Por Gustavo Mavie
A afluência massiva, a partir das primeiras horas de hoje dia 14 de Março corrente, de milhares de pessoas junto à Praça da Independência para, mais de perto, prestarem a sua última homenagem de corpo presente, ao grande músico de intervenção social que foi em vida AZAGAIA, é mais uma prova irrefutável, de que o que ‘’planta’’ uma certa pessoa nos corações de outras pessoas, não é a acumulação excessiva de dinheiro nem de bens materiais, como os corruptos acreditam, mas tão-somente entregar-se genuinamente à luta pelo bem-estar dos outros, do que em prol de si mesmo.
É, pois, por ter se empenhado na denúncia dos males causados por outros homens que tornam as vidas de muitos de nós uma autêntica agonia, que esses milhares foram homenageá-lo na Praça, como o homenagearam mais milhões de outros moçambicanos que não puderam lá ir.
É que Azagaia cantou, melhor dito, DENUNCIOU a injustiça que é infligida a muitos milhões de moçambicanos por outros poucos moçambicanos gananciosos que maximizam os seus ganhos pessoais e negam o mínimo aos seus semelhantes. São gananciosos que tudo fazem para acumular mais dinheiro e mais bens que estão para além do que precisam para si e suas famílias, em prejuízo da Maioria que muitas vezes é quem o serve.
AZAGAIA provou a validade duma das descrições que concebi em 1995, num artigo que escrevi então, elogiando A MAGIA DA MÚSICA, que agora faz parte do meu livro A COLHEITA JORNALÍSTICA, em que proclamava que ‘’a música é encarada pelos míopes como ARTE dos vadios, mas que os realistas a encaram como ARTE dos POETAS CANTANTES’’. E AZAGAIA foi de facto um poeta cantante, que expôs a maleficência dos corruptos que envergam muitas vezes a indumentária da FRELIMO ou do Estado para DISFARÇADAMENTE roubarem ao povo que dizem de boca para fora amar, servir e defender não poucas vezes ao som sloganístico de Viva a FRELIMO, Viva o Povo.
Ao contrário do que alguns dos seguidores e admiradores de AZAGAIA assumem sobre a sua musica de intervenção social e política com que ele alimentou as mentes, ele não era propriamente contra o REGIME da FRELIMO como tal, mas tão-somente contra os CORRUPTOS que tal como os lobos que, segundo Cristo, iriam se vestir com peles de cordeiros, também os corruptos envergam a roupagem da FRELIMO para camufladamente irem se apoderando sozinhos do que é de nós todos.
Azagaia denunciou com muito vigor e coragem invulgares, a corrupção, tal como Samora Machel lutou corajosamente também com todas as suas energias contra os mesmos corruptos que sabia estarem infiltrados na sua própria FRELIMO. Samora os rotulou através da sua célebre frase ‘’INIMIGO INTERNO’’. Samora também apregoou ‘’O POVO NO PODER’’ tal como instou cantantemente ‘’POVO NO PODER’’ Azagaia. Mas não queria com isso dizer que a FRELIMO não é o Povo no Poder. É. Só que entre o Povo há Jpio ou Lobos trajando pele de cordeiro que são os corruptos que ‘’comem sozinhos’’, como denunciou em vida outro grande poeta cantante de intervenção social que foi o músico popular Jeremias Nguenha.
O próprio Azagaia tem uma estrofe musical em que reconhece que mesmo nos partidos da Oposição há os que são também JOIO, como o JOIO que está no seio da FRELIMO, e que sufoca paulatinamente este Grande Partido de Mondlane e de Samora. E se não se intensificar o combate contra estes corruptos, acabarão sendo um cancro que o matará.
Os que acreditam que só há corruptos na FRELIMO cometem o seu pior erro na vida. Nunca haverá REGIME SEM CORRUPTOS no seu seio, mesmo que tenham líderes não corruptos como era Samora ou mesmo Santos. É que mesmo a Igreja de Jesus Cristo tem os maus e bons, como os falsos pastores que pululam pelo país e pelo mundo, como também o expõe a campanha sob a liderança do Papa Francisco contra os maus padres que abusam sexualmente as crianças.
Por isso é mais errado ainda ver toda a FRELIMO como um partido de corruptos. Nela há gente boa e gente boa que não é corrupta. Na verdade, há corruptos em todos os partidos moçambicanos como há nos noutros países. É por ter lutado contra os corruptos, que o Estado moçambicano decidiu que o seu velório fosse na mesma sala dos Grandes Actos dos Paços do Município de Maputo, onde se fez também o velório do grande anticorrupção que foi SAMORA MACHEL.
Nessa descrição sobre o que é a MÚSICA que fiz há cerca de 30 anos já, digo que ‘’é a ARTE mais sublime e uma bela criação que certos homens e mulheres podem fazer para alimentar e alegrar os espíritos alegres ou amargurados doutros homens e outras mulheres, como também das crianças de ambos os sexos’’. Nesse elogio à MAGIA da MÚSICA dizia e digo ainda hoje, citado Giovani Papini, que ‘’a MÚSICA é uma ordem e que é mais forte que os fortes’’.
‘’Milenar como a própria espécie humana, a música não é só companheiro do HOMEM, mas seu tempero, seu alimento espiritual insubstituível, remédio que lhe cura as mágoas, incluindo na hora da partida dos nossos ente-queridos, ao mesmo tempo que nos atiça ou catalisa a alegria, e nos faz lembrar os amados e amadas. Não é por acaso que os poetas eruditos concluíram que o Mundo não seria Mundo sem a música ’’.
Para não ser longo nesta homenagem a AZAGAIA e não ser lida, cito em jeito de terminar, uma das passagens mais significativas de Papini sobre a música, que está nesse meu artigo: ‘’Estás na solidão, no alto, e um canto simples e triste faz-te reflorir na alma melancolias contidas, nostalgias que julgavas mortas, desejos de uma vida que não viverás mais, lembranças amargas de uma vida que perdeste. Há na música um poder sobre-humano e trans-humano que pode erguer até às constelações ou submergir aos pântanos. O carácter todo-poderoso da música advém do facto de exprimir e representar a essência do Mundo, essência que inclui a Vontade e o Movimento. A música é poderosa porque liberta-nos dos invólucros terrestres e acompanha-nos à proximidade de Deus’’.
Que os músicos moçambicanos eternizem o legado de AZAGAIA dando continuidade CORRECTA à sua poderosa música de intervenção ou correcção social que alguns encaram como anti-regime, mas que grosso modo era anti-corruptos, tal como Samora gritou sempre em vida ''ABAIXO CORRUPÇÃO E OS CORRUPTOS'', mas que nem com isso era contra o REGIME da FRELIMO que ele próprio liderou exemplarmente até à sua morte trágica em Mbuzine.
Eu quando ouço as músicas de AZAGAIA estou as entendo como sendo um grande patriota que tentou em vida fazer o melhor para nós outros, que foi contra os moçambicanos que são inimigos doutros moçambicanos, tal como houve na Roma de Cícero ‘’romanos inimigos de ROMA e dos Romanos’’, e que ele os combateu energicamente sem tréguas até ir às suas casas, ao ponto de o acusarem de excesso de poder, mas que entretanto o povo, vendo-se salvo o aplaudia. É o que os bons camaradas da FRELIMO devem fazer: lutar contra os corruptos com a mesma energia com que AZAGAIA e Samora lutaram contra estes moçambicanos inimigos dos moçambicanos.