EUREKA por Laurindos Macuácua
Cartas ao Presidente da República (136)
Filipe Nyusi tem a caneta de Presidente na mão e a máquina do Governo, mas encontra resistência nos partidos políticos da oposição- com assento no Parlamento ou não-, na sociedade civil e no próprio povo- de que se diz empregado-, no que tange ao adiamento das eleições distritais. Aparentemente todos os moçambicanos querem que as eleições distritais sejam realizadas no próximo ano. A Frelimo é que não. E tem muitos motivos para isso!
As canetas presidenciais são todas iguais, mas a diferença é como cada usuário utiliza a sua tinta enquanto a manuseia. Um dos mistérios das canetas presidenciais é que, diferente das canetas mortais, elas não podem ser medidas de acordo com seu volume. Há Presidentes que dispõem de uma verdadeira fábrica de tinta à sua disposição, mas não conseguem escrever mais do que uma
sílaba de poder real com elas. A maior demonstração de uma capacidade presidencial está na sua habilidade de extrair o sumo da sua caneta. E isso não é uma equação de volume, mas uma prestidigitação de poder. Presidentes há que com uma fração de gota fizeram história.
O Presidente Nyusi está há dez anos no poder, a assinar decretos e decretos sem fim. Gastou litros de tinta, mas ainda não fez história. Usou e abusou da caneta gastando a tinta frivolamente, mas nada. E está à beira de cometer o seu erro monumental adiando a realização das eleições distritais e, provavelmente, concorrendo para um terceiro mandato presidencial.
Um alvitre para o Presidente Nyusi: canetas presidenciais são tão ardilosas que, às vezes, a sua tinta escorre para o seu dono. Isso é quando o Presidente não sabe manuseá-la devidamente, como parece que é neste caso.
O Presidente- há quem diga que é desejo seu- pode manobrar tudo e concorrer a um terceiro mandato- e ganhá-lo, talvez fraudulentamente-, mas isso não lhe vai ensinar a rara sabedoria do manuseio da caneta. Pode até dispor de um canhão de tinta. Talvez uma infantaria inteira de uma reserva infinita de tinta. Mas do jeito como toma as suas decisões, não chega longe.
É melhor o Presidente perder a caneta que tem para não perder o espaço mínimo de sobrevivência
na política. As canetas presidenciais são incríveis até quando elas não escrevem, e talvez sobretudo quando isso não acontece. Canetas presidenciais são objectos caprichosos: uma gota pode mudar a história, nenhuma gota também, litros e litros podem não significar nada.
Não é uma questão de quantidade. Mas de qualidade.
DN – 21.04.2023