Oito drones foram abatidos sobre a capital russa, num suposto ataque que o Kremlin classificou como “terrorista”. Kiev nega responsabilidade, mas diz que observou “com grande prazer”.
Vladimir Putin prometera aos cidadãos russos que a guerra na Ucrânia nunca ameaçaria as suas vidas mas, esta terça-feira, os moscovitas foram surpreendidos com um ataque de drones que atingiu a capital da Rússia e que o Kremlin classificou prontamente como um “ataque terrorista”. Ao mesmo tempo, a capital ucraniana, Kiev, foi alvo de um ataque aéreo, o terceiro em 24 horas.
O ataque na capital russa, negado por Kiev, terá atingido algumas das áreas mais abastadas de Moscovo, incluindo uma zona na parte ocidental onde Putin e a elite têm residências. Mais tarde, já no Kremlin, o Presidente da Rússia foi informado pormenorizadamente sobre o ataque, disse o porta-voz Dmitri Peskov.
O Ministério da Defesa da Rússia afirmou que oito drones enviados por Kiev foram abatidos ou desviados, embora o Baza, um canal do Telegram com ligações aos serviços de segurança, tenha dito que mais de 25 aparelhos não tripulados estiveram envolvidos no ataque.
Segundo o presidente da câmara de Moscovo, duas pessoas ficaram feridas enquanto alguns prédios de apartamentos foram brevemente evacuados. Vários moradores disseram ter ouvido estrondos, seguidos de cheiro a gasolina.
“Observamos os ataques com grande prazer e prevemos que o número de ataques irá aumentar, mas não temos qualquer ligação directa com eles”, disse o conselheiro da presidência ucraniana, Mikhailo Podolyak.
Durante uma transmissão em directo no canal de YouTube do jornalista russo Alexander Plushev, Podolyak comentou, a brincar, que o ataque a Moscovo se insere no “domínio da inteligência artificial”.
“Possivelmente, nem todos os drones estão prontos para atacar a Ucrânia e querem voltar aos seus criadores e perguntar-lhes porque é que os lançam contra as crianças da Ucrânia, contra Kiev”, afirmou Podolyak, acrescentando que o que se passa em Moscovo não tem qualquer importância para a Ucrânia e que o que o preocupa são as dezenas de drones e mísseis lançados contra Kiev só nos últimos dois dias.
“Ontem [segunda-feira], houve 11 ataques de mísseis balísticos Iskander em plena luz do dia, as nossas crianças correram a gritar para os abrigos. É isto que nos preocupa”, disse o conselheiro presidencial ucraniano.
Desde que a Rússia iniciou a invasão do país vizinho em Fevereiro do ano passado, a guerra tem sido travada predominantemente em território ucraniano, embora Moscovo tenha relatado alguns ataques no seu território, na sua maioria junto à fronteira entre os dois países. No início deste mês, dois drones explodiram sobre o Kremlin, num ataque que a Rússia classificou como uma tentativa de assassinato de Vladimir Putin.
Maxim Ivanov, deputado da Duma, a câmara baixa do Parlamento russo, disse mesmo que o ataque com drones desta terça-feira foi o mais grave em território russo desde a II Guerra Mundial e afirmou que nenhum cidadão poderá agora evitar o que diz ser “a nova realidade”.
“A sabotagem e os ataques terroristas da Ucrânia só vão aumentar”, disse outro deputado, Alexander Khinshtein, que pediu o reforço radical das defesas da Rússia.
Ao mesmo tempo que os drones eram abatidos sobre Moscovo, a Ucrânia sofria uma nova vaga de ataques aéreos que, segundo o Governo de Kiev, causaram quatro mortos e 34 feridos, incluindo duas crianças.
Na capital, as forças de defesa ucranianas disseram ter derrubado mais de 20 drones Shahed de fabrico iraniano, mas uma pessoa morreu e quatro ficaram feridas quando os destroços de um projéctil russo destruído atingiram um prédio de apartamentos, causando um incêndio, disseram autoridades locais.
Em Maio, a Rússia atacou Kiev 17 vezes com drones ou mísseis, principalmente à noite, numa aparente tentativa de minar a vontade de lutar dos ucranianos após mais de 15 meses de guerra.
Mas a Ucrânia diz que os sistemas de defesa antimíssil Patriot fornecidos pelos EUA têm uma taxa de interceptação de 100%.
“A Rússia está a tentar quebrar a nossa vontade. Para privar cidadãos pacíficos do seu sono e impedir que nós, o sector de segurança e defesa, nos preparemos para as tarefas importantes”, disse o ministro do Interior da Ucrânia, Ihor Klymenko numa alusão à provável contra-ofensiva da Ucrânia.