Nos últimos anos, o Distrito de Macossa, situado a nordeste da Província de Manica, a 267 km da capital provincial, Cidade de Chimoio, transformou-se no epicentro da caça furtiva e abate desenfreado de espécies preciosas de toro de madeira.
As actividades, segundo apurámos, envolvem várias individualidades ao nível do distrito e não só, principalmente os Agentes da Polícia da República de Moçambique (PRM), os quais após o escândalo ocorrido em 2020, envolvendo o então Comandante Distrital da PRM, Jorsélio Pinto, que estranhamente viria a ser condenado a uma pena de seis (6) anos de prisão e um ano de multa, a qual viria a ser substituída por multa, estipulada em 45 mil meticais, e outros três (3) Agentes da PRM, em Abril de 2021, eis que um novo actor local da corporação entrou em cena em Macossa – o Chefe das Operações Distritais da PRM.
Uma investigação jornalística realizada pela “Integrity”, em Manica, concretamente em Macossa, constatou que a situação da caça furtiva ao nível das Coutadas ali existentes é alarmante. Segundo revelou um Fiscal de fauna bravia da Coutada Oficial de Macossa, que, por temer represálias e perseguições, pediu anonimato, a situação da “furtivagem, em Macossa, é preocupante, porque o sindicato envolve os graúdos do distrito, que, nas suas acções, encaminham jovens sem informação do valor da conservação de animais”.
“Nós fizemos de tudo para combater o problema. Infelizmente, sempre que neutralizamos alguns caçadores furtivos, quando chegam à Polícia, estranhamente, são soltos e ninguém clarifica sobre o assunto”, disse a fonte, que, em seguida, acrescentou: “Há caçadores furtivos para as diferentes espécies de animais que as Coutadas e os Safaris ali existentes possuem”.
Para o activista Bernardo André, natural de Macossa, actualmente residente em Chimoio, “geralmente, nesses tempos de chuva, em que se vê muito capim, tem sido calmo; mas, em tempos secos, é mesmo um caso sério, e há gente de peso ligado a isso. Os peixes pequenos são usados como escudos. Há, aqui, pessoas que vivem da caça furtiva (…)”.
Sobre o envolvimento dos Agentes da PRM, Bernardo André avançou ser “muito normal que estejam envolvidos, uma vez que, no distrito, são eles quem estão na frente de coisas de género, incluindo os outros dirigentes com a jurisdição para combater a caça furtiva, exploração ilegal de madeira e, principalmente, a exploração ilícita e o contrabando de ouro”.
Por sua vez, para Marcos Junqueiro, residente da Vila de Macossa, o que mais abunda no distrito e está no centro das atenções da juventude e de outras importantes figuras é a caça furtiva e o corte ilegal de madeira, e o elefante tem sido o maior alvo, justificando-se pelo seu contacto mais ou menos permanente com as populações nas machambas. “Por exemplo, em 2022, no Distrito de Sussundenga, alguns foram detidos na posse de pontas de marfim de elefante, alegadamente provenientes do novo Parque Nacional de Chimanimani; mas, das diligências feitas, constatou-se que alguns eram indivíduos de Macossa”.
Entretanto, uma fonte autorizada da Coutada 1, que pediu para não ser referenciada na nossa investigação, explicou que há diversos sindicatos de crime organizado de caça furtiva, por haver variedades de espécies de animais, desde os que cuja finalidade é destinada à venda de carne de caça e de grande porte, sendo o objectivo a venda dos troféus dos respectivos animais, como elefantes. Devido às incursões constantes nas Coutadas, animais como leão viram-se forçados a deslocar-se para outras áreas de conservação, deixando os locais preenchidos de javalis, búfalos e outros animais que não escapam à fúria dos caçadores furtivos.
Sobre a caça furtiva, “Integrity” tentou ouvir as autoridades governamentais, mas sem sucesso. Todavia, uma fonte da PRM, com a qual interagimos, devido à sensibilidade do assunto, preferiu não tecer muitos comentários. Mesmo assim, reconheceu o envolvimento de certos colegas da corporação no distrito e revelou que, há dias, um Chefe das Operações da PRM, cujo nome, infelizmente, não nos foi revelado, era uma das figuras envolvidas nesta tipologia de crime, o qual fora flagrado em plena incursão furtiva.