Este é o vosso parque. Estes são os vossos animais. Estas são as vossas oportunidades.
Quais foram os seus principais obstáculos nestes anos todos?
(CARR) Mal sabia eu então o que aí viria…
Ok, houve os seis anos de guerra e depois o ciclone. Quando o ciclone Idai atingiu esta área, basicamente todos os nossos funcionários tornaram-se nos primeiros a responder. Então, em outras palavras– oh, temos um elefante bem ali.
Eu só acho que sempre que algo assim acontece, ficamos mais determinados, não menos determinados. E quando temos pessoas a sofrer numa guerra que precisam de ajuda ou pessoas a sofrer com um ciclone, elas precisam de ajuda, sabe, ficamos ainda mais comprometidos. Não podemos perder o nosso comprometimento em momentos como estes.
Quanto de sua fortuna pessoal investiu nisto?
(CARR) Eu gostaria de manter isso em segredo, mas infelizmente, eu acho – sabe, todos provavelmente poderiam fazer as contas e descobrir, são mais de $100 milhões de dólares. A minha mensagem para qualquer pessoa com dinheiro é, quero dizer, o que é que vai fazer, colocar tudo no seu caixão? Quero dizer, por que não aproveitar a alegria da filantropia? Eu diria para o bilionário vizinho saia e aproveite para gastar o seu dinheiro para ajudar algumas pessoas.
Um conselho: Vá procurar a sua Gorongosa. E irá receber uma bênção maior do que a bênção que fizer.