O eventual plano da TotalEnergies para a retoma do projecto de gás natural liquefeito (GNL) em Cabo Delgado corre o risco de obrigar à revisão de um acordo de empréstimo no valor de 4,7 mil milhões de dólares com os EUA, criando mais um obstáculo à retoma de um projecto que está parado há dois anos.
O EXIM Bank, Banco de Exportação-Importação dos EUA, que se comprometeu com a maior parte do financiamento para o desenvolvimento do projecto, enviará o empréstimo para revisão se o projecto, parado devido à insurgência, for reiniciado. “Se o projecto for retomado, qualquer outra acção de financiamento para esta transacção exigirá consideração e uma análise cuidadosa por parte do EXIM”, disse um alto funcionário do banco numa resposta a perguntas da agência de informação financeira Bloomberg, acrescentando que não foram feitos quaisquer desembolsos até à data.
De notar que qualquer alteração nas modalidades de financiamento criaria um novo obstáculo ao relançamento do projecto de gás da TotalEnergies, depois de ter sido interrompido durante mais de dois anos na sequência de ataques terroristas perpetrados por rebeldes ligados ao Estado Islâmico. A TotalEnergies, o operador, tem estado a ponderar um regresso ao local para completar o projecto, se a situação de segurança o permitir. Até esta segunda-feira, 22 de Maio, a TotalEnergies não quis comentar esta notícia.
O projecto de GNL em Moçambique, o maior investimento directo estrangeiro em África até à data, foi contestado sem sucesso no início deste ano num processo que alegava que o financiamento pelo governo do Reino Unido era contrário aos compromissos assumidos no âmbito do Acordo de Paris. A TotalEnergies disse, então, que o projecto de GNL só poderia iniciar as exportações do combustível em 2027, na melhor das hipóteses.
O conselho de administração do EXIM aprovou o empréstimo em Maio de 2020, durante a presidência de Donald Trump, afirmando que iria apoiar 68 fornecedores dos EUA e 16 700 postos de trabalho americanos através do envolvimento na fábrica em terra, bem como na produção offshore. O projecto da TotalEnergies completou um financiamento de 16 mil milhões de dólares, envolvendo uma série de bancos.
O projecto foi suspenso no ano seguinte, na sequência de ameaças constantes à segurança, incluindo um ataque com mais de 100 rebeldes que invadiu a cidade de Palma, perto do local do projecto, e vitimou dezenas de pessoas.
O Director Executivo da Total, Patrick Pouyanné, visitou a zona em Fevereiro e encomendou um relatório independente. Jean-Christophe Rufin, médico francês com experiência em ajuda humanitária e diplomacia, foi encarregue de elaborar o estudo sobre a situação na província de Cabo Delgado, onde se situa o projecto.
A retoma do projecto, cujo investimento é estimado em, pelo menos, 20 mil milhões de dólares, está dependente da TotalEnergies, que detém 26,5% do empreendimento, e essencialmente dos receios da major francesa em evitar que os custos aumentem. Embora “os empreiteiros estejam impacientes”, o consórcio que detém o projecto “levará o tempo que for necessário”.