Por Frederico Macossa
Tem-se dito que Moçambique tem dado sinais, cada vez mais clarividentes, de se estar a transformar num país autoritário ou autocrático – essencialmente, um país governado por um regime centralizado (com poderes excessivos ou totais sobre o Estado e que o gere acima do preconizado pela lei ou pela Constituição), e onde os seus cidadãos têm limitadas liberdades políticas e pessoais. Esse contexto tem aberto enormes desafios para os partidos da oposição, enfrentando uma série de obstáculos que dificultam a sua capacidade de influenciar a política nacional.
Com efeito, um dos maiores desafios que os partidos da oposição enfrentam, num contexto crescentemente autocrático como o de Moçambique, é a repressão do partido no poder (feita através do controlo político que este exerce sobre as forças de defesa e segurança, como a polícia e os serviços secretos). Em muitos países autoritários, a oposição é vista como uma ameaça à estabilidade do regime e, como resultado, é frequentemente alvo de perseguição, onde os seus membros podem ser presos, torturados ou mesmo mortos por causa das suas opiniões políticas. Além disso, o partido no poder pode usar os meios de comunicação social controlados pelo Estado (ou os privados, controlados pelos seus proprietários aliados ao partido no poder) para difamar os membros da oposição e desacreditar as suas ideias.
Ainda mais desafiante para a oposição é a falta de acesso aos recursos necessários para fazer campanha política e, por essa via, mobilizar activa e massivamente os seus seguidores. Não é segredo para ninguém que quem controla a maioria dos recursos económicos e financeiros no país (minas, empresas públicas e privadas, joint-ventures com as empresas e bancos multinacionais, etc) são os membros do partido no poder. Esse controle faz com que a oposição passe por imensas e diversas dificuldades para obter financiamento, patrocínio e apoio financeiro e logístico para as suas actividades políticas. Além disso, o partido no poder, através do controle político que exerce sobre as instituições estatais competentes, pode impedir que a oposição organize comícios e manifestações públicas, o que limita ainda mais a sua capacidade de mobilizar os seus seguidores.
Um terceiro desafio é a falta de instituições políticas independentes. Num sistema autoritário, as instituições políticas, como os poderes judicial e legislativo, são invariavelmente controladas pelo Governo. Como resultado, a oposição tende a passar por enormes dificuldades para fazer valer os seus direitos e proteger os seus interesses. Adicionalmente, o Governo pode usar essas instituições para perseguir os membros da oposição e reprimir as suas actividades políticas. Ainda mais pernicioso, a oposição em países autoritários muitas vezes enfrenta o desafio de lidar com a apatia e o medo da população em geral. Em muitos casos, as pessoas podem estar relutantes em se envolver na política ou apoiar a oposição devido ao medo de retaliação ou represália do partido no poder. Além disso, a propaganda destes pode levar as pessoas a acreditar que a oposição é uma ameaça à estabilidade do país, o que pode limitar o seu apoio.
Todos esses elementos acima são apenas uma ponta do problema. Tal como os problemas estruturais de carácter externo – onde se destacam a fraude eleitoral, onde o partido no poder muitas vezes usa tácticas antiéticas para garantir sua vitória nas eleições, ao manipular os resultados eleitorais, ao intimidar os eleitores e ao restringir a liberdade de imprensa, por exemplo – a fragilidade dos partidos da oposição em Moçambique também têm origem nas suas dinâmicas internas. Dentre elas, destacam-se mais duas: 1) divisões internas, resultado da falta de unidade e coesão dentro do partido; e 2) a falta de experiência e liderança, onde muitos partidos da oposição não têm líderes fortes e carismáticos que possam mobilizar eleitores e inspirar confiança.
As disputas podem surgir devido a diferenças ideológicas, lutas pelo poder ou questões pessoais. Muitos dos seus membros têm visões diferentes sobre como o partido deve ser liderado ou sobre quem deve ocupar as posições de liderança dentro do partido. Igualmente, a falta de transparência no processo de tomada de decisões é outro dos seus maiores desafios, especialmente quando decisões importantes são tomadas sem consulta prévia ou quando os membros do partido não são devidamente ouvidos, criando consequentemente ressentimentos e conflitos internos. Nesse sentido, quando o partido está dividido ou enfraquecido por conflitos internos, é menos capaz de mobilizar os seus membros e eleitores em torno das suas propostas e ideias políticas, dificultando a capacidade do partido de competir com sucesso contra o partidos no poder e, em última análise, limitar a sua capacidade de influenciar a política nacional.
Por todos estes e outros motivos, acredito que Moçambique precisa de uma nova oposição política. Tendo em conta o contexto nacional actual, um partido da oposição que queira efectivamente apelar às massas, vencer eleições e governar o país dever-se-á adaptar às tendências políticas, sociais, económicas, culturais e tecnológicas em constante mudança, no mundo de hoje, sem perder de vista os seus valores e princípios fundamentais. Deixo ficar abaixo algumas dicas gerais. Com efeito, um partido político de sucesso deve:
- Abraçar a diversidade e a inclusão, representando e acolhendo pessoas de todas as esferas da vida, independentemente de raça, género, religião ou orientação sexual.
- Concentrar-se nas questões mais importantes do país, priorizando questões relevantes e importantes para os seus constituintes, como saúde, educação, economia, infra-estruturas e demais áreas transversais.
- Usar recursos tecnológicos de forma eficaz, numa era digital presente onde partidos políticos de sucesso usam a tecnologia – através de plataformas de media social e estratégias de marketing digital – para arrecadar fundos e organizar eventos.
- Ser transparente e responsável nos seus processos de tomada de decisão e perante os seus constituintes, cultivando a abertura e a honestidade sobre as suas políticas, acções e objectivos a nível nacional e local.
Ainda mais importante, a liderança da oposição deverá apostar em políticos jovens. A maioria do eleitorado moçambicano é essencialmente jovem e ninguém melhor do que um jovem para ir de encontro aos seus anseios, privações, necessidades, interesses e aspirações. Sobretudo um jovem político que é apaixonado pelas questões com as quais se preocupa e que se sente movido pelo desejo de fazer uma diferença positiva no seu país. Um jovem político está, teoricamente, mais aberto a novas ideias e abordagens, mais disposto a desafiar o status quo. A maioria do eleitorado jovem revê-se facilmente num jovem político que é fiel a si mesmo e aos seus valores, alguém que é capaz de se conectar naturalmente com toda e qualquer pessoa num nível pessoal. Eleitores jovens facilmente se identificam com políticos jovens que são empáticos – aqueles que são capazes de entender e de se relacionar com as experiências e desafios dos seus constituintes, especialmente aqueles que são marginalizados ou sub-representados.
Contam-se com os dedos os políticos jovens, conscientes, empáticos e altruístas. Quantos deles se podem encontrar nos partidos da oposição que se têm em Moçambique? Muitíssimos poucos. A par de todas essas qualidades, são ainda mais atraentes políticos jovens com fortes habilidades de comunicação – líderes capazes de se comunicarem de forma eficaz com pessoas de todas as esferas sociais, através tanto das redes sociais como dos media tradicionais (TV’s, rádio, jornais). Para obterem ainda mais simpatia junto do eleitorado, estes jovens políticos deverão mostrar uma liderança visionária – uma visão clara para o futuro, capaz de inspirar e colocar as pessoas a trabalharem em direcção a essa mesma visão. Adicionalmente, um líder de facto deve ter a capacidade de entender e ter empatia com as necessidades e preocupações de seus eleitores, bem como ser capaz de se adaptar às realidades sociais, económicas e políticas em mudança e estar disposto a mudar de rumo quando necessário.
Integridade é outra das qualidades que um político de sucesso deve ter como uma mais-valia, manifesta num elevado sentido de ética e na predisposição para ser honesto e transparente nas suas acções e tomadas de decisão. Igualmente, um político de sucesso deve ser capaz de trabalhar em colaboração com outros, tanto dentro de seu próprio partido quanto entre as linhas partidárias, para alcançar objectivos comuns. Na era digital, um político de sucesso deve ser capaz de usar ferramentas digitais para construir a sua marca, arrecadar fundos e organizar eventos, usando-nas a seu favor em suas campanhas políticas.
Contam-se, em Moçambique, muito poucos políticos jovens que agregam valor em todas estas áreas. O meu entendimento é que só estes poucos é que deveriam ser a aposta dos partidos da oposição, para conseguirem contornar os enormes desafios estruturais (autocracia e autoritarismo crescentes) e endógenos (fragilidades de liderança, divisões e conflitos internos) que enfrentam para ser mais visíveis, credíveis e elegíveis. Vamos todos apostar em sangue novo e sério!
(Retirado do WhatsApp)